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Capital

Líder no ranking tem "escola nova" só para os melhores alunos do Enem

Ricardo Campos Jr. | 13/08/2015 16:36
Unidade II do Bionatus ainda não está cem por cento concluída e apenas a melhor turma está fazendo o ensino médio no prédio (Foto: Vanessa Tamires)
Unidade II do Bionatus ainda não está cem por cento concluída e apenas a melhor turma está fazendo o ensino médio no prédio (Foto: Vanessa Tamires)
Coordenador do Bionatus explica o método de classificação dos estudantes (Foto: Vanessa Tamires)
Coordenador do Bionatus explica o método de classificação dos estudantes (Foto: Vanessa Tamires)

Escolas brasileiras têm aberto unidades somente com os melhores alunos para garantir o topo do ranking do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). A prática, adotada principalmente em grandes estabelecimentos de ensino em São Paulo, tem como objetivo usar o resultado da prova como estratégia de marketing.

Denúncia feita pelo jornal o Estado de S. Paulo aponta que estabelecimentos têm mais de um CNPJ para aparecer várias vezes na listagem de desempenho. Com base na reportagem, colégios de Campo Grande questionam os ótimos resultados apresentados pelo Bionatus na prova. Pela primeira vez, a instituição aparece na lista subdividida em duas.

A unidade II da instituição teve apenas 67 candidatos inscritos e obteve as melhores pontuações em quatro das cinco avaliações do Enem (matemática, linguagens, ciências humanas e ciências da natureza). Ela perdeu apenas no quesito redação, cujo primeiro lugar coincidentemente ficou com o polo número I da empresa, que obteve a segunda melhor nota do Brasil.

O Bionatus I teve 106 alunos inscritos no exame, ou seja, a maioria dos concluintes do ensino médio da escola. Heber Fukushima, um dos coordenadores da instituição, não esconde que a unidade II, por enquanto, abraça somente a melhor turma de terceiro ano do estabelecimento.

Segundo ele, o prédio onde o segundo grau tem funcionado nos últimos 10 anos está pequeno. Como os donos da empresa pretendem abrir ensino fundamental a partir de 2016, foi necessário construir uma nova sede.

Apenas parte dessa dependência está concluída, o restante deve ficar pronto até o próximo ano letivo. “Somente a unidade II vai oferecer o ensino médio”, explica. A transição é recente, por isso que ano passado a escola só aparecia na lista com uma única sede, quando também ficou entre as melhores de Mato Grosso do Sul.

O coordenador explica que o ensalamento é refeito a cada duas semanas após a realização de simulados. Os estudantes melhores colocados são colocados na "turma A", única que já está instalada na unidade II. Na visão da instituição, a prática estimula os adolescentes a estudar para se manter sempre no topo enquanto facilita o trabalho dos professores a recuperar aqueles com mais dificuldades nas disciplinas para que eles também possam crescer.

Carlos Eduardo Pereira, professor de redação do Bionatus, questiona as críticas. “O que tem incomodado tanto? Nós gostaríamos de saber. Por que incomoda tanto uma escola com apenas dez anos de funcionamento em um estado com uma cultura predominantemente agrícola, que não tem histórico de universidades entre as melhores do país, ficar entre as primeiras do Brasil?”.

Professor de redação questiona as críticas feitas por outras escolas (Foto: Vanessa Tamires)
Professor de redação questiona as críticas feitas por outras escolas (Foto: Vanessa Tamires)

Dúvidas – Dono de uma escola em Campo Grande, que preferiu não ter o nome revelado, acredita que os mais prejudicados pela prática são, na verdade, os próprios estudantes e as famílias deles. “Os estabelecimentos que estão usando essa prática, não estão contando a verdade. É quase uma propaganda enganosa”, afirma.

“Nós diretores temos que dar um exemplo do que é ético e correto. A partir do momento em que a escola usa desses artifícios, está passando a mensagem de que o importante é ficar em primeiro lugar, não importa como”, pontua.

Especialista em educação e dono de uma escola em Campo Grande, Pedro Chaves dos Santos repudia a prática das “escolas fictícias“. “Eu fiquei estarrecido quando soube que algumas instituições estavam usando artifícios para ficar no topo do ranking do Enem. Para mim, isso é ilegítimo e falta de ética”, afirma.

Para ele, a nota do Enem pode não ser o único elemento para se avaliar a qualidade do ensino de uma escola, “mas com certeza é o mais importante e o mais usado”, diz.

“Algumas escolas mudam alguma coisa no nome. Os alunos que são excepcionais são inscritos em outro nome fantasia. Basta olhar a quantidade de alunos que faz a prova. A instituição tem 200 alunos no total, mas tem uma que fica melhor com apenas 20 inscritos”, pontua.

Para Lúdio Silva, coordenador pedagógico do Colégio Dom Bosco, um dos mais antigos da cidade, estar em primeiro lugar não significa, necessariamente, melhor qualidade de ensino. Ele sugere que os pais não analisem apenas o ranking ao matricular os filhos no ensino médio.

“A educação não se resume à ambição de alcançar os primeiros postos no ranking do Enem. Educar é preocupar-se com o desenvolvimento integral, com o exercício ético futuro da profissão escolhida, com a solidariedade, com o desejo de construir um futuro melhor. O ambiente escolar precisa ser propício às novas amizades, ao companheirismo", opina.

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