ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, SEXTA  29    CAMPO GRANDE 24º

Capital

Mães denunciam ao MPE abusos em partos e cobram humanização

Lidiane Kober | 20/08/2014 19:12
Mães cobram direito a humanização do parto (Foto: Marcos Ermínio)
Mães cobram direito a humanização do parto (Foto: Marcos Ermínio)

Em audiência com o MPE (Ministério Público Estadual), mães denunciaram, nesta quarta-feira (20), abusos nos partos, realizados em hospitais de Campo Grande, e cobraram mais humanização, em conformidade com o programa federal Rede Cegonha. Há casos de mães “forçadas” a realizar cesariana, de ficar isoladas na hora do parto e teve mulher que correu risco de morte por ser submetida a procedimento ultrapassado.

Presidente da Associação Artemis, a mestre em saúde pública Raquel Marques relatou a maioria dos casos de abuso. Segundo ela, em 2012, no Hospital Regional, uma mãe foi submetida a procedimento ultrapassado, que consiste em “espremer” a mulher “como se fosse uma pasta de dente” para nascer a criança.

“Ela teve ruptura uterina e até hoje enfrenta problemas graves”, contou. Segundo Raquel, o procedimento pode até levar ao óbito. Em outro caso, o médico abandonou a mãe no meio do parte por não aceitar realizá-lo em cima de uma banqueta. “A mãe tem o direito de realizar o parto aonde se sentir mais confortável”, frisou.

Outro relato de Raquel conta a história de uma mãe, de 16 anos, que foi obrigada a sair debaixo do chuveiro e ofendida pela equipe médica. “Com muitas dores, ela foi para debaixo do chuveiro para aliviar e foi praticamente arrastada à mesa de cirurgia”, relatou. “Isso pode ser comparado a um abuso”, emendou.

Em depoimento emocionando, Klaudia Bitencourt contou a história de outra mãe, ainda internada. “Ela suplicou por parto normal, queria pelos menos esperar pelos primeiros sinais, mas esse direito lhe foi negado”, afirmou.

A mesma mãe, após o parto, ficou isolada das 17h às 22h. “Esconderam a mulher e o bebê da família por cinco horas”, lamentou Klaudia. “Nem a um presidiário é permitido permanecer incomunicável”, comparou Raquel.

Klaudia também foi vítima de problemas, mas no pós-parto. “O procedimento foi realizado pela minha obstetra, ocorreu tudo bem, mas o pediatra de plantão não obedeceu os procedimentos preconizados e não recebeu meu bebê como deveria”, contou.

Mães se unem na luta para acabar com abusos na hora do nascimento dos filhos (Foto: Marcos Ermínio)
Mães se unem na luta para acabar com abusos na hora do nascimento dos filhos (Foto: Marcos Ermínio)
Raquel denunciou abusos e promotora promete investigar (Foto: Marcos Ermínio)
Raquel denunciou abusos e promotora promete investigar (Foto: Marcos Ermínio)

Ainda na audiência, a presidente da Artemis apontou caos nas maternidades. “Mães nos relatam que o HU (Hospital Universitário) parece um presídio, um lugar sujo, nem banheiro funciona. A Santa Casa também é inadequada, tem camas quebradas”, exemplificou.

Representando a direção do HU, a médica Claúdia Lang classificou a denúncia como “caso pontual”. “No geral, a avaliação das mães é boa”, assegurou. Ela disse ainda que a unidade está implantando a Rede Cegonha e já teve do Governo Federal liberação para reformar o setor de partos para tornar o ambiente mais acolhedor.

“Até o primeiro semestre do ano que vem, deveremos instalar a nossa primeira banheira como uma opção de parto e estamos aguardando a nossa vez de efetivar a reforma”, ressaltou. Outra luta é resolver o déficit de funcionários. Por mês, o HU realiza, em média, 100 partos.

Principal maternidade da Capital, com 500 partos mensais, a Cândido Mariano relatou, na audiência, dificuldades financeiras e atribuiu a isso a falta de mais investimentos. “Enfrentamos prejuízo mensal de R$ 200 mil e a prefeitura nunca nos ajudou”, disse o diretor-presidente Alfeu Duarte de Souza.

Rede Cegonha – De acordo com o programa do Governo Federal, a mãe tem o direito de escolher entre parto normal ou cesariana; tem o poder de decidir a posição do parto, tem direito a acompanhante, a realizar o clampeamento (corte do cordão umbilical) apenas após o término da pulsação e alimentar o bebê antes do procedimento.

Com a audiência de hoje, o MPE espera auxiliar os gestores públicos na formulação e execução de políticas para garantir os direitos da mulher ao parto humanizado, bem como formar convicção para apurar possível violação do direito a mulheres campo-grandenses.

Nos siga no Google Notícias