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Capital

Marcado por escândalos, câncer traz sofrimento, mas dá vida nova

Aliny Mary Dias | 26/07/2014 08:54
Fátima faz questão de expor todas as fotos delas pela casa (Foto: Marcos Ermínio)
Fátima faz questão de expor todas as fotos delas pela casa (Foto: Marcos Ermínio)

Nos últimos tempos, ao ouvir a palavra 'câncer', o campo-grandense ficou habituado a relacionar o assunto com operações policiais, corrupção, desvio de recursos e mortes. Depois de casos que vieram à tona após a operação Sangue Frio da Polícia Federal, em 2013, e neste mês mortes após sessões de quimioterapia na Santa Casa, a reportagem foi em busca de histórias que retratam a realidade de quem descobre o câncer, passa pelo tratamento e pode, enfim, comemorar a cura.

E logo no contato com a primeira personagem, a agente de saúde Fátima Mohamad Fattah, 52 anos, não foi difícil esquecer de todos os escândalos que envolveram a doença ultimamente e reservar alguns minutos para ouvir os relatos de quem viveu intensamente tudo o que o câncer traz para a vida de quem é surpreendido pela doença: o medo, a descrença, a força e a alegria.

Vaidosa, com os cabelos longos, frequentadora assídua de festas e bailes e preocupada com a saúde. Essa era Fátima antes de descobrir o câncer de mama. Na verdade, o que mudou agora é que os longos cabelos castanhos deram lugar a um grisalho curto e sofisticado.

A história da agente de saúde com o câncer começou em dezembro de 2012, foi em um exame de rotina, que ela estava habituada a fazer desde que completou 40 anos, que os médicos encontraram dois nódulos no seio esquerdo. Diante da alteração, a equipe médica pediu para que Fátima repetisse a mamografia e em janeiro ela precisou fazer uma nova bateria de exames, já no Hospital do Câncer Alfredo Abrão.

Fátima retirou a mama esquerda durante o tratamento (Foto: Marcos Ermínio)
Fátima retirou a mama esquerda durante o tratamento (Foto: Marcos Ermínio)

No dia 6 de fevereiro do ano passado, data que ela guarda na memória como um aniversário, o médico disse não ter gostado do que havia visto em uma biopsia e após oito dias veio o diagnóstico: Fátima estava com câncer de mama.

“Eu estava sozinha com o médico na sala e ele me disse que precisaria retirar a mama. Eu chorei muito, ainda mais por ser o seio, uma coisa tão importante para a mulher. Apesar daquele medo, o médico se levantou da cadeira, me abraçou e disse que eu não era só um seio e que sim eu era um ser muito mais completo”, foi a partir dali que a agente de saúde ergueu a cabeça e resolveu enfrentar a doença com positividade e colocou fim às lamentações.

No dia 20 de março, lá foi Fátima para a mesa de cirurgia. Ela retirou totalmente a mama esquerda e ao se ver no espelho a única coisa que perguntou ao médico foi: “E agora, qual é o próximo passo?”. A quimioterapia começaria no mês seguinte, mas antes ela precisou enfrentar a separação do marido e enfrentou tudo com o apoio da filha de 20 anos.

Considerada a parte mais difícil do tratamento, a quimioterapia se estendeu durante seis sessões e em algumas semanas a queda de cabelo, tão temida pela maioria dos pacientes, fazia parte da vida de Fátima. “É a parte mais complicada pelas reações que o corpo tem e pelo fato do cabelo cair, mas eu enfrentei isso de frente”, brinca.

Quando os primeiros tufos de cabelo começaram a se desprender do couro cabelo, ela não teve dúvidas, desceu do ônibus que estava, entrou em um salão de beleza perto de casa e pediu à cabeleireira para que a tesoura desse lugar à máquina. “Eu pedi para ela cortar, mas ela é minha amiga e não quis fazer isso, então passei a máquina dois e depois fui até a casa de uma amiga que também teve câncer e passei a máquina zero”.

A foto de quando ela estava careca está bem na entrada da porta de casa, à vista de todos (Foto: Marcos Ermínio)
A foto de quando ela estava careca está bem na entrada da porta de casa, à vista de todos (Foto: Marcos Ermínio)

Fátima se desfez do lenço em poucos dias, não queria ter aquela “cara de doente” que via nos outros nas filas do hospital. E foi aí que as lágrimas deram lugar ao rímel e a tristeza ao batom. A agente de saúde, que agora está no processo de aposentadoria e estuda Pedagogia na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), continuou passando pela bateria de exames e a tão esperada notícia da cura está quentinha, saiu no mês passado.

“Depois de mais exames, o médico me disse que eu estava curada. Foi uma felicidade imensa, apesar de eu ter que fazer exames a cada seis meses, sei que agora é vida nova, mas faço questão de lembrar de tudo o que eu passei e dizer para as pessoas que não podem desistir da vida, temos que acreditar em Deus e pedir forças”.

Além de tantas outras definições, Fátima é uma mulher que fez questão de procurar um estúdio fotográfico e fazer uma sessão de fotos assim que o cabelo começou a crescer, na verdade, ninguém diz que Fátima teve câncer, o que ela teve foi a oportunidade de se redescobrir e ter uma nova vida.

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