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‘Me senti impotente’, conta diarista que viu pai morrer sem vaga em hospital

Nivaldo morreu em UPA em 2015 esperando por leito em UTI, no mesmo fim de semana que Luciano Huck e a família sofreram acidente aéreo; privilégio aos famosos foi citado para que a família dele conseguisse indenização

Anahi Zurutuza | 24/02/2017 21:21
Nilma Fernandes se emociona ao falar do pai (Foto: Alcides Neto)
Nilma Fernandes se emociona ao falar do pai (Foto: Alcides Neto)
E exibe orgulhosa a foto do agricultou que
E exibe orgulhosa a foto do agricultou que

Nivaldo Fernandes tinha 65 anos quando passou mal num sábado pela manhã na casa da filha, Nilma Fernandes, 38, quando foi levado para UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Universitário e de lá, não saiu com vida. Dos cinco dias que passou em um dos leitos do posto que deveria servir apenas para os primeiros socorros, o pequeno produtor rural contou com as mãos de enfermeiros e técnicos para que ar fosse injetado em seus pulmões e assim pudesse lutar pela vida.

“Foi desesperador, ficar lá vendo ele piorar e não poder fazer nada. Só foram conseguir um respirador [mecânico] para ele na terça-feira à noite”, conta a filha, que por decisão do juiz José Ale Ahmad Netto, da 4ª Vara de Fazenda Pública e Registros Públicos, deverá ser indenizada R$ 120 mil pela Prefeitura de Campo Grande e Governo do Estado que não garantiram ao paciente o atendimento adequado.

Nilma fez o que podia enquanto o pai estava vivo. Foi à Justiça, conseguiu uma liminar que obrigava o poder público a transferi-lo para uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), fosse ela mantida pelo SUS (Sistema Único de Saúde) ou na rede privada. “Ele chegou às 10h30 do sábado na UPA e às 15h do domingo eu já tinha o papel que salvaria a vida dele. Mas, a ordem [judicial] não valeu de nada. Me diziam que não tinha vaga, nem em hospital particular”.

Apesar do sofrimento de ter perdido o pai sem conseguir que ele ao menos tivesse atendimento digno, a diarista não desistiu. Foi atrás de orientação e de novo foi buscar no Judiciário uma forma de amenizar a dor, mesmo que seja garantindo que o caso dela sirva de exemplo para que outras famílias não passem pelo mesmo. “O dinheiro não vai trazer ele de volta, mas a morte dele não será em vão”.

Foi com o pai que a diarista aprendeu a ter forças para sempre ir até o fim, revela Nilma. “Tem hora que é difícil ser forte, tem hora que a gente não aguenta, mas é assim que tem de ser”.
Nivaldo deixou a filha, a companheira de 40 anos e o neto, de 11 anos, que chora a falta do avô-pai até hoje. Deixou também um sítio em Bela Vista – a 322 km de Campo Grande – que levou dez anos para construir.

Fachada da UPA do bairro Universitário, onde Nivaldo morreu (Foto: Arquivo)
Fachada da UPA do bairro Universitário, onde Nivaldo morreu (Foto: Arquivo)

O caso – Nivaldo passou mal no dia 23 de maio de 2015, um sábado, foi socorrido pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e levado para a UPA por volta das 10h. A filha foi informada pelos médicos naquele dia que ele precisava ser transferido para um hospital, mas que não havia vagas na rede.

No dia 24, Nilma conseguiu a liminar que determinava a transferência do pai, mesmo dia que aconteceu a pane com o avião onde estavam Luciano Huck, Angélica, os filhos e as babás e a aeronave precisou fazer pouso forçado na Capital.

A diarista só não imaginava que o excesso de preocupação com os famosos, faria outros pacientes da rede de atendimento em Campo Grande padecerem.

Pelo noticiário, Nilma ficou sabendo que uma ala inteira da Santa Casa foi reservada para os famosos, que não tiveram ferimentos graves

Nivaldo morreu às 5h do dia 27 sem conseguir a transferência.

Indenização – A família do agricultou foi à Justiça contra os gestores dos SUS – Estado e município – e no dia 22 de fevereiro conseguiram direito à indenização.

A defesa da Nilma cita o fato da Santa Casa ter recusado pacientes no mesmo dia que a família Huck era atendida, dentre os outros argumentos sobre um fim de semana de colapso na rede.
“Sem entender o porquê de tanto descaso do Poder Público, somado a parcialidade em dar preferência a vidas de famosos em detrimento de vidas de pessoas pobres do Estado, só restou rezar e aguardar a tão necessitada vaga, enquanto acompanhavam os noticiários”, alegaram os advogados sobre os dias de sofrimento da família na UPA.

Avião fez pouso forçado em uma fazenda. (Foto: Arquivo)
Avião fez pouso forçado em uma fazenda. (Foto: Arquivo)

Pane - O avião que transportava os apresentadores globais Luciano Huck, Angélica e seus três filhos fez pouso forçado nas proximidades a rodovia MS-080, a 6 km do córrego Ceroula, na Fazenda Palmeira, área rural de Campo Grande. Eles vinham de Miranda para a Capital, de onde seguiriam viagem em outra aeronave. Nenhum deles se feriu gravemente e no mesmo dia tiveram alta da Santa Casa.

A família, as babás, o comandante Osmar Frattini e o copiloto estavam em um avião modelo EMB 821 Carajá, prefixo PT ENM.

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