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Capital

Morte amplia reclamação de moradores contra casa de shows

Luciana Brazil | 29/10/2012 15:27
Casa vira palco de brigas judiciais por pertubação de sossego. (Foto:Rodrigo Pazinato)
Casa vira palco de brigas judiciais por pertubação de sossego. (Foto:Rodrigo Pazinato)

Após o assassinato do jovem Ike Cezar Gonçalves, 29 anos, por um policial militar, na madrugada do último domingo (28), em frente à casa de shows Santa Fé, na rua Brilhante, em Campo Grande, os vizinhos do estabelecimento reclamam, mais uma vez, do que consideram uma rotina de desrespeito, que enfrentam cinco vezes por semana.

De quarta a domingo, dormir passou a ser uma missão quase impossível, afirmam os moradores. Na noite em que Ike morreu, alguns moradores chegaram a ouvir os tiros que levaram à morte o jovem que hoje, no dia de seu enterro, completaria 30 anos. “Eu ouvi pelo menos cinco tiros no dia que o rapaz morreu”, disse a senhora que preferiu não ter o nome divulgado, como a maior parte dos moradores.

No domingo, apesar do crime, a casa abriu as portas, o que espantou os moradores. “Eu pensei que pelo menos ontem não fosse funcionar. Achei uma falta de respeito”, relatou um vizinho.

“Urinam na minha porta, como se aqui fosse banheiro público. A morte desse homem é culpa da prefeitura, do governo e da justiça”, disparou o funcionário da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Mario Marcio Cabrera de 50 anos, que mora na lateral do estabelecimento.

Por causa das constantes confusões em frente ao local, e também nas redondezas da boate, o crime acabou passando como apenas mais um tumulto, o que não despertou a curiosidade dos moradores.

Som alto, veículos em alta velocidade, gritaria, dentro e fora da casa, sujeira, consumo de bebida alcoólica, além de outras situações mais graves como cenas explícitas de sexo, são rotineiras nas proximidades da boate, segundo os vizinhos do local.

Palco de brigas judiciais, a casa chegou a ser fechada em 2011 devido a uma ação civil pública impetrada pelo MPE (Ministério Público Estadual). Em abril deste ano, o estabelecimento foi reaberto e o MPE recorre da decisão judicial.

Quando as portas foram abertas, além do MP, outros quatro processos particulares foram iniciados. A prefeitura, responsável pelo licenciamento ambiental, além do alvará de funcionamento, é tida como a ré dos processos. Porém, na última sexta-feira (26), por determinação judicial, os processos particulares foram extintos.

Depois de mudar de casa, morador dorme no chão e fecha a escola.
Depois de mudar de casa, morador dorme no chão e fecha a escola.

Muito revoltado, Cabrera diz que não entende a decisão. "A pergunta é simples: Qual é a lógica dessa história? A Expogrande acontece uma vez por ano e durante uma semana e fechou. Por que a Santa Fé pode continuar aberta, já que traz tantos problemas?", questionou Cabrera.

Em tom de protesto ele continuou. "Vamos perguntar para os secretários e outras pessoas, o que eles fariam se toda noite mais de duas mil pessoas invadissem a sua rua, que é calma e tranquila, e não deixassem eles dormir? Essas pessoas não vem aqui para rezar”.

Segundo ele, a boate não tem isolamento acústico. “A gente ouve tudo. A cada três minutos eles gritam. Quando acaba uma música eles gritam e quando começa outra também”.

Cabrera explica que a casa de shows teria conseguido uma licença ambiental neste ano antes mesmo de abrir a empresa representante. “A licença ambiental foi dada pela Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) no dia 11 de abril e a empresa só foi criada no dia 16 de abril. Como eles conseguiram a licença ambiental que só é dada para empresas?”

A luta, segundo os moradores, não é pessoal, mas sim contra as irregularidades, começando pela perturbação de sossego. “Não sou contra cada um ganhar o seu dinheiro, não quero que ninguém deixe de se divertir, mas eu não posso sofrer com isso”, disse Cabrera.

Outro morador de 75 anos, que não quis se identificar, afirmou que em termo de bagunça é difícil dizer o que não acontece por ali. "Sempre tem alguma coisa. Cavalo de pau, tiro, além de muita bagunça".

Por causa das circunstâncias, Cabrera precisou deixar a casa onde morava e se mudou com um colchão para a pequena sala de aula onde dava preparação para concursos. Apesar de ser no mesmo terreno, ele lamenta a vida que tem levado. 

"É desumanidade. O que ocorre é agressão com pessoas idosas, que moram aqui perto, com a anuência da prefeitura, da polícia e do governo e da justiça, por causa da demora nos processos".

As queixas contra a casa de show são inúmeras, segundo os moradores. Vários Boletins de Ocorrência já foram feitos, mas tudo continua igual.

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