ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 31º

Capital

Mudança na favela tem moradores divididos por cor e unidos por dúvidas

Aline dos Santos | 09/03/2016 13:07
Tereza tem as trouxas prontas e medo de ir para longe. (Foto: Fernando Antunes)
Tereza tem as trouxas prontas e medo de ir para longe. (Foto: Fernando Antunes)
Barracos foram mapeados por equipes da prefeitura. (Foto: Fernando Antunes)
Barracos foram mapeados por equipes da prefeitura. (Foto: Fernando Antunes)

Divididos por cores e unidos pela incerteza. Assim anda a vida na favela que leva o nome de Deus, mas cujo destino depende da prefeitura de Campo Grande. No terceiro dia da operação para remoção de 390 família, somente 25 já deixaram o local. Numa projeção, serão 45 dias para que todas deixem a área no bairro Dom Antônio Barbosa,que deve dar espaço a uma cortina arbórea em frente ao lixão.

Em meio a um cenário de caminhões de mudança, guardas municipais e moradores divididos nas cores rosa, azul e laranja, que tonalizam números nos barracos, Tereza de Araújo, 71 anos, procurou a equipe que organiza a retirada com uma súplica.

“Não quero ir para muito longe, moro sozinha , tomo remédio controlado”, pede. A prefeitura informa que não divulgará os demais endereços por conta do risco de invasões. O silêncio fomenta boatos, que vão desde uma área no Nova Lima até que um grupo não terá local para onde ir.

Com renda de um salário mínimo, atualmente reduzida a R$ 340 por conta de empréstimo consignado, Tereza vive num barraco sem banheiro em que o fogão fica a três passos da cama. As trouxas para mudança estão prontas, mas ela não tem ideia de quando será e nem para onde vai.

No compasso de espera, os moradores hesitam em arriscar se a mudança será boa ou ruim. Eles deixam moradia precária, iluminadas pelos perigosos “gatos” e cercada de lixo para um novo barraco, desta vez com lona doada pela prefeitura e água e energia elétrica regularizados.

“É bom e não é. É ruim que vai para outra favela. Mas o terreno vai ser nosso”, diz Luciana, que não sabe data em que deixará a Cidade de Deus. (Foto: Fernando Antunes)
“É bom e não é. É ruim que vai para outra favela. Mas o terreno vai ser nosso”, diz Luciana, que não sabe data em que deixará a Cidade de Deus. (Foto: Fernando Antunes)
Operação para retirada de famílias entrou no terceiro dia. (Foto: Fernando Antunes)
Operação para retirada de famílias entrou no terceiro dia. (Foto: Fernando Antunes)

“É bom e não é. É ruim que vai para outra favela. Mas o terreno vai ser nosso”, afirma Luciana Cristina Gonçalves, 29 anos. Ela conta que há quase uma década está na lista à espera da casa própria e há três anos mora na favela com o maridos e quatro filhos.

Grávida, Deise Campos, 21 anos, relata uma vida em condições precárias. “Só Deus sabe o que passei. Já ficamos mais de uma semana sem luz”, diz.

A operação de retirada, que cumpre decisão judicial de reintegração de posse solicitada pela prefeitura, envolveu cerca de 450 pessoas na segunda-feira (dia 7), data em que foi deflagrada. Hoje, são 390 envolvidos.

De acordo com o comandante da Guarda Municipal, major Marcos Escanaichi, é a maior ação realizada pela guarda em Campo Grande. O efetivo é de 225 pessoas por dia. “É 24 horas e vamos permanecer pelo período necessário”, diz.

O centro de operações foi montado em uma tenda em que ares condicionados suavizam o calor e fardos de refrigerante e caixas com rádios de comunicação sinalizam longa estadia. Na manhã desta quarta-feira (dia 9), um morador de 31 anos foi detido. Uma motocicleta com registro de roubo foi encontrada durante o desmanche do barraco e ele tentou fugir.

De acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura, terão subsídio para pagar o terreno, parcelado em 300 vezes, as famílias terão direito a empréstimo no banco Canindé, da Funsat (Fundação Social do Trabalho) para adquirir material de construção.

Nos siga no Google Notícias