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Capital

Na Capital do 'hotel pontilhão', meta é zerar população de rua em 100 dias

Sem poder retirar pessoas à força, trabalho é de convencimento

Aline dos Santos e Yarima Mecchi | 21/01/2017 11:38
"Hotel pontilhão" tem colchões e clientes fixos. (Foto: André Bittar)
"Hotel pontilhão" tem colchões e clientes fixos. (Foto: André Bittar)
Luciano diz que consumo de droga pesa na escolha entre o Cetremi e a rua. (Foto: André Bittar)
Luciano diz que consumo de droga pesa na escolha entre o Cetremi e a rua. (Foto: André Bittar)

No plano dos primeiros 100 dias da nova gestão, a prefeitura pretende retirar todos os moradores de rua da região central de Campo Grande.

Sexta-feira (20), em visita surpresa ao Cetremi (Centro de Triagem e Apoio ao Migrante), o prefeito Marquinhos Trad (PSD) anunciou a meta, mas reforçou que não pode “trazer o cidadão à força”, retratando que o desafio será o convencimento.

Neste sábado (dia 21), o prefeito afirmou que pretende fazer reformas no local, como criação de alas masculina e feminina. “Realmente, tem muitos problemas e pretendo resolver a estrutura. Sou suspeito para falar, mas as pessoas estão dizendo que a comida está melhor, que antes não tinha banho quente”, diz Marquinhos.

Atualmente, a administração municipal ainda não tem levantamento do total de pessoas em “situação de rua”, mas, no decorrer dos anos, o Campo Grande News registrou essa evolução. Pesquisa divulgada em 2015 pelo Conselho Comunitário de Segurança da Região Central mostrou aumento de 116% no comparativo entre 2011 e 2014. O problema social, que também exibe o drama dos usuários de droga, se espalha pelo Centro, Orla Ferroviária, praças e ruas.

Um exemplo da dificuldade em retirar as pessoas da rua é encontrado a curta distância do Cetremi, na saída para Três Lagoas. Muitos preferem passar dias e noites debaixo do viaduto à permanecer no centro de apoio.

O “hotel pontilhão” teve grande público no fim de 2016, quando o Cetremi fechou por falta de funcionários, que foram proibidos de trabalhar quando a Justiça suspendeu o contrato da prefeitura com a Omep (Organização Mundial pela Educação Pré-Escolar) e Seleta Sociedade Caritativa e Humanitária. No clima da solidariedade do fim de ano, o local virou ponto de doações.

Panela, colchão e mesa são rastros da vida diária de quem mora na rua. (Foto: André Bittar)
Panela, colchão e mesa são rastros da vida diária de quem mora na rua. (Foto: André Bittar)
Marquinhos (de camisa branca) fez visita ontem ao Cetremi. (Foto: André Bittar)
Marquinhos (de camisa branca) fez visita ontem ao Cetremi. (Foto: André Bittar)

A situação foi revertida, o Cetremi reabriu, mas, na manhã de hoje, por exemplo, cerca de dez pessoas dormiam no viaduto. A maioria é de homens adultos, mas também se avista mulher e idoso.

Na escolha entre os locais, pesa o consumo de drogas, vetado nas dependências do centro de apoio. “O problema é que tem muita regra lá dentro e querem colocar nas ruas também”, afirma Luciano Ribeiro Gomes, 32 anos.

Vindo de Dourados, ele está há quatro meses em Campo Grande. Luciano conta que dorme no Cetremi e acha legítima a proibição às drogas. Contudo, avalia que a conduta do portão para fora deveria ser livre.

“Do portão para fora, faz o que quiser”, diz o morador de rua. Ele conta que é usuário de maconha, pasta-base e álcool. Luciano dorme no Cetremi e por volta das 11h30 estava no pontilhão, onde passava o tempo à espera do almoço no centro de apoio.

A prefeitura não pode recolher os pedintes, pois a constituição garante o direito de ir e vir. Portanto, o trabalho será de convencimento. A situação é diferente no caso das crianças, que devem ser levadas para os órgãos de assistência.

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