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Capital

Na periferia, moradores acham que já houve motivo pior para manifestações

Quem não foi ao protesto diz que crise ocorreu mesmo no governo do ex-presidente José Sarney (PMDB)

Caroline Maldonado | 15/03/2015 19:28
"Crise foi no governo do Sarney, que você ia no mercado e não podia comprar uma carne um leite", comenta o motorista Gilvan Pontes Ferreira, 45 anos (Foto: Marcelo Calazans)
"Crise foi no governo do Sarney, que você ia no mercado e não podia comprar uma carne um leite", comenta o motorista Gilvan Pontes Ferreira, 45 anos (Foto: Marcelo Calazans)

Eles acham que a situação econômica do País está ruim e sentem os impactos no bolso, mas não a ponto de participar da manifestação a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), que reúne milhares de pessoas na Avenida Afonso Pena, na tarde deste domingo (15). Também não estiveram na sexta-feira (13) no protesto organizado pelas entidades sindicais em apoio à Petrobras.

Entre os moradores de bairros da periferia de Campo Grande, muitos não se envolvem por acreditar que o País já teve momentos piores ou porque a crise está no início e os governantes merecem um crédito nos próximos meses.

Na região do bairro Coronel Antonino, o motorista Gilvan Pontes Ferreira, 45 anos, lembra o governo do ex-presidente José Sarney (PMDB), entre 1985 e 1990, quando fala dos altos preços. "Crise foi no governo do Sarney, que você ia no mercado e não podia comprar uma carne um leite. Hoje você consegue comprar essas coisas, pode sair. Está caro sim, mas são os reajustes que têm que ser feitos e agora vamos esperar os próximos meses, mas essa não é jamais a pior crise do Brasil", comenta o motorista, ao reconhecer que é preciso pressionar o governo, mas sem desconsiderar o resultado da eleição. "O povo pôs a Dilma lá. Então, agora não tem porque tirar", disse.

O comerciante Luíz de Melo, que mora no bairro Maria Aparecida Pedrossian, tem a mesma opinião quando se trata da intensidade da crise, apontada pelos manifestantes. "Já teve momentos piores na economia, em que a gente não podia comprar tudo que precisava", diz. Para ele, impeachment está fora de cogitação. "Acho que tirar a Dilma não muda nada, porque quem vai assumir é o vice-presidente, o Michel Temer, que é do PMDB", afirma o comerciante.

Com 34 anos, a micro-empresária Denise Leite da Silva sente que a situação econômica está crítica sim e até iria na manifestação se não tivesse que trabalhar hoje, embora acredite que nada disso terá algum efeito. "Ela ficando ou saindo vai ser a mesma coisa. Qualquer um que ficar no lugar, vai roubar", reclama, ao lembrar que sabe que o Brasil já teve tempos bem piores, porque ouve comentários de quem tem mais idade. "Para mim, que sou nova está ruim demais, mas os mais velhos falam que antes era pior".

A roubalheira no governo incomoda também a comerciante Clotilde Passos Santos, 47 anos, mas ela isenta a presidente Dilma, quando o assunto é o culpado por tanto reajuste. "As coisas estão ficando caras há muito tempo, isso é de antes do Lula, mas agora veio à tona e a má sorte foi da Dilma, de acontecer esse roubo na Petrobras, porque é isso que estamos pagando", destaca Clotilde, que mora no bairro Monte Castelo. Ela acredita que, em todo caso, a manifestação é válida. "Eu acho que pela pressão que estão fazendo vai melhorar. A Dilma vai fazer algo ou ela mesmo vai resolver sair", prevê.

O moto-taxista Paulo Honório da Silva, que mora no bairro Guanandi, também não culpa a presidente. "Uma andorinha só não faz verão. São vários partidos corruptos, não é só o PT", diz. Ele comenta que até iria no protesto, porque acha que vale a pena. "Está tudo muito caro, em especial para quem tem família grande, mas o problema não é a Dilma".

"O protesto está mal direcionado. Eles têm que ver bem o que exatamente eles querem. Não acredito em um salvador da pátria", analisa Genésio Almeida, 56 anos (Foto: Marcelo Calazans)
"O protesto está mal direcionado. Eles têm que ver bem o que exatamente eles querem. Não acredito em um salvador da pátria", analisa Genésio Almeida, 56 anos (Foto: Marcelo Calazans)
Paulo Honório da Silva, que mora no bairro Guanandi também não culpa a presidente. "Uma andorinha só não faz verão (Foto: Marcelo Calazans)
Paulo Honório da Silva, que mora no bairro Guanandi também não culpa a presidente. "Uma andorinha só não faz verão (Foto: Marcelo Calazans)

"Mas quem vai ficar lugar da Dilma se ela sair?". A questão é o primeiro comentário que vem de quem não foi à manifestação hoje. Isso, porque muitos não dão credito ao vice-presidente e nem conseguem pensar em outro candidato caso houvesse nova eleição. "O protesto está mal direcionado. Eles têm que ver bem o que exatamente eles querem. Não acredito em um salvador da pátria", analisa Genésio Almeida, 56 anos.

Entre os mais jovens, que não fizeram questão de ir na manifestação, mas querem que a presidente saia, os comentários são mais genéricos e alguns chegam a ficar confusos na hora de elencar os principais problemas do atual governo. "Acho que deveria melhorar a educação, a saúde, a segurança, está tudo horrível", diz a estudante Natália Oliveira Caetano, 15 anos. A amiga dela, Ana Carolina Camargo, 16 anos, fala até em passe livre para todo mundo nos ônibus circulares. "Claro que não, como que vão pagar os motoristas", retruca Natália. Por fim, as colegas assumem que opinar sobre a crise é complicado, mas querem mudanças, embora não tenham ânimo para protestar.

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