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Capital

Na rotina de catar para o pão de cada dia, trabalhadores acompanham bombeiros

Paula Maciulevicius e Viviane Oliveira | 29/12/2011 13:02

“Só se tiver em outro lugar... Mas para Deus, nada é impossível”, finaliza coordenador da Defesa Civil

Catadora começou a vida no lixão pelos filhos e agora compartilha a dor da mãe de uma criança perdida em meio ao lixo. (Foto: João Garrigó)
Catadora começou a vida no lixão pelos filhos e agora compartilha a dor da mãe de uma criança perdida em meio ao lixo. (Foto: João Garrigó)

A rotina de só ganha o que cata ficou para trás nesta quinta-feira. Parte dos trabalhadores deixou de procurar o ganha pão para acompanhar de cima ou debaixo as buscas pelo garoto de 9 anos desaparecido desde a tarde de ontem, depois de um desmoronamento no lixão.

A angústia ultrapassa o coração de pai e mãe e é sentido até mesmo por quem não estava lá no momento em que as toneladas de lixo cobriram o menino. Dona Elza Anete Alves Freitas, 52 anos, é antes de tudo mãe. Ser catadora foi justamente por influência dos filhos, quatro deles tiravam o sustento do lixão.

Sentada e com olhar distante, dona Elza esperava o caminhão da empresa de reciclagem ir buscar o que ela havia recolhido. Ao todo, 12 sacos de papelão. Mesmo estando em “expediente”, ela preferiu trabalhar a solidariedade, deixando de ganhar o percentual do dia.

“Naquelas condições, não dava. Você pensar que tem uma pessoa enterrada ali, e uma criança...”, ela mal termina a frase.

“Onde ele caiu eu nem vou, tenho medo, é preciso ficar atento o tempo todo”, completa.

A catadora é uma de vários que parou por conta do desmoronamento. E não é pelo medo de que um novo ocorra, é pela dor de saber que ali tem uma criança soterrada que tentou que seja por alguns minutos, respirar ar puro.

A escavação por conta das máquinas não para. O coordenador da Defesa Civil, Sebastião Rayol, comenta com pesar que ali o volume é muito grande. “É muito trabalho, têm oito operando, eles vão revezando, porque é muito pesado. Vamos sem pausa até encontrar esse corpo...”, diz.

Frases mal terminadas são respostas frequentes de quem não desejaria nunca estar realizando aquele trabalho ali.

“Só se tiver em outro lugar... Mas para Deus, nada é impossível”, finaliza Rayol.

Debaixo ou de cima, catadores param. O ganha pão pode esperar. (Foto: João Garrigó)
Debaixo ou de cima, catadores param. O ganha pão pode esperar. (Foto: João Garrigó)

História - O desmoronamento de parte do lixão soterrou o menino na tarde desta quarta-feira. Maikon, de 9 anos, estava junto com outras crianças num lugar chamado de barranco, uma espécie de buraco na montanha de lixo.

A busca começou por volta das 16h30, após trabalhadores verem a criança ser atingida por uma montanha de resíduos. No local estiveram três ambulâncias do Corpo de Bombeiros e uma do Samu (Serviço Móvel de Atendimento de Urgência).

Catadores de lixo que atuam no local viram quando as crianças estavam no barranco e um caminhão chegou para despejar entulho.

O lixo foi empurrado para o barranco por uma máquina, como é praxe e, nesse momento, conforme contaram os trabalhadores, houve o desmoronamento em direção às crianças. A maioria conseguiu escapar, menos duas, entre eles o garoto que está sendo procurado.

Segundo o relato feito pelos trabalhadores às equipes de socorro, o garoto que escapou conseguiu sair da montanha de lixo e fugiu. A presença de crianças no local é proibida, embora as denúncias sejam frequentes.

Onze trabalhadores estavam no barranco, considerado um lugar perigoso do lixão, e por isso poucas pessoas se arriscam a trabalhar lá. Segundo os catadores, o local está sem seguranças que impeçam a entrada de crianças, que é proibida.

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