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Capital

Para conselheira, instinto maternal faz mulheres serem maioria em disputa

Flávia Lima | 03/10/2015 10:15
Desafio de conselheiro é garantir a segurança e bem-estar das crianças e adolescentes. (Foto:Marcos Ermínio)
Desafio de conselheiro é garantir a segurança e bem-estar das crianças e adolescentes. (Foto:Marcos Ermínio)

Levantamento divulgado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República aponta que, em todo o país, 71,5% dos candidatos ao cargo de Conselheiro Tutelar são mulheres. A eleição acontece no neste domingo (4), de forma unificada, em todos os municípios brasileiros.

A pesquisa foi realizada em 52,3% dos municípios (2.656) e também identificou que, em relação à faixa etária, mais da metade dos interessados em ocupar o cargo tem entre 21 e 34 anos. Além disso, 70,4% concluíram o ensino médio, 22,5% têm formação em curso superior e 7,2% apresentam somente o ensino fundamental.

Segundo a presidente do CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança), Dalva Cisi, não há informação sobre a participação de Campo Grande no levantamento, porém, os 30 candidatos que irão disputar as 15 vagas de conselheiros tutelares também refletem o resultado da pesquisa.

Desse total, 24 são mulheres. Outra característica do perfil dos candidatos campo-grandenses é a de que a maioria exerce profissões ligadas a Justiça ou ao atendimento social, como Psicologia, Assistente Social e Direito.

Na opinião de Dalva Cisi, o sentimento maternal é o principal fato que leva as mulheres a serem maioria entre os candidatos.

“O conselheiro tutelar sempre encontra situações complexas para resolver e acredito que a mulher tem um instinto de proteção maior e uma sensibilidade mais aguçada para saber como encaminhar uma criança ou jovem em situação de risco”, ressalta.

Da mesma opinião compartilha a conselheira tutelar e fonoaudióloga Andréia Almeida Estevão, que está concluindo seu segundo mandato no Conselho Tutelar Sul, na Capital. Como não pode se candidatar novamente, ela espera seguir com a missão de orientar a população, dentro de sua área de atuação.

“A mulher está ocupando espaço cada vez mais em postos importantes. Com seu caráter conciliador, ela consegue ser esposa, mãe e orientadora. Todas essas características são importantes no momento de resolver um conflito e garantir um encaminhamento correto para a família”, explica.

Ter a formação em uma área ligada a assistência social é importante, pois já denota o perfil de ajudar ao próximo, mas segundo Andréia, acima de tudo é fundamental ter vocação para saber ouvir. “A carga emocional é grande e há muita pressão de todos os lados, mas você precisa manter a calma e ter o discernimento para resolver as questões por que o conselheiro é procurado quando a família está desesperada e não tem mais a quem recorrer”, diz.

A maior parte dos casos que chega nos conselhos tutelares é relacionada a abuso sexual e menores que fogem de casa. Mesmo buscando um distanciamento para agir com sensatez, Andréia afirma que não há como manter uma postura fria, pois a sensibilidade é fator determinante para o sucesso do encaminhamento.

Ela cita como exemplo, o caso de uma jovem, vítima de abuso sexual que engravidou e desejava abortar. Encaminhada por ela ao projeto Dar a Luz, da Vara de Infância e Adolescência, a adolescente não só desistiu do aborto, como também da adoção, assumindo o bebê.

“O projeto preconiza que ela dê a luz e, caso deseje, entregue a criança para a adoção, mas o trabalho das psicólogas e assistentes sociais, aliado a nossa parceria deu tão certo que ela ficou com o filho”, conta.

Para Andréia, o prazer de auxiliar o próximo e garantir a solução adequada para cada situação compensa as críticas da sociedade. “É difícil para as pessoas entenderem que os conselheiros não podem simplesmente tirar uma criança de casa porque ela sofre maus tratos. Há todo um trâmite e investigação que precisa ser feita até que a Justiça decida sobre a questão”, afirma.

No entanto, durante os sete anos que atuou como conselheira, ela acredita que não houve uma evolução do trabalho na Capital. Com base na deliberação do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e Adolescente) seria necessário um Conselho Tutelar a cada 100 habitantes.

Com quase 1 milhão de habitantes, Campo Grande, segundo a conselheira, merecia ter oito conselhos. Porém, atualmente o número não passa de três, distribuídos nas regiões norte, sul e centro, o que deixa os 15 conselheiros sobrecarregados, já que nem sempre há suplentes para substituir o conselheiro em caso de doença.

“Tudo isso torna nossa trabalho mais complicado. A infância é muito preciosa, se acontece algo grave nessa fase ela será marcada para sempre, por isso nosso papel é fundamental para minimizar os danos”, afirma Andréia.

Questão cultural – A disputa por uma vaga de conselheiro é tão importante quanto um pleito para a escolha de vereadores, mas de modo geral, a população desconhece a eleição do próximo sábado. Segundo a conselheira Ana Paula Queiroz, do CMDCA, o desinteresse em participar da votação passa por uma questão cultural.

Segundo ela, na eleição passada, apenas dez mil pessoas foram às urnas na Capital. "É um número muito baixo para uma cidade com quase 1 milhão de habitantes, mas acontece que muitas pessoas acreditam não ser importante votar pelo simples fato de não terem filhos", revela.

Ana Paula acredita que falta um engajamento maior da sociedade e lembra que os problemas que levam às famílias ao Conselho Tutelar são comuns a todos.

No entanto, ela reconhece que a divulgação da eleição do próximo domingo poderia ser ampliada na cidade, mas explica que a tarefa é difícil devido ao número de conselheiros e também a falta de recursos financeiros. Com isso, a divulgação e o chamamento da população para participar do pleito, que é de responsabilidade do poder municipal, se restringiu aos órgãos públicos de assistência social e escolas. Também houve uma divulgação na TV através da secretaria municipal de Educação.

Já os candidatos tem autonomia para desenvolver suas campanhas através de panfletos e flyers, que podem ser distribuídos na comunidade onde residem, além das visitas a casa de amigos e líderes de bairros. O uso de carro de som não permitido, nem entrevistas individuais na mídia. As regras são semelhantes ás de uma campanha eleitoral para um cargo político.

Sem muita estrutura, as campanhas estão fortes nas redes sociais e grupos do aplicativo WhattsApp. "O pessoal está se virando. Gostaríamos de ter o máximo de participação da sociedade, mas no próximo pleito creio que estaremos mais avançados", destaca Ana Paula.

A eleição - Os 79 candidatos que se inscreveram para disputar as 15 vagas de conselheiro tutelar passaram por quatro etapas avaliativas, que abrangeram desde exame de conhecimento e domínio de informática, até análise de perfil e entrevista.

Após a seleção, ficaram apenas 30 candidatos que se mostraram aptos a desempenharem a função, que tem remuneração bruta de R$ 2,5 mil e exige período integral.  A votação vai ocorrer em 30 escolas municipais e em cada seção haverá um mesário e dois auxiliares para atender e orientar os eleitores, que utilizarão cédulas de papel, nos moldes daquelas utilizadas no passado, em processos de eleições parlamentares e dos poderes executivos.

São habilitados a votar qualquer eleitor acima de 16 anos que esteja em dia com as obrigações eleitorais. A votação em data unificada foi estabelecida em 2012. Antes, cada município definia o formato e a data para a realização do processo de escolha. Com a unificação, o objetivo é garantir maior participação da sociedade na escolha dos conselheiros, que tem a função de zelar pela defesa e garantia dos direitos das crianças e adolescentes.

Atualmente, o Brasil tem 5.956 conselhos tutelares. No total, 99,89% dos municípios possuem, pelo menos, uma unidade de Conselho Tutelar em funcionamento

Todas as informações dos candidatos e locais de votação na Capital estão disponíveis no endereço eletrônico do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, através do link http://www.pmcg.ms.gov.br/cmdca/canaisTexto?id_can=7395 

Sede do Conselho Tutelar na Capital: eleições acontecem amanhã (Foto: Marcos Ermínio)
Sede do Conselho Tutelar na Capital: eleições acontecem amanhã (Foto: Marcos Ermínio)
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