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Capital

Para usuário, falta pediatra; para médicos, falta é de "incentivo"

Nícholas Vasconcelos | 07/11/2012 10:14
Nos postos, pais reclamam da demora no atendimento. (Foto: João Garrigó)
Nos postos, pais reclamam da demora no atendimento. (Foto: João Garrigó)

Reclamação recorrente entre os que precisam do serviço nas horas de emergência, o pediatra é a especialidade que mais causa disputa e peregrinação no serviço de saúde público em Campo Grande. O fenômeno é nacional, mas os médicos dizem que em Mato Grosso do Sul ele é maior, apesar de a cidade ter profissionais dessa área até em maior número do que o recomendado.

Dados da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) apontam que o Estado tem 400 profissionais dessa especialidade. O ideal apontado pela Sociedade para uma cidade 800 mil habitantes é de até 200 pediatras, 100 a menos dos que os 300 que atuam na Capital. É uma conta que parece não fechar para quem precisa esperar para que um filho, filha ou neto sejam atendidos nas UPA (Unidades de Pronto Atendimento) e Postos 24 horas da cidade.

Na Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), 109 médicos atuam na pediatria, o que corresponde a 36% dos que atual na cidade. Para o Sinmed (Sindicato dos Médicos) e SBP a explicação para falta de profissionais no setor público passa por vários pontos: a falta de segurança, infraestrutura, opção de carreira, mas principalmente a falta de incentivos para ingressar e permanecer no serviço público.

“Hoje só tem uma porta de entrada no serviço público, que é o plantão pediátrico e não no atendimento básico. O plantão é uma atividade complementar”, comentou o diretor do sindicato, João Batista Botelho.

Ele avalia que o SUS (Sistema Único de Saúde) prejudica o atendimento pediátrico ao não estimular a atuação ambulatorial, que segundo os médicos estimula o crescimento profissional sem ser tão desgastante.


“O PSF (Programa de Saúde da Família) não prevê a participação do pediatra e ele é o profissional mais indicado para tratar das crianças”, conta o vice-presidente do CRM (Conselho Regional de Medicina) e presidente da SBP, Alberto Cubel Júnior.

Os dois são unânimes ao afirmar que a falta de infraestrutura para o trabalho dos médicos também é um fator que pesa na escolha pelo setor particular e também pela segurança do profissional. “Hoje 70% dos pediatras são mulheres, que além da profissão têm seus compromissos com a família e não ter segurança é um fator que faz escolher atuar no consultório ou pronto socorro particular”, comentou Cubel.

Presidente da Sociedade de Pediatria vê especialidade pouco valorizada na Capital. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Presidente da Sociedade de Pediatria vê especialidade pouco valorizada na Capital. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Por ano, 140 médicos se formam só em Campo Grande. Na universidade Anhanguera/Uniderp são 80 acadêmicos e na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) outros 60. Depois de formado, o médico precisa passar pela residência de dois anos para se tornar pediatra.

Para tanto, é preciso procurar um hospital que ofereça essa especialização, como o HU (Hospital Universitário) da Capital que oferece oito vagas, da Santa Casa que dispõe de quatro, do HR (Hospital Regional) com seis e do HU de Dourados, com quatro, conforme números da SBP. Essas 22 vagas para a formação no Estado são consideradas ideais pelos representantes da classe médica, pelo menos para Campo Grande que fica com 18 delas, já que o número de pediatras ideal é de até 200 profissionais.

Outro ponto apontado pelos profissionais é o salário, já que na média, no setor público é a metade do que é pago no setor privado ou até mesmo na rede pública estadual. “Para 20 horas, um pediatra recebe R$ 2 mil na Prefeitura da Capital enquanto no setor privado é de R$ 4 mil no HR, proporcionalmente”, aponto Cubel. Ele lembra ainda que fora o salário há as vantagens como a segurança, 13° salários, férias e as oportunidades de capacitação.

“É preciso ter um plano de cargos e carreiras, você progride pouco no setor público. Se ocupar um cargo de chefia, por exemplo, tem um aumento de 30% que depois não é incorporado no salário ou aposentadoria”, revelou João Batista.

“Eu trabalhei na prefeitura e após 16 anos quando fui pedir demissão ninguém questionou, ofereceu algo para que continuasse”, aponta Cubel Júnior.

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