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Capital

Por “nova vida”, internos da UNEI Dom Bosco recebem cursos

Ana Paula Carvalho | 27/09/2011 15:19
Internos da UNEI Dom Bosco participam de curso profissionalizante (Fotos: João Garrigó)
Internos da UNEI Dom Bosco participam de curso profissionalizante (Fotos: João Garrigó)
Adolescentes receberão aulas de operador de computador.
Adolescentes receberão aulas de operador de computador.

Com olhares curiosos, meio desconfiados e agitados com a novidade. Foi assim que 16 internos da UNEI (Unidade Educacional de Internação) Dom Bosco entraram na sala de informática da Escola Estadual Pólo Professora Evanilda Maria Neres Cavassa na tarde dessa segunda-feira (26).

Ao todo, 34 adolescentes, devido a uma parceria entre Sejusp (Secretaria de Segurança Pública e Justiça) e Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), começaram a receber cursos profissionalizantes de auxiliar administrativo e operador de computador. Esses cursos foram “escolhidos a dedo”, segundo Marcos Antônio, coordenador de cursos do Senac.

Os internos foram escolhidos de acordo com os pré-requisitos do curso. Para auxiliar administrativo era necessário estar matriculado e freqüentando o 7º ano do Ensino Fundamental, ter RG, CPF e no mínimo 16 anos de idade. Para operador de computador a única diferença é que o interno tem que ter no mínimo 14 anos.

As aulas serão das 16h15 às 19h30 diariamente. No fim do curso, os adolescentes receberão um certificado e uma oportunidade de se qualificar para o mercado de trabalho quando terminarem de cumprir a pena sócioeducativa.

“Não existe outro caminho para o sucesso na vida do que o trabalho. Valente é aquele que está solto no aconchego da sua família, do seu lar. Nada vem fácil. É com 30 anos que você começa a colher os frutos de uma vida de muita labuta”, foi assim que o diretor da Superintendência da Assistência Sócieducativa, Hilton Villasanti Romero, passou aos internos a importância de se ter uma vida sem estar no mundo do crime.

Ainda de acordo com ele, esses cursos são a realização do sonho de poder ver esses adolescentes tendo oportunidade de um futuro diferente, fora da UNEI, mas ele afirma, que de nada adianta esses trabalhos, se ele não tiver uma boa recepção quando sair. “É um conjunto de fatores que trás o adolescente de volta. Ele fica aqui um ano, vai às aulas, faz cursos, quando sai, encontra uma mãe que não dá atenção, que não se importa se vai à escola. Nem comida tem em casa. Ele vai voltar para cá”.

Regresso - O Campo Grande News conversou com um dos internos da UNEI. O jovem de 18 anos, já passou pela unidade quatro vezes, em decorrência de várias passagens que ele tem pela Polícia. Ele já roubou, já furtou e já matou. Foram dois homicídios em dez dias. No dia 09 de dezembro de 2010, o jovem disparou quatro tiros contra Adalberto da Silva Vital, de 24 anos, que chegou a ser socorrido pelo SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), mas não resistiu e morreu. Dez dias depois, ele matou com um tiro Nilsther Ferreira da Silva, de 29 anos.

Questionado porque voltou tantas vezes á UNEI ele se explica dizendo que não tinha o que fazer quando era solto. “Eu não tinha o que fazer, não tinha dinheiro, não tinha comida, daí eu acabava roubando, matando”, reforça.

Mas agora ele tem um novo desejo: “mudar de vida”. “Eu quero sair daqui e conseguir um emprego. Não quero mais ficar nessa vida, não”, diz.

O jovem não é o único que vê nos cursos uma oportunidade de ter uma nova vida. De acordo com a diretora da Escola, muitos adolescentes que chegam lá, não freqüentavam a escola antes de serem internados. “No ano passado, de 500 alunos das escolas em UNEIs do Estado, aproximadamente 440 não estavam matriculados antes de serem internados”, reforça.

Na UNEI Dom Bosco, esses jovens e adolescentes frenquentam à escola, tem aulas de educação física, de artes, participam de projetos sobre temas diferenciados. “Agora eles estão trabalhando com a reciclagem”, diz o professor de educação física Diego Vidal. Os projetos são desenvolvidos na biblioteca que foi inaugurada em julho.

Mesmo com dois homicídios, adolescente quer mudar de vida quando sair da UNEI.
Mesmo com dois homicídios, adolescente quer mudar de vida quando sair da UNEI.
Para diretor das UNEIs do Estado, curso são uma orpotunidade de uma nova vida para adolescentes.
Para diretor das UNEIs do Estado, curso são uma orpotunidade de uma nova vida para adolescentes.

Saúde - São muitas as melhorias que a Unidade recebeu com a última reforma. Os 75 internos têm acesso à educação, tem médico, dentista, psicólogos, assistentes sociais, cursos profissionalizantes e recebem quatro refeições diárias. A cozinha é terceirizada e proporciona comida de qualidade aos adolescentes.

Em frente à sala do diretor, Guilhermo Aguiar, há um espaço para a saúde. São várias salas. Lá os adolescentes recebem atendimento médico ambulatorial, a maioria procura o clínico geral, Alonzo Montano Paz, que é do município, mas está cedido ao Estado, por patologias como, gripe, dor de garganta, micoses. Se necessário, eles são encaminhados à rede municipal de saúde. Só na segunda-feira, 12 adolescentes passaram pelo ambulatório. Por mês eles atendem uma média de 60 internos.

Ao todo, no espaço, trabalham dois auxiliares de enfermagem, um dentista e um clínico geral. Muitos adolescentes recebem atendimento do CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial).

Novos alojamentos - Hoje, a unidade têm 16 alojamentos, com capacidade para três internos em cada um. Eles têm de cinco a seis, mas isso não prejudica o atendimento.

Até o fim do ano, mais 32 vagas serão construídas em oito alojamentos. As obras já estão quase concluídas.

Além disso, foi construído um espaço onde os familiares esperam pelas visitas. Têm banheiro e um local coberto. Também foi construído um espaço para abrigar os policiais militares que trabalham para garantir a segurança do local.

Vontade de fazer dar certo - Guilhermo Aguiar, está na UNEI há dez anos, hoje ele é diretor. Ele conta que tem muita vontade de fazer com que a ressocialização dos internos funcione, mas ele não consegue isso sozinho.

“Eu cuido aqui dentro, mas não posso cuidar lá fora. Aí vem um e diz que o adolescente que entra aqui sai pior, mas eles não sabem como é todos os dias. Eu dou médico, psicólogo, dentista e comida, vê se ele recebe isso lá fora. Quando volta está com os dentes podres”, afirma.

Quanto às tentativas de fuga que acontecem, o diretor explica que isso acontece em qualquer lugar que se tenha privação de liberdade e que existem lideres que exercem influencia. “É claro que eles vão tentar fugir. Eles foram privados de liberdade e sempre tem aqueles que influenciam. Sempre tem a ‘laranja podre’”, diz.

Na sexta-feira, após um motim, dois adolescentes apontados como líderes foram transferidos para outras unidades.

Biblioteca foi inaugurada em julho deste ano.
Biblioteca foi inaugurada em julho deste ano.
Auxiliar mostra armário onde medicamentos ficam.
Auxiliar mostra armário onde medicamentos ficam.
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