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Capital

Prefeitura fecha o cerco e deixa microempresários sem renda

Lidiane Kober | 26/04/2014 17:32
Dona Maria Aparecida trabalhou mais de 50 anos para juntar R$ 19 mil e abriu um pequeno restaurante, mas, agora, corre o risco e precisar fechar as portas (Fotos: Lidiane Kober)
Dona Maria Aparecida trabalhou mais de 50 anos para juntar R$ 19 mil e abriu um pequeno restaurante, mas, agora, corre o risco e precisar fechar as portas (Fotos: Lidiane Kober)

A Prefeitura de Campo Grande intensificou a fiscalização e fechou o cerco contra microempresários. A medida está tirando o sono de famílias que sustentam a casa com a renda dos pequenos estabelecimentos comerciais. Sem dinheiro para efetivar as exigências, alguns são obrigados a fechar as portas e perdem a única fonte de renda.

É o caso da família de Marma Aparecida Queiroz, de 56 anos e de Maria da Conceição Nunes de Oliveira, 65 anos. Elas residem na Rua Barão de Ubá, no Bairro Tiradentes e, desde o início de 2014, vivem em clima de tensão, sem saber como vão colocar comida na mesa se perderem de vez a chance de comercializar seus produtos.

A prefeitura e a polícia fecharam a lanchonete de Marma na semana passada. “Estava com o alvará vencido, mas já regularizei a situação para reabrir o comércio na próxima terça-feira (29)”, contou. Enquanto isso, ela trabalha dia e noite para tentar adequar o estabelecimento às exigências da vigilância sanitária.

Com o marido doente e sem condições de contribuir com a renda e até com trabalho, a microempresária, que tem três netos para sustentar, arregaçou as mangas e está pintando o comércio e abusando da criatividade. “A fiscalização mandou contratar nutricionista, construir dois banheiros e adequar um a clientes especiais e ainda obrigou separar a casa da lanchonete”, relatou.

Sem condições financeiras de atender as exigências, Marma decidiu pintar o estabelecimento “para melhorar a cara” e construiu um balcão para dividir a casa do comércio. “Não tenho como investir mais, o jeito será empurrar com a barriga, porque se fechar de vez não tem como colocar comida na mesa”, disse.

O casal não é aposentado e a lanchonete é a única fonte de renda. “Meu marido está doente, com dois tumores, diabetes e quase não enxerga mais”, lamentou. “Fui obrigada a fechar as portas e as contas já estão atrasadas”, completou.

Viúva há dois meses, dona Maria da Conceição é outra que está desesperada. Desde os sete anos, ela trabalha e, depois de mais de 50 anos de labuta “de domingo a domingo”, conseguiu guardar R$ 19 mil. O dinheiro aplicou em um pequeno restaurante, com fornecimento de marmitex.

“Meu sonho era abandonar as faxinas e a andança, nos finais de semana, pelas feirinhas, vendendo roupas e salgados”, revelou. O sonho tornou realidade e ela abriu seu estabelecimento. “Mas agora a prefeitura exige uma nutricionista e dois banheiros, com adaptação para clientes especiais”, emendou.

Para atender as exigências, Maria da Conceição precisará pagar R$ 2 mil mensais a uma nutricionista e investir mais uns R$ 17 mil. “Não tenho condições, o dinheiro que entra só dá para pagar os custos e alimentar minha família”, explicou.

Por dia, ela vende em média 20 marmitex, a R$ 8, e serve prato-feito a cerca de 10 pessoas, por R$ 9 a refeição. Para completar a renda, nos finais de semana, vai a feirinhas vender roupas. “Não quero mais puxar rodo, só quero trabalhar para mim”, comentou. A microempresária ainda é firme ao afirmar manter “tudo limpinho” e caprichar no cardápio.

“Trabalhei em hotel e pensão, faço porções de legumes, verduras, de carne magra e de feijão e arroz”, contou. Apesar do esforço, não sobra nada e ela pensa em fechar as portas se não ganhar uma chance da prefeitura. “Vou esperar mais um pouco para ver no que vai dar”, acrescentou.

Para finalizar, Maria Aparecida contou que a pressão tomou conta do bairro. “Na rua da igreja, tem dois pequenos comércios que também devem fechar as portas por não ter como atender as exigências. Tanta gente roubando, estuprando e matando por aí e fecham o cerco contra famílias que só querem trabalhar”, avaliou.

Sem condições de investir, Marma foi criativa e construiu uma prateleira para dividir casa da lanchonete
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Maria da Conceição atendeu parte das exigências e separou a residência do comércio
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