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Capital

Prefeitura flagra 'brechó' e investiga atividade ilegal em posto de saúde

Natalia Yahn | 29/01/2016 10:44
UBS Dona Neta, na Rua Corá, funcionava normalmente hoje (29). Local é investigado pela Sesau por abrigar irregularmente um brechó. (Foto: Marcos Ermínio)
UBS Dona Neta, na Rua Corá, funcionava normalmente hoje (29). Local é investigado pela Sesau por abrigar irregularmente um brechó. (Foto: Marcos Ermínio)

O funcionamento irregular de um brechó na UBS (Unidade Básica de Saúde) Dona Neta, no bairro Guanandi, em Campo Grande, está sendo investigado pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde). Relatos de que usuários eram obrigados a comprar produtos para serem atendidos levaram ao flagrante, por uma equipe de investigação do órgão, na quarta-feira (27).

Imagens das roupas que seriam vendidas no posto de saúde foram enviadas à redação por moradores e usuários da UBS, de forma a comprovar a denúncia. A reportagem do Campo Grande News esteve na unidade, na manhã desta sexta-feira (29), e constatou que a venda de roupas ocorria no local.

O comércio irregular é conhecido pelos moradores e pacientes como "Brechó da Dona Neta". Porém, a UBS funcionava normalmente hoje e nenhuma sala com produtos à venda foi encontrada.

Um morador do bairro e usuário da UBS, que pediu para não ser identificado, afirma que já foi coagido a comprar produtos no local. “Eu cheguei para me consultar e disseram que eu tinha que comprar para ser atendido. E que o dinheiro seria para ajudar a manter o funcionamento do posto. Eu disse que o atendimento prestado lá é de graça, e não deveria ser cobrado. Mas acabei comprando um tapete”, disse.

O comércio ilegal seria mantido por doações de moradores, pelo menos desde outubro do ano passado. O problema já teria sido denunciado antes, mas só agora a Sesau investiga o caso.

“A gerente do posto pede para os agentes, nas visitas domiciliares, recolherem doações de roupas. E tudo é vendido para os próprios moradores. É um absurdo, denunciamos várias vezes e nunca fizeram nada. E pior é vender dentro da unidade, dizendo que é para manter o funcionamento. Já ouvi dizer que por semana a arrecadação é de R$ 1 mil, que seria usado para compra de materiais que a Prefeitura não manda, como copos descartáveis, sulfite e papel higiênico”, afirmou o morador.

Na unidade os relatos de que o brechó realmente funcionava são dos próprios servidores, que também pediram para não serem identificados. “Tinha sim uma sala só com roupas para vender. E sempre tem gente que vem e traz doações para o bazar”, afirmou uma funcionária do local.

Fotos das roupas que seriam comercializadas dentro da unidade. Moradores e pacientes da UBS enviaram as imagens ao Campo Grande News. (Foto: Direto das Ruas)
Fotos das roupas que seriam comercializadas dentro da unidade. Moradores e pacientes da UBS enviaram as imagens ao Campo Grande News. (Foto: Direto das Ruas)

Uma agente de saúde que estava na frente da unidade hoje pela manhã disse que ela própria já doou roupas para venda no local. “Eu trouxe coisas da minha casa. Até onde sei, os agentes não são obrigados a trazer nada, mas se algum morador quer doar a gente acaba coletando e depois entregamos tudo no posto”, disse.

As responsáveis pelo brechó seriam a gerente da unidade, Michele de Souza Nogueira, e a técnica de enfermagem, Hosana Almerinda.

Procurada no local, a técnica de enfermagem apontada como “proprietária” do brechó se defendeu dizendo que participa de uma comunidade evangélica e trabalha com doações. “Não existe essa situação. Esta semana recebi doações aqui no meu local de trabalho, mas foi tudo encaminhado para a igreja, onde vai ter o bazar dia 14 de fevereiro”, disse Hosana Almerinda.

A gerente, que seria a “cabeça” do suposto esquema ilícito de arrecadação, disse que ninguém é coagido e que todas as doações são encaminhadas para doação, mas confirmou o uso de uma sala da UBS para guardar as roupas. “Esta semana recebemos uma doação e colocamos tudo dentro de uma sala para a Hosana separar. Não existe esta história de coação, os agentes fazem o serviço deles e só”, afirmou.

A Sesau afirmou que o caso é investigado, e uma sindicância foi aberta para identificar e punir os responsáveis. A prática de comércio de compra e venda de bens ou serviços no recinto das repartições públicas, ainda que fora do horário normal de expediente, é considerada falta administrativa grave e pode resultar na destituição do cargo público.

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