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Capital

"Primeiro foi meu primo, depois eu", fala meninio de 10 anos baleado por PM

Nadyenka Castro | 22/03/2012 19:30

O crime aconteceu na madrugada de reveillon. Nesta quinta-feira foi a primeira audiência sobre o caso

Manchas de sangue ficaram na casa, que foi limpa no dia seguinte. (Foto: Simão Nogueira)
Manchas de sangue ficaram na casa, que foi limpa no dia seguinte. (Foto: Simão Nogueira)

A cadeira era um pouco grande para o corpo franzino de um menino de 10 anos que, apesar da pouca idade, teve que nesta quinta-feira relembrar e contar à Justiça dos momentos em que foi baleado pelo policial militar Samuel Araújo Lima, na madrugada do dia 1º de janeiro deste ano.

Após se ajeitar para ficar mais confortável e ainda alcançar o microfone que grava os depoimentos, Mayson Pereira Meaurio falou ao promotor, advogados e juiz - sob olhar atento da mãe- o que viu e ouviu dentro da casa dele, onde ele e mais quatro pessoas foram baleadas pelo policial.

”Primeiro foi meu primo, depois eu”, disse o pequeno referindo-se aos tiros. O garoto conta que estava dormindo com o primo de 16 anos no quarto e acordou com barulho de tiros e viu Matheus Quirino Pereira Dias ser atingido por um disparo e em seguida ele próprio. “Eu chorei só”, relembra e levanta da cadeira para mostrar o ferimento na ‘canela’ direita.

Na perna do menino ficou cicratiz, assim como nas das demais vítimas: Matheus, Ionar Marília Monteiro Pereira e Maikson Pereira Meaurio. Já Wilson Meaurio, morreu no local atingido por vários disparos.

Com exceção de Matheus, todos foram ouvidos em juízo nesta quinta-feira, na primeira audiência sobre o caso. O policial não compareceu e o advogado dele, Ronaldo Franco, apresentou atestado médico. Samuel está em tratamento piscológico.

Os relatos das vítimas, assim como o de Vanessa Pereira Meaurio, filha de Ionar e Wilson, e de Karine Karolina Martins Maldonado, foram marcados pela emoção. Quase todos choraram e Vanessa, que estava com o bebê de um mês no colo, precisou pausar por várias vezes o depoimento.

Todos apresentaram as suas versões para o caso e pelo menos dois disseram que viram sangue na roupa de Samuel.

Ionar foi a primeira ser atingida. Ela estava no portão. Wilson na sala e as demais pessoas - conforme seus relatos, com exceção de Karine - dormindo.

Após atingir Ionar e Wilson, Samuel foi para os quartos onde por pouco, segundo Vanessa, não acertou ela - grávida e as filhas - e feriu as demais pessoas.

Bastante nervosa, Ionar declarou: “Só escutei os tiros e as crianças gritando. (...) Só não atirou na minha filha, porque o resto, atirou em tudo”.

Um dos filhos dela, de 16 anos, chegava em casa no momento em que a confusão acontecia do lado de fora. Após alguns minutos na residência, foi baleado. Nesta quinta-feira, declarou à Justiça. “Quando eu cheguei tinha uma mulher atirando na esquina. Quando saí para ver o que acontecia, o cara já chegou atirando em mim”, resume.

Os três e ainda outro baleado por Samuel prestaram depoimentos. Vanessa, que não foi atingida, disse que agrediu Samuel, que discutiu com ele e por pouco também não foi atingida, assim como a filha de quatro anos.

“Quando ele apontou a arma para mim dei uma garrafada na cabeça dele. Minha filha de quatro anos foi para a frente dele e ele apontou a arma”, declarou a jovem.

Carro do policial foi danificado e roupas ficaram com sangue. (Foto: Divulgação)
Carro do policial foi danificado e roupas ficaram com sangue. (Foto: Divulgação)

Briga antes dos tiros - Karine é esposa de um dos acusados, Mailson Pereira Meaurio, e estava junto dele quando ‘tudo começou’. Na versão dela, ela havia saído da casa da sogra e seguia para a sua residência, junto com o marido, a pé.

Alguns metros depois, na esquina, o casal parou e em seguida quase foi atropelado pelo Fox dirigido por Samuel. Maílson reclamou, o policial retrucou e Karine tentou evitar a confusão.

Maílson e o policial brigaram e ela chamou o cunhado, Márcio Pereira Soares. Os três brigaram, Samuel foi para a casa de um morador da rua, onde chamou a irmã - policial civil acusada de disparo de arma de fogo - e o irmão, também policial militar.

Quando a policial civil chegou fez disparos de tiros, Samuel saiu da casa, já armado e entrou na residência onde a família Meuario morava.

Duas testemunhas também ouvidas em juízo nesta quinta-feira contaram que viram a pessoa de apelido Laion com um pedaço de pau na mão danificar o carro de Samuel e outras balançando a grade do imóvel onde o policial se abrigava.

Os dois rapazes também relataram que viram uma mulher disparando tiros no local onde havia ocorrido a briga.

Como está?- O processo está na fase de instrução, que são as oitivas de testemunhas e interrogatório dos réus. Samuel foi preso em flagrante, mas, já está solto por habeas corpus.

Márcio Pereira é acusado de tentativa de homicídio contra o policial, está preso, mas deve ser solto em breve. Maílson, réu pelo mesmo crime que o primo até o início da audiência era considerado foragido.

A irmã de Samuel responde por disparo de arma de fogo, foi autuada em flagrante, pagou fiança e está em liberdade. Ela compareceu à audiência, mas, foi dispensada.

Ao terminar de ouvir as testemunhas e interrogar os réus, defesa e acusação apresenta alegações e o juiz - neste caso o da 2ª Vara do Tribunal do Júri - decide se manda os réus a júri ou não. Há possibilidade do processo ser desmembrado.

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