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Capital

"Que não aconteça com outro pai", pede ex-mulher de vigia morto

Nadyenka Castro | 23/04/2012 18:20

Nesta segunda-feira, nove meses após o crime, Justiça ouviu cinco testemunhas de acusação

Airton foi preso em flagrante, com a roupa manchada de sangue. (Fotos: Pedro Peralta)
Airton foi preso em flagrante, com a roupa manchada de sangue. (Fotos: Pedro Peralta)

Em lágrimas, a cozinheira Abadia Aparecida Medeiros, 42 anos, disse nesta segunda-feira à Justiça o que a maioria das mães que tiveram os pais de seus filhos assassinados gostaria de dizer. “Espero que isso não fique em branco, que isso não aconteça amanhã ou mais tarde com outro pai de família”, desabafou.

Abadia foi casada por pelo menos 11 anos com Adelson Eloi Nestor de Almeida, 46 anos, morto pelo lutador Airton Colognesi, na madrugada do dia 7 de julho do ano passado, em Campo Grande.

Na época do crime, o casal estava separado havia três anos, mas, segundo a cozinheira, o vigia era um pai presente no dia a dia dela e dos filhos - a menina de 13 anos e o garoto de 15. “Ele era muito educado, passivo, cuidava bem das crianças”.

A mulher ainda guarda no celular a última foto tirada do ex-marido, datada de 27 de junho, poucos dias antes dele sair para o trabalho e voltar morto. E mais do que a lembrança do retrato, ela declarou ao Campo Grande News que não consegue esquecer de Adelson até nas horas das broncas aos filhos. “Me pego falando para eles: Eu vou falar para o seu pai”.

O vigia morreu no local de trabalho - posto de combustíveis na avenida Tamandaré -, ao evitar que Airton entrasse na área do comércio, delimitada por uma corda. E, próximo ao limite com a calçada, segundo relatos à Justiça de um dos policiais militares que prenderam Airton, havia sangue, indicando que ali tinha acontecido alguma coisa.

O soldado foi a primeira testemunha de acusação a prestar depoimento. De acordo com ele, o rosto e as mãos de Adelson Eloi estavam bem machucadas.

Também foram questionadas pelo MPE (Ministério Público Estadual), Defensoria Pública e juiz, as duas pessoas que testemunharam o crime. O casal passava pelo local e parou com o carro a aproximadamente 50/100 metros de onde a dupla brigava. “A gente viu duas pessoas brigando, lutando no chão”, conta o homem, que afirma que após alguns minutos viu “um dominando o outro e depois desferindo golpes”.

A mulher relatou que os homens rolavam na rua e de repente “eles pararam de rolar e um começou a soquear o outro. Parecia que estava em cima do outro”. Após alguns segundos, o que estava por cima levantou e saiu andando, conforme ela “meio cambaleante, trancho, encurvado”

Manchas de sangue ficaram na calçada do posto.
Manchas de sangue ficaram na calçada do posto.

O casal afirma que não chamou a Polícia logo que viram a situação, porque ficaram assustados e imaginaram ser alguma brincadeira de jovens. Quando perceberam que a situação era mais séria, os dois chamaram a PM (Polícia Militar), Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), ficaram no local e ainda prestaram depoimento à Polícia Civil.

Uma jovem que trabalhava no posto de combustíveis também falou à Justiça. Ela contou que Adelson Eloi era uma pessoa educada, que atendia bem aos clientes quando era preciso e nunca havia se envolvido em confusão.

Ao Campo Grande News, a trabalhadora contou que por volta das 18h30min havia atendido Airton Colognesi no posto. Segundo ela, o lutador estava com a família “abasteceu o carro com álcool e comprou cigarro”.

Barra de ferro- Laudo necroscópico afirma que Adelson Eloi tinha rachadura de 10 centímetros de comprimento na cabeça. Ferimento que teria sido provocado por uma barra de ferro encontrada no local do crime. O objeto foi apreendido. Uma das testemunhas afirma não ter visto a arma sendo utilizada, apenas que viu na delegacia de Polícia Civil.

Prisão e liberdade - O lutador foi preso logo após o crime. Conforme o policial que o prendeu, ele estava deitado sobre a grama há uma quadra do local do crime, com os braços abertos, parecia estar embriagado, estava consciente e contou o que havia ocorrido.

Airton foi preso em flagrante com as roupas ainda manchadas de sangue, mas, duas semanas depois saiu da cadeia com autorização judicial.

O juiz Alexandre Ito, em substituição na 2ª Vara à época, determinou fiança de 10 salários mínimos para a soltura, entretanto, a defesa alegou que ele não tinha condições de fazer o pagamento e o Tribunal de Justiça concedeu habeas corpus sem o pagamento. Airton mudou de Campo Grande, com autorização da Justiça, alegando sofrer ameaças.

Próximos passos- O delegado responsável pelo inquérito Fábio Sampaio, é uma das testemunhas de acusação. Ele não foi ouvido nesta segunda-feira porque está em férias e o depoimento dele foi agendado para 10 de maio.

Airton será interrogado por carta precatória. Após análise dos depoimentos e alegações finais da defesa e da acusação, o juiz decide se o réu irá ou não a júri popular.

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