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Capital

Retrospectiva: Entre agressões e protestos, Saúde virou caso de polícia

Aline dos Santos | 29/12/2010 15:50

“Somos feitos de palhaço”, lamenta mulher que se acorrentou a hospital para protestar.

Foto: João Garrigó
Foto: João Garrigó

Questão de vida ou morte, o atendimento médico motivou brigas, denúncias, protestos e virou caso de polícia em 2010.

Dono do título de posto mais violento de Campo Grande, a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Almeida virou notícia logo nos primeiros dias do ano.

Na noite de 21 de janeiro, funcionários da unidade de saúde precisaram se trancar em uma sala para escapar da fúria dos pacientes que aguardavam atendimento. Cerca de 20 homens teriam participado da ocupação e quatro médicos tiveram que buscar refúgio.

Diante da situação extrema, a prefeitura de Campo Grande chegou a pedir que a Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) colocasse a PM nas unidades 24 horas, mas a solicitação foi negada. Já a população, cobrava mais médicos. Os profissionais de saúde, por sua vez, ameaçaram até demissão em massa.

Um mês depois, a prefeitura divulgou que seria criado serviço receptivos nas unidades 24 horas. Outra aposta do poder público para 2010 era a instalação do sistema de informatização de consultas, com recursos de R$ 9 milhões.

Imagens de postos de saúde superlotados continuaram em 2010.
Imagens de postos de saúde superlotados continuaram em 2010.

Coincidência - Conforme pesquisa do Sinmed (Sindicato dos Médicos), de janeiro a novembro foram registrados 345 relatos de violência nos postos de saúde da Capital. Destas, 17% ocorreram na UPA da Vila Almeida. Coincidentemente, a mesma unidade em que os médicos são expostos à situação de risco também é a que mais provoca denúncias à imprensa por parte dos usuários do sistema público de saúde.

A família de Milton Davi Botrich, de 74 anos, denunciou que a unidade não tinha médico na tarde do dia 9 de outubro, um sábado. O paciente precisava da aplicação de um medicamento essencial para sua saúde. Nesta data, a escala da prefeitura informava que a unidade teria três médicos clínicos gerais, porém, a informação no posto é que não havia médicos no plantão.

Um mês antes, depois de 4 horas de espera, o administrador José Luiz Leal Zayas foi embora sem atendimento. “Prefiro sentir dor em casa”.

Na Unidade de Pronto Atendimento, a espera é determinada pela classificação de risco. Os pacientes são classificados por cores. Vermelho corresponde a casos graves, que exige atendimento imediato. Amarelo (urgência maior) espera de até 40 minutos. Verde (urgência menor) espera por até 1h30. Já o paciente com a classificação azul (atendimento ambulatorial), pelas regras da UPA, deve ser atendido em até duas horas.

Na delegacia – Ainda em outubro, mais confusão. O consultor Denis Carlos Souza Medeiros brigou com funcionários e a Guarda Municipal teve que intervir. Ele foi ao local para que o irmão fizesse raio-x. “Bateram a porta na cara da minha mãe”. O caso foi registrado na polícia.

Já na UPA do Coronel Antonino, segundo colocado no ranking de agressões, Rafael Neves Alves foi parar na delegacia por agredir os médicos e xingar os enfermeiros. Na delegacia, ele disse que “daria uma rajada de metralhadora nas cabeças do médico”.

No posto do Nova Bahia, um médico de 35 anos foi agredido a socos por dois homens que acompanhavam um paciente.

Em agosto, a cabeleireira Edna Lima Bronze passou 30 horas acorrentada ao HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian.
Em agosto, a cabeleireira Edna Lima Bronze passou 30 horas acorrentada ao HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian.

Palhaça - Em agosto, a cabeleireira Edna Lima Bronze passou 30 horas acorrentada ao HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian. Vestida de palhaço, ela protestava pela demora em ter um diagnóstico correto.

Com dores no abdômen, o primeiro diagnóstico, no posto de saúde do Guanandi, foi de infecção urinária. O segundo, já no HR, foi de apendicite. Só depois da cirurgia, veio o diagnóstico correto: gravidez tubária rota.

Neste caso, o feto é gerado fora do útero. Com o desenvolvimento da gravidez, a trompa se rompeu e o feto morreu, gerando uma hemorragia não detectada. O ovário e a trompa esquerdos tiveram que ser retirados. “Somos feitos de palhaço”, lamenta Edna.

“Me tira daqui” – O nascimento de Guilherme, em março deste ano, foi antecedido por 18 horas de dor para a mãe e muita negociação financeira por parte do pai.

O tecnólogo ambiental Maximiliano Schadler denunciou a maternidade Cândido Mariano ao MPE (Ministério Público Estadual) por forçar parto normal. Sua esposa, Miriam Kelly dos Santos não conseguia atingir a dilatação necessária para o nascimento do filho.

Porém, a cesariana só foi realizada mediante o pagamento de R$ 3.300. A justificativa foi de que o SUS (Sistema Único de Saúde) só autoriza a cirurgia após ser cumprido um protocolo que eliminasse totalmente a possibilidade de parto normal.

“Foi cruel o que aconteceu”, definiu Maximiliano à época. A decisão de pagar veio após a súplica da esposa. “Amor, me tira daqui, senão eu vou morrer”.

No MPE, a denúncia não prosperou. “Fui lá, mas ninguém se interessou. Depois tive outros compromissos e acabei desistindo”, relatou o pai ao Campo Grande News na última semana.

Médicos lançaram campanha pela paz, em frente de posto de saúde da Vila Almeida.
Médicos lançaram campanha pela paz, em frente de posto de saúde da Vila Almeida.
Médicos lançaram campanha pela paz, no posto da Vila Almeida.
Médicos lançaram campanha pela paz, no posto da Vila Almeida.
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