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Capital

Sem barracas e sem cachorros, moradores de rua voltam para região da Santa Casa

Mariana Lopes e Paula Maciulevicius | 17/05/2012 20:10

Após serem detidos acusados de tentar invadir as dependências da Santa Casa, os moradores de rua bastante conhecidos na região voltam e encontram um cenário bem diferente de quando saíram.

Divino quer voltar à Bahia, mas por enquanto continuará na região (Foto: Pedro Peralta)
Divino quer voltar à Bahia, mas por enquanto continuará na região (Foto: Pedro Peralta)

Após serem detidos, acusados de tentar invadir as dependências da Santa Casa, os moradores de rua bastante conhecidos na região voltam ao lugar de onde foram tirados à força. E o que encontraram foi um cenário bem diferente de quando saíram. Mas mesmo sem barracas e sem os cachorros de estimação, eles ainda prometem ficar por lá.

“Levaram tudo, a gente , os cachorros... E cadê o nosso direito e ir e vir? Somos seres humanos”, argumenta Divino Ferreira dos Santos, de 49 anos, que morava na calçada do hospital há quatro anos, segundo afirma.

Da delegacia, onde ficou das 9h30 às 17h de ontem, ele voltou para frente da Santa Casa, mas não encontrou nada do que deixou. Sem ter para aonde ir, ele e os demais moradores de rua que foram detidos dormiram no terreno ao lado do prédio do Sicred, há uma quadro do hospital.

“Eu quero voltar para a Bahia, mas antes preciso do restante dos meus documentos, então, por enquanto, vou ficar por aqui mesmo”, diz. Quando a equipe do Campo Grande News chegou ao local, Divino estava sentado em um toco meio afastado de onde ficava o acampamento do grupo. Em seguida, chegaram os outros companheiros.

Na calçada, nem vestígios das barracas (Foto: Pedro Peralta)
Na calçada, nem vestígios das barracas (Foto: Pedro Peralta)

Em seguida, Luis Roberto Campos, 30 anos, chegou com o restante do grupo, ao todo são cinco. O tempo todo ele perguntava dos cachorros que criavam, e tinham até nomes. “Podiam ter prendido a gente, mas não nossos cachorros... Traz de volta nossos cachorros”, pedia.

Entre um lamento e outro, Luis também reclamava. “A gente não rouba, não mata, mas a Santa Casa quer a gente fora daqui. A polícia levou tudo, a gente ficou sem roupa, sem coberta, com nada”, diz Luis.

Segundo a assessoria de imprensa da Santa Casa, os objetos do grupo, assim como as barracas, foram levados por outros moradores de rua, e não pela polícia, como o grupo afirma. Sobre os cachorros, foram levados para o CCZ (Centro de Controle de Zoonose).

Situação complexa - Para a vizinhança, o caso dos moradores de rua vai além da polícia, se tornou um problema social. “Tem que ter um encaminhamento melhor, a gente vê que eles são dependentes, alcoólatras”, opina o aposentado Heitor dos Santos, 66 anos.

“Não pode deixar na rua, tem que levar para alguma instituição”, concorda a esposa dele, Maria Luiza Carneiro dos Santos, 60 anos. Os dois passam quase todos os dias pelo local e quando a reportagem os abordou, eles disseram que estavam justamente comentando o fato. “O pessoal por aqui já estava acostumado com a presença deles”, disse o senhor.

Uma comerciante da região, que preferiu não se identificar, compartilha da opinião do casal. “Eles voltaram para rua, para a mesma coisa de antes, do mesmo jeito. Acho que deveria ter uma assistência social para ajudar”, comenta.

Mesmo achando ruim quando o grupo deixava lixo ou bagunça na calçada, ela afirma que eles não faziam mal a ninguém. “Eles nunca tinha feito nada, só ficavam ali”, conta.

O taxista Adão roslina, 59 anos, faz um questionamento. “Tirar daqui e levar para lá não adianta, tem que resolver o problema. O Governo tinha que ter mecanismo para tirar essas pessoa s daqui e dar suporte. Foi quase um batalhão de choque para tirar eles daqui ontem, e depois deixa de qualquer jeito de novo”, pontua.

Solidário à falta de estrutura deles, o taxista conta que até ajudava o grupo. “Eu sempre fiz o que pude para ajudar, a gente não conhece o passado deles”, conclui.

Na tarde de hoje, dois guardas municipais ficaram na frente do hospital, na entrada onde o grupo tinha acampamento. Segundo outro comerciante da região, foi a primeira vez que alguma coisa foi feita, e de fato os guardas foram visto somente a partir de hoje no local. “Estão cuidando para eles não voltarem”, acredita.

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