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Capital

Sob sol e chuva, índias moram em praça para vender produtos regionais

Helton Verão | 25/05/2014 10:47
(Foto: Marcos Ermínio)
(Foto: Marcos Ermínio)

Pelo menos 12 índias levam a vida nos quiosques da Praça Oshiro Takimori, em frente ao Mercadão. Vendendo frutas, verduras e legumes em sua maioria produzida em suas aldeias, algumas delas literalmente moram no local, faça chuva, ou faça sol, elas dormem atrás do balcão.

Acredite, algumas estão nesta rotina de morar na praça há décadas, viajando para a aldeia onde ficaram suas famílias a cada 15 dias. “Moro aqui mesmo, estou trabalhando aqui há mais de 30 anos. Comecei a trabalhar aqui por ser uma cidade maior e assim teria mais chances de ganhar dinheiro. Vou a cada 15 dias na aldeia para buscar mais alimentos para vender”, conta a indígena Dilma da Silva, 53 anos, que é de origem da aldeia da “Lagoinha”, próximo a Aquidauana.

Mãe de sete filhos, ela já perdeu dois deles, hoje todos já estão estudando e trabalhando. Sobre porque morar na praça, ela conta que até tem parentes na cidade, mas para evitar mais custos, como a passagem de ônibus e também para não incomodar os entes. “Prefiro dormir aqui. Porque morar com meus parentes traria mais custos pra mim além de incomoda-los. Tem um banheiro aqui onde uso e onde tomo banho”, ressalta Dilma.

Outra comerciante indígena, Vanda de Albuquerque conta que fica apenas no horário comercial na praça e mora na aldeia urbana Marçal de Souza. Sua família ficou na aldeia de Cachoeirinha, próximo ao município de Miranda. Ela vê também vai a só vê sua família a cada 15 dias. “Trabalho aqui há mais de 20 anos. “Estou acostumada em viver assim. Meus filhos já são adultos e tem seus empregos, então levo a vida aqui para tirar mais um pouco de dinheiro”, comenta Vanda.

Deusina mora com um filho no Indubrasil e vai a aldeia a cada 15 dias (Foto: Marcos Ermínio)
Deusina mora com um filho no Indubrasil e vai a aldeia a cada 15 dias (Foto: Marcos Ermínio)
Dilma segue a rotina de dormir na praça há décadas (Foto: Marcos Ermínio)
Dilma segue a rotina de dormir na praça há décadas (Foto: Marcos Ermínio)
Atrás do balcão a "casa" das índias (Foto: Marcos Ermínio)
Atrás do balcão a "casa" das índias (Foto: Marcos Ermínio)

Também nascida na aldeia Lagoinha, Deunisia Delfino da Silva, 56 anos, mora com o filho em uma casa no Indubrasil. Vê o marido e o resto da família, mais quatro filhos também a cada duas semanas. “Saudade de todos sempre tem. Mas é a forma que encontrei de ganhar dinheiro. O salário não dá pra muita coisa, pois temos que comprar marmitex e pagas as passagens de ônibus, para ir e voltar”, comenta Deunisia.

Quase todas as índias que estão na praça comercializam alimentos que os maridos plantam nas aldeias.

Questionadas sobre um sonho, todas tem a vontade de não precisar de ir até a praça para trabalhar. “Meu sonho é poder sobreviver só com a nossa plantação na aldeia. Não ter que dormir no meio da praça como faço há anos”, comenta Dilma.

“Gostaria de não precisar trabalhar aqui, viver só na aldeia. Mas por enquanto temos que seguir vivendo nesta rotina”, comenta Deunisia.

Todas as indígenas contam que o dinheiro que conseguem no mês trabalhando muitas vezes não alcança o valor de um salário mínimo. “Existem meses que vendemos bem, que chega a mil reais, mas a maioria das vezes apenas um salário conseguimos”, comenta.

Entre os alimentos a venda no local, estão principalmente o milho. Também é comercializado o pequi, feijão, guavira, quiabo, entre outros.

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