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Capital

Suspensão de transplante de rins deixa 395 pessoas na fila de espera

Luciana Brazil | 29/01/2013 17:39
O presidente da Recromassul diz que mudanças no protocolo para cirurgias de transplante de rim já eram reivindicadas. (Foto: Luciano Muta)
O presidente da Recromassul diz que mudanças no protocolo para cirurgias de transplante de rim já eram reivindicadas. (Foto: Luciano Muta)

Desde a suspensão dos transplantes de rins na Santa Casa de Campo Grande, decisão tomada no dia 25 e confirmada ontem pelo diretor técnico do hospital Luiz Alberto Kanamura, a Recromassul (Associação dos Doentes Renais Crônicos e Transplantados de Mato Grosso do Sul) já teme pela qualidade do atendimento que será definido nos protocolos de transplantes, e que ainda estão em análise pelas duas equipes responsáveis pela operação no hospital.

Além disso, o presidente da associação José Roberto Ost receia que os transplantes demorem a ser realizados novamente. Hoje, 395 pessoas no Estado aguardam um rim na fila de espera.

A paralisação dos transplantes, segundo Kanamura, tem como objetivo definir um protocolo padrão das cirurgias no hospital, o que deverá garantir a segurança dos pacientes e das equipes médicas. Os dois transplantes foram suspensos pelo hospital: de vivo para vivo e cádáver para vivo.

O presidente da Recromassul afirma que o protocolo padrão, e com qualidade, já havia sido cobrado em anos anteriores. “Já havia esta preocupação”. O não isolamento dos pacientes após a cirurgia é apontado como a principal falha do protocolo. “Quando o paciente sai da unidade intensiva, ele precisa ficar em área isolada, uma enfermaria isolada, e isso não estava acontecendo. Se me chamarem para o transplante, eu não vou porque tenho medo”, diz José Roberto há nove anos fazendo hemodiálise.

Segundo Ost, após a intervenção do poder público na Santa Casa, em 2005, o número de transplantes começou a cair, até cessarem totalmente em 2011. O hospital alegou, na ocasião, que a falta de UTI’s (Unidade de Tratamento Intensivo) era o motivo da interrupção dos trabalhos. Durante a paralisação dos transplantes em 2011, os órgãos eram enviados pela Santa Casa a outros estados.

Em 2012, a Santa Casa retomou os transplantes, ainda com o mesmo número de unidades intensivas. “Não tinha UTI e de repente apareceu. Surgiu do nada. Na verdade, foi a pressão que a mídia fez e eles acabaram retomando. O retorno foi de forma precipitada, por isso precisou parar de novo”, dispara Ost.

Apesar de terem retomado as cirurgias, a falta de protocolo obrigou paralisação anunciada ontem. “Nós cobramos que tudo fosse feito diferente, mas o hospital voltou no ano passado sem os cuidados mínimos com o paciente, sem isolamento e outras coisas”.

A associação explica que sem os protocolos corretos, o paciente corre risco de vida após a cirurgia. “A possibilidade de insucesso nestes casos é imensa”. De acordo com a Central de Transplantes do Estado, de 2012 até hoje 42 pessoas foram transplantadas. “Se formos observar cada caso individualmente os insucessos foram altíssimos. Alguns voltaram para a hemodiálise e outros até vieram a óbito”, afirmou José Roberto.

A preocupação, segundo Ost, é que não haja qualidade nos protocolos como esperam os portadores da insuficiência renal. “E ainda estamos preocupados com demora no retorno dos transplantes”.

Já o tratamento de hemodiálise é satisfatório no Estado para os renais associados na Recromassul. “Não podemos reclamar do tratamento e também da distribuição dos medicamentos”.

A Santa Casa é o único hospital que realiza os transplantes em Mato Grosso do Sul. Já a hemodiálise pode ser feita em cidades como Campo Grande, Ponta Porã, Dourados, Corumbá e Aquidauana, entre outras.

Segundo José Roberto, o transplantado deve fazer o acompanhamento- mensal, trimestral, semestral ou anual - da doença durante toda vida, inclusive com a medicação. Já a hemodiálise precisa ser feita a cada um dia e o procedimento demora em média 4 horas. “Precisamos filtrar o sangue, dia sim, dia não. Pode ser feriado, dia santo, fim de semana, seja o dia que for”.

Até hoje, Ost não encontrou alguém que seja compatível com ele para fazer a doação. “Precisa ter a compatibilidade sanguínea e outros detalhes técnicos”.

A gravidade da doença, conforme José Roberto, faz com que os pacientes sejam aposentados por invalidez. “Debilita muito fisicamente. As sequelas da hemodiálise vão desde endurecimento da válvulas cardíacas até o atrofiamento da bexiga”

Recromassul- Desde 1985 a associação dá suporte aos doentes renais crônicos, como alimentos, roupas, entre outros. São 208 associados em todo Estado.

Voluntária na associação, Zeferina Rodrigues Ribeiro, 49 anos, diz que já espera por um rim há três anos e por três vezes chegou a ser chamada, mas não havia compatibilidade.

Há 17 anos Maura Jorge Souza Trindade, 56 anos, vive com um órgão doado. "Vivo muito bem. Recebi o rim de um cadáver e hoje levo uma vida normal", conta.

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