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Capital

Trabalhadores da UTR terão auxílio de R$ 350 durante período de transição

Flávia Lima e Antonio Marques | 14/08/2015 12:43
Esteiras da UTR tem capacidade para abrigar até 400 trabalhadores. (Foto:Marcos Ermínio)
Esteiras da UTR tem capacidade para abrigar até 400 trabalhadores. (Foto:Marcos Ermínio)
Prefeito Gilmar Olarte disse que ajuda financeira será importante para dar segurança os catadores. (Foto:Marcos Ermínio)
Prefeito Gilmar Olarte disse que ajuda financeira será importante para dar segurança os catadores. (Foto:Marcos Ermínio)

A queda na renda mensal com a inauguração da UTR (Unidade de Triagem de Resíduos) da Capital sempre foi a principal preocupação dos catadores que atuavam no aterro sanitário do Bairro Dom Antonio Barbosa. Para minimizar o problema, trabalhadores de pelos menos duas cooperativas que atuam na UTR, inaugurada na manhã desta sexta-feira (14) pelo prefeito Gilmar Olarte (PP), receberão, durante três meses, um auxílio no valor de R$ 350,00.

A complementação da renda foi um pedido do grupo de catadores que decidiu, recentemente, sair da área de transição entre o aterro e a UTR. "Essa ajuda será bancada pelas empresas parceiras da UTR e visa dar segurança a eles nesse período de transição", afirmou o prefeito.

No entanto, a maior parte do custo deverá ser bancada pela própria Solurb, concessionária responsável pela unidade de triagem e pelo serviço de coleta e tratamento de lixo da Capital, já que, de acordo com o diretor-presidente da Funsat (Fundação Social do Trabalho de Campo Grande), Cícero Ávila, a empresa é a maior colaboradora do projeto. "Para que tudo isso funcione bem, a conscientização da sociedade em participar da reciclagem do lixo é fundamental", reiterou.

Para os catadores que ainda recusarem a mudança para a UTR, a Solurb se prontificou a oferecer trabalho em outros setores do serviço de coleta de lixo da cidade. A presidente da Atmaras, que há cinco anos atua no aterro sanitário e na área de transição da Usina, Gilda Macedo, ressaltou que o pagamento do auxílio aos trabalhadores mais antigos não ficou definido.

Na segunda-feira, o grupo recém-formado deve se reunir com o Ministério Público Estadual para acertar detalhes da transferência do aterro para a UTR. Conforme integrantes da Coopervitória e Cooper Novo Horizonte, que preferiram não se identificar, a renda mensal de quem atua no aterro sanitário é de cerca de R$ 3 mil, por isso houve a reivindicação do auxílio financeiro no valor de um salário mínimo (R$ 788,00).

As duas cooperativas, que reúnem uma média de 300 trabalhadores, foram criadas há pelo menos um mês, incentivadas pela Funsat, já que o objetivo da administração municipal e da própria Solurb é retirar todos os catadores do aterro, pois com a inauguração da UTR, a expectativa é fechar o local em até um mês, atendendo o que dispõe a legislação que regulamente a gestão de resíduos sólidos no país.

Esta semana, o superintendente da Solurb, Élcio Terra, afirmou que a empresa já comunicou à Justiça sobre o fechamento do local, que precisou ficar em operação durante a construção da UTR devido a uma ação judicial, conquistada pelos catadores, que alegavam não ter outra fonte de renda e precisariam permanecer no aterro até a inauguração da unidade de triagem.

Além do auxílio financeiro, a prefeitura decidiu antecipar a terceira fase da coleta seletiva na Capital, que ocorreria apenas em novembro, já para o próximo mês. Com isso, mais 150 mil domicílios serão beneficiados pelo sistema, que vai garantir um aumento na demanda de trabalho da UTR. No local, o material reciclável é selecionado pelos trabalhadores e na sequência os produtos seguem para a comercialização.

Mudanças -  Neste início de trabalho 90 catadores atuam na UTR em dois turnos. Porém, a expectativa da prefeitura e Solurb é que esse número passe para 400. Para os trabalhadores que passaram anos no aterro, a inauguração da unidade de triagem representa uma mudança de vida e a oportunidade de ter um emprego que ofereça condições dignas de trabalho.

Essa nova perspectiva foi comemorada pela catadora Jaqueline Maecuelho, 25, que há dois anos trabalha no aterro. Mãe de três filhos, com idades entre 2 e 8 anos, ela aposta no aumento da produção, já que poderão selecionar o material longe do sol escaldante e da chuva. "Essa área coberta vai ajudar muito, é mais confortável. Na semana de treinamento nossa produção aumentou 100%", afirmou.

A também catadora Solange Soares da Conceição, 25, que fez uma apresentação musical durante a solenidade de inauguração da UTR, escolheu uma canção que fala sobre a conquista do impossível para traduzir a satisfação de pode trabalhar em um local menos insalubre. "Para mim, é a realização de um sonho", disse Solange, que há seis meses trabalha em uma das cooperativas do local.

O procurador do trabalho Leontino Ferreira de Lima Junior também comemorou a conquista dos catadores e elogiou o fato de a UTR ser a primeira do país a ser gerenciada pelos próprios trabalhadores. "A partir de hoje essas pessoas entram em um patamar mínimo civilizatório e deixam de trabalhar em condições sub-humanas", ressaltou. 

Em seu discurso, Daniel Obelar destacou a valorização do trabalho dos catadores e pediu união da categoria. "Não somos invisíveis, a sociedade não pode nos discriminar, mas precisamos manter a união porque agora começamos uma nova etapa e nós somos os protagonistas dessa história", disse.

Operação- A UTR dispõe de um sistema complexo de triagem, com vários galpões, banheiros, refeitório, novas máquinas de prensa e empilhadeiras. Ao todo são quatro esteiras, cada uma com 24 estações de trabalho, o que permite o funcionamento em três turnos de 8 horas. No total, a Solurb investiu R$ 4,5 milhões para concluir as obras, que haviam sido paralisadas na gestão do ex-prefeito Nelson Trad Filho.

O objetivo inicial era que a Solurb investisse apenas no maquinário, mas como precisou concluir a obra, os valores acabaram ultrapassando o esperado pela empresa. A devolução do montante, no entanto, ainda não foi acordada com a gestão municipal, já que, segundo o superintendente Élcio Terra, ainda é preciso concluir o levantamento para definir como será feito esse repasse.

A UTR terá capacidade para reciclar 150 toneladas de material por dia. Atualmente, os 49 catadores que atuavam no local de transição da Usina conseguiam realizar, por dia, a separação de sete toneladas de produtos como plásticos, alumínio, vidros e papel.

Para estarem aptos a comandar a UTR, os catadores receberam formação e treinamento para operar máquinas, gerenciar os espaços e se organizarem no sistema de trabalho coletivo, as cooperativas. Todo o treinamento foi fornecido pela Funsat, que continua promovendo gratuitamente consultoria e assessoria aos trabalhadores que sobrevivem da venda de material reciclável.

A catadora Jaqueline Maecuelho diz que melhor acomodação vai garantir maior produtividade. (Foto:Marcos Ermínio)
A catadora Jaqueline Maecuelho diz que melhor acomodação vai garantir maior produtividade. (Foto:Marcos Ermínio)
Daniel Obelar pediu união da categoria e fim do preconceito. (Foto:Marcos Ermínio)
Daniel Obelar pediu união da categoria e fim do preconceito. (Foto:Marcos Ermínio)
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