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Capital

Três anos depois, Clayton deixa a violência no passado e retoma estudos

Paula Maciulevicius | 30/01/2012 11:16

Jovem foi espancado por dois rapazes que tinham inveja dele e superou o coma, o estado vegetativo e vive um recomeço

Sorriso, disposição e força para lutar. Hoje Clayton e a família dão o primeiro passo para um novo capítulo, a volta aos estudos. (Foto: Marlon Ganassin)
Sorriso, disposição e força para lutar. Hoje Clayton e a família dão o primeiro passo para um novo capítulo, a volta aos estudos. (Foto: Marlon Ganassin)

Quem vê o sorriso dele, o esforço com as palavras e a satisfação em ouvir a própria voz pode não relacionar o jovem de brilho nos olhos com Clayton Jonas Torres Freitas, 21 anos, vítima de um crime violento motivado pela inveja.

Há três anos e de uma forma brutal, lhe tiraram os planos, mas não os sonhos.

Esteve em coma, passou por estado vegetativo e hoje, de sorriso aberto, volta aos estudos.

Ainda na cadeira de rodas, Clayton dá os primeiros passos para se reerguer. O rapaz, que já chegou a cursar a universidade, tem nesta segunda-feira o desafio de pela segunda vez, ter o primeiro dia de aula no ensino médio. Voltar à sala de aula não significa regresso, é um recomeço na vida dele e da família.

Escola nova, colegas, professores e muitos desafios pela frente. Um deles, o de relembrar o que já aprendeu. Refazer o ensino médio foi a opção de Clayton diante das consequências que a violência provocou.

"Eu preciso retomar a mente, recuperar a memória, o meu aprendizado. Depois eu penso em faculdade. Eu não lembro de nada, mas vou tornar a lembrar".

A retomada dos estudos começa pelo ensino médio. A lesão cerebral tirou do jovem a memória dos livros. Com acompanhamento médico e psicológico ele volta para a sala de aula. O ano ainda será avaliado, de acordo com as lembranças da vida estudantil.

A figura de bom moço e o fato de ter perspectivas pela frente fez dele uma vítima, sem culpa nenhuma. Em 2009, Clayton foi espancado por dois vizinhos. (Foto: Marlon Ganassin)
A figura de bom moço e o fato de ter perspectivas pela frente fez dele uma vítima, sem culpa nenhuma. Em 2009, Clayton foi espancado por dois vizinhos. (Foto: Marlon Ganassin)

Desde fevereiro de 2009 Clayton sofre as consequências da crueldade. À época, ele começava a cursar Ciências Contabéis e estagiava em um banco. A figura de bom moço e o fato de ter perspectivas pela frente fez dele uma vítima, sem culpa nenhuma. No dia 13 daquele mês ele foi espancado por dois vizinhos, Diego Bispo da Silva e Cássio Henrique da Silva Rodrigues.

O crime teria um desfecho ainda pior, mas a arma utilizada pela dupla falhou. Disparo não houve, mas foi através do revólver que Clayton levou várias coronhadas na cabeça. A Polícia concluiu, a inveja que os dois sentiam do jovem resultou em tamanha violência.

O passado está ficando para trás, ainda que aos poucos. Clayton recebeu o Campo Grande News sorridente e tagarelo. As palavras saem devagar mas com gosto. A sensação de ouví-lo é indescritível, um misto de esperança e força transmitido pelo tom baixinho da voz. "Eu falo assim para vocês entenderem melhor", explica.

A fala e a independência surgiram há seis meses em uma situação dramática, quando o rapaz caiu em si. "Foi quando ele relembrou, quis falar e a voz saiu limpa. Ele perguntou porque eu estou assim? Porque você não me deixou morrer? Foi horrível e ele não aceitava", relata a mãe, Helena Brites Torres, 48 anos.

Ao lado de Clayton, a mãe sempre está presente. Dona Helena tem 48 anos, os três últimos dedicados à recuperação do filho. Mulher de fé e mãe determinada, foi pelos braços dela que o menino chegou onde está. As mãos que empurram a cadeira para a fisioterapia semanal é a mesma que apoia para que ele consiga sair e se locomover. "Ele melhorou muito e em muitas coisas. Ele se vira. Cada ano tem novidade e eles tá melhorando, mas pensei que neste ele já estaria andando", desabafa.

O que dá o movimento das pernas de Clayton, a cadeira de rodas, está quebrada. A espera por uma nova através da Casa de Saúde já chega a oito meses. Por ser de estrutura fixa, uma das barras de encosto para as costas partiu ao meio e vem sobrevivendo a várias remendadas. O custo para uma nova é em média R$1,2 mil.

Com punho firme Clayton reescreve o nome e o capítulo de uma nova história. (Foto: Marlon Ganassin)
Com punho firme Clayton reescreve o nome e o capítulo de uma nova história. (Foto: Marlon Ganassin)

O rapaz tem agenda cheia. Fisioterapia três vezes por semana, fonoaudióloga e ainda os exercícios em casa, em aparelhos de musculação comprados pela família.

"Eu faço tudo, só na balada que ainda não fui", brinca o jovem.

Apesar da situação Clayton fala de planos, de tudo que pretende reconstruir e sem mágoas de quem lhe roubou do presente. "Raiva eu não sinto. Eles estão pagando pelos erros deles e eu estou tentando retomar a minha vida. Deixei eles para lá, eu só penso em voltar a andar, a estudar e quem sabe fazer de novo uma faculdade". Para isso, os primeiros passos já foram dados nesta segunda-feira.

Com atenção e calma ele escreve no caderno o nome completo. Com a dificuldade esperada pela proporção da lesão ele pede para apoiar a folha. Depois de pronto, a equipe lê em voz alta o que foi escrito com tanto esforço. "Clayton Jonas Torres Freitas" e ele responde "o próprio".

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