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Capital

Um dia após corpo de criança ser localizado, lixão segue sem nenhum segurança

Paula Maciulevicius | 30/12/2011 16:42

“Mesmo para a gente que é acostumada, dói de ver. Eu já liguei em Conselho Tutelar, liguei no dia que uma criança quase morreu e ninguém. Ninguém fez nada. Dói e precisou chegar acontecer”

É até difícil de ler, escondida em meio às Palmeiras secas, mas placa proíbe, em vão, a entrada de crianças e adolescentes no lixão. (Foto: Pedro Peralta)
É até difícil de ler, escondida em meio às Palmeiras secas, mas placa proíbe, em vão, a entrada de crianças e adolescentes no lixão. (Foto: Pedro Peralta)

Entrar e sair do lixão localizado na saída para Sidrolândia não requer nenhuma parada. Mesmo depois do episódio da morte de Maikon Correia de Andrade, 9 anos, na tarde de quarta-feira, o aterro estava de portões escancarados, para quem quiser entrar, nesta sexta-feira.

O menino não era para estar lá, nisso não há do que discordar. Mas estava e entrou pelo portão da frente, como mostrado em foto do Jornal O Estado, em matéria feita horas antes do soterramento.

O Campo Grande News esteve no local no final da manhã de hoje, por mais de 1h. O que era para ser o posto de um fiscal está aparentemente abandonado. E a placa que proíbe a entrada de crianças e adolescentes continua escondida, atrás de folhas secas de palmeira.

Por duas vezes a equipe entrou no local, passou pela entrada e não avistou ninguém. Na saída, um grupo de trabalhadores estava ali na frente. Questionados se eram eles quem faziam a segurança do local a resposta foi negativa.

Um deles explicou apenas que era um “guia turístico”, que orientava a população quanto a dúvidas de onde jogar lixo particular, que não fosse da empresa de coleta de lixo Financial e acompanhava parlamentares ou grupos escolares a visitas pelo lixão.

Segundo informado pela assessoria da Prefeitura, é para ter um guarda da Seinthra (Secretaria de Infraestrutura, Transporte e Habitação) direto. A Prefeitura garantiu que ainda hoje um funcionário ficará de prontidão na entrada.

Há 6 anos no lixão, catadora não se acostuma com a presença de crianças no lixão. (Foto: Pedro Peralta)
Há 6 anos no lixão, catadora não se acostuma com a presença de crianças no lixão. (Foto: Pedro Peralta)

Em uma volta pelo lixão, um silêncio. Cena bem diferente da encarada ontem por todos. De escavadeiras, bombeiros, Samu, Defesa Civil e centenas de olhos, dos familiares, amigos e catadores.

Fabiana Romero, 39 anos, catadora há 6, subia o lixão para catar latinhas e plástico. Depois do acontecido era a primeira vez que ela ia para o trabalho. O depoimento dela é forte e traz à tona que a morte da Maikon poderia ter sido evitada.

“Mesmo para a gente que é acostumada dói de ver. Eu já liguei em Conselho Tutelar, liguei no dia que uma criança quase morreu e ninguém. Ninguém fez nada. Dói e precisou chegar acontecer”, desabafa.

Ela e inúmeros de trabalhadores são unânimes em dizer “aconteceu por falta de maiores cuidados. Crianças vivem aqui e pequenas, de 5 ou 6 anos. Mães que trazem os filhos e não tem nada, uma fiscalização, nada. Era colocar Polícia que acabava, ninguém mais entrava”, estampa.

Hoje, 9h, a história de mais uma criança "brincando" no lixão foi enterrada. No sentido literal da palavra. No cemitério Cruzeiro, uma mãe desesperada gritava “meu filho não vai embora, não vai embora. Pelo amor de Deus”. Era Lucilene Corrêa, 31 anos, ao ver a vida do filho resumida a um caixão.

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