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Capital

Universitário perde bolsa, põe a culpa em Temer e vai à rua vender água

Amanda Bogo | 29/09/2016 16:40
Acadêmico vende água durante o dia no semáforo localizado no cruzamento da avenida Ernesto Geisel com a Fernando Corrêa da Costa (Foto: Amanda Bogo)
Acadêmico vende água durante o dia no semáforo localizado no cruzamento da avenida Ernesto Geisel com a Fernando Corrêa da Costa (Foto: Amanda Bogo)

Sem trabalho, sem dinheiro para comprar o passe de ônibus e ir atrás de emprego e com a bolsa integral do Prouni (Programa Universidade Para Todos) cortada pelo Governo Federal, segundo ele de forma injustificada, um acadêmico de direito foi para o semáforo do cruzamento das avenidas Ernesto Geisel e Fernando Corrêa da Costa, em Campo Grande, vender água.

O objetivo, além de arrecadar dinheiro para custear a faculdade, é fazer um apelo social para os problemas de falta de emprego e incentivo ao estudo universitário no país.

No local onde vende água, o homem, de 44 anos que não quis ser identificado nem identificar a instituição que estuda, fixou uma faixa com dizeres onde explica o motivo de estar lá, e faz críticas a atual gestão do presidente Michel Temer (PMDB). “Não estou aqui só pelo apelo financeiro, mas também pelo social. Se bem que, para o que eu gostaria de dizer, seria necessário um outdoor, e mesmo assim faltaria espaço”, explicou o acadêmico. 

Em uma faixa, homem explica porque está no local e faz críticas ao governo de Michel Temer (Foto: Amanda Bogo)
Em uma faixa, homem explica porque está no local e faz críticas ao governo de Michel Temer (Foto: Amanda Bogo)

Desempregado há cerca de seis meses, o universitário recebeu a informação da coordenação da universidade em que estuda de que estava em débito com a instituição porque sua bolsa havia sido suspensa. Ao questionar o motivo, ninguém soube responder. "Nunca tive nenhum problema na faculdade. Sem notas baixas, sem baixo rendimento ou faltas, nada. Perguntei e ninguém soube dizer o porque".

O homem tentou entrar em contato com o MEC (Ministério da Educação) para entender o que havia acontecido, porém só conseguiu acessar um link no site do ministério onde entrou com um recurso. Enquanto aguarda o resultado, ele conseguiu autorização da coordenadora do curso para continuar assistindo as aulas. "Assinei um contrato de responsabilidade. Caso não dê certo o recurso, vou ter que assumir a dívida. Enquanto isso estou assistindo às aulas. Não sei o que vai acontecer".

O universitário trabalhava como autônomo, fazendo instalação de ar condicionado junto com um amigo, que desistiu do trabalho por conseguir algo fixo. Desde então procura uma nova vaga no mercado de trabalho, algo que tem se tornado difícil.  

Ele conta que ia todos os dias à Funtrab (Fundação do Trabalho), mas não conseguia nenhuma oportunidade. Chegou um momento que ele não tinha mais dinheiro para comprar passe de ônibus para ir até a fundação. "Eu gastava seis reais todo dia, chegava lá e nunca encontrava nada. Então pedi para minha mãe vir comigo, comprar três fardos de água para que eu pudesse começar a vender", explicou. 

Para o homem, que tem curso de eletricista e é motorista profissional, a situação é algo provisório. Sem querer chamar a atenção da mídia, que o procurou diversas vezes para dar entrevista, ele espera que de alguma maneira consiga melhorar sua situação. "Isso é um trabalho digno, mas eu engoli meu orgulho, que todo ser humano tem, para estar aqui. Não quero isso para sempre na minha vida, mas precisava fazer algo a respeito da situação". 

Vida acadêmica - O sonho em fazer um curso superior existe desde quando o acadêmico terminou o ensino médio, em 1996, mas o que sempre faltou não foi vontade, e sim oportunidade e instrução.

"Na época que terminei a escola, prestei o vestibular da UFMS para química porque tinha baixa concorrência. Quando saiu o resultado da primeira chamada, vi que não tinha passado e aceitei. Depois de um tempo encontrei uma amiga que perguntou se eu estava gostando do curso, que tinha visto que eu tinha sido aprovado na segunda lista. Eu nem sabia que tinha segunda lista, ninguém me explicou. Com isso perdi uma oportunidade". 

Depois, resolveu viver e acabou deixando de lado a vontade de seguir a vida acadêmica. Casou duas vezes e teve filho. Em 2012, decidiu que era a hora de tentar novamente. Prestou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em 2013 e 2014, quando conseguiu ser aprovado em letras na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), mas não era o que queria, pois a ambição era passar em direito. 

"Consegui fazer 720 pontos na redação do enem, o que me garantiu a bolsa integral para começar o curso de direito no segundo semestre. Por trinta pontos teria entrado na UFMS. Sempre gostei do curso. Mesmo sem estudar, lia, pesquisava, gostava de estar por dentro de tudo", finalizou.

Alguns motoristas param e, sensibilizados com a faixa, compram garrafas de água (Foto: Amanda Bogo)
Alguns motoristas param e, sensibilizados com a faixa, compram garrafas de água (Foto: Amanda Bogo)
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