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Capital

Vaga zero vira caso de polícia e expõe drama de ficar na porta do hospital

“É no mínimo preocupante pacientes morrerem na fila de espera”, diz delegado

Aline dos Santos e Guilherme Henri | 03/05/2016 12:45
Max fez Boletim de Ocorrência para esposa ter vaga  no HR. Ela ficou "internada" na ambulância. (Foto: Fernando Antunes)
Max fez Boletim de Ocorrência para esposa ter vaga no HR. Ela ficou "internada" na ambulância. (Foto: Fernando Antunes)

Jéssica Janaína, 24 anos, veio de São Gabriel do Oeste para Campo Grande em vaga zero, que em tese lhe garantiria acesso ao HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian, contudo esperou cinco horas numa fila de três ambulâncias e só entrou na unidade após a saúde pública virar caso de polícia.

O drama de quem percorre quilômetros e quilômetros para ficar na porta de hospital é recorrente, só mudando o nome dos personagens. Em fevereiro deste ano, Sebastião Nogueira da Silva, 62 anos, viajou 305 km entre Costa Rica e Campo Grande, esperou oito horas por vaga e morreu 20 minutos depois de entrar num hospital. Quem atua no setor pede informatização do setor de regulação das vagas, que hoje ainda funciona com solicitação por meio de fax.

“A central recebe o fax e o papel é analisado. Tinha que fazer diferente, tudo via internet, com e-mail, foto do paciente. Queremos a evolução da central de regulação, que funciona de maneira arcaica. Não regula leito e nem as especialidades, só urgência e emergência”, afirma o presidente do Cosems (Conselho de Secretários Municipais de Saúde de Mato Grosso do Sul), Frederico Marcondes Neto.

Ele também é secretário municipal de Saúde de São Gabriel do Oeste e informa que a transferência da paciente Jéssica Janaína de Souza do Nascimento só foi liberada porque a vaga estava garantida. “Se liberou a vaga é obrigado a receber, mesmo que fique no corredor”, diz Frederico. A paciente teve agravamento do quadro de diabetes e suspeita de pneumonia. Na viagem, ela veio acompanhada por uma médica e pelo marido.

Setor de pronto-atendimento enfrenta falta de vagas. (Foto: Fernando Antunes)
Setor de pronto-atendimento enfrenta falta de vagas. (Foto: Fernando Antunes)

De acordo com o técnico em elétrica Max Ricardo do Nascimento, 29 anos, a ambulância chegou ao HR por volta das 2 horas desta terça-feira (dia 3). No local, se formou uma fila. Numa ambulância estava sua esposa; na segunda, um paciente de Coxim com suspeita de meningite; e no terceiro veículo uma pessoa com hemorragia.

“Me informaram que não tinha vaga. Que eram sete leitos e quatro pacientes a mais. A médica tentou negociar para ver se tinha em outro lugar, mas não tinha vaga em nenhum outro hospital”, relata. Ele conta que o quadro era de cetoacidose, quando organismo, na falta de glicose, é forçado a consumir proteínas.

Temendo pela vida da esposa, com que é casado há três anos, Max procurou a Depac Piratininga (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) para fazer valer a Constituição Federal. Com o Boletim de Ocorrência por omissão de socorro, finalmente foi feito o cadastro da paciente. Em seguida, Jéssica entrou no hospital. Primeiro com a maca da ambulância, que depois foi liberada e só então o veículo pôde retornar a São Gabriel do Oeste.

“A gente se sente menosprezado. Trabalho com carteira assinada, pago meus impostos”, afirma Max, que depois de conseguir pôr a esposa no hospital, pôde, enfim, pegar a mala deixada no cantinho da calçada e esperar por melhores notícias.

Ala vermelha - Conforme a assessoria de imprensa do Hospital Regional, a paciente veio em vaga zero de São Gabriel do Oeste, mas ficou na ambulância por falta de leito. O ingresso dela na unidade hospitalar foi às 7h30. Ela foi levada para área vermelha e passou por exames. Conforme o histórico, a paciente foi diagnosticada com diabetes, mas não aceitou tratamento.

Drama – Titular do SIG (Setor de Investigações Gerais), o delegado Clerverson Alves dos Santos afirma que os casos de falta de leito têm ocorrido com frequência. “É no mínimo preocupante pacientes morrerem na fila de espera”, salienta. Caso comprovada a omissão de socorro, os responsáveis podem responder até por homicídio.

Segundo a assessoria de imprensa da SES (Secretaria Estadual de Saúde), é melhor deixar o paciente estabilizado na ambulância do que de um lado para o outro. A reportagem não conseguiu contato com o secretário de estadual de Saúde, Nelson Tavares.

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