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Capital

Vizinhos dizem já ter se acostumado com acampamento na calçada da Santa Casa

Paula Vitorino | 08/11/2011 14:24

Andarilhos utilizam calçada da rua 13 maio como moradia há quase 4 anos

Comerciante é vizinha de acampamento e diz não ter problemas. (Foto: João Garrigó)
Comerciante é vizinha de acampamento e diz não ter problemas. (Foto: João Garrigó)

Quem passa e trabalha ao redor da calçada da Santa Casa, na rua 13 de maio, parece já ter se acostumado com a “casa” improvisada no local. O acampamento já está na calçada há quase 4 anos e a cada dia ocupa mais espaço, com novos aparatos para melhorar a “moradia ao relento”.

O cenário foi mostrado pelo Campo Grande News em julho e continua o mesmo.

Entre os vizinhos, é consenso a opinião de que “eles não incomodam, são na deles”. Mas também afirmam que “melhor seria arrumar uma casa para morarem, ia melhorar pra todo mundo”.

O que mais incomoda a maioria das pessoas que passa ou convive pela região é a situação desumana. “É difícil conviver com isso. São seres humanos também e vivem em meio a sujeira. A situação é ruim tanto para eles, como pra nós”, diz a vendedora Ivoneide Ribeiro dos Santos, de 44 anos.

O acampamento abriga três pessoas, que são apresentadas como fixas, mas também outros visitantes, que vez ou outra aparecem para “tomar uma pinga”. Lu, de 26 anos, é a líder do local e encarregada de dividir as tarefas entre Pedro, de 32 anos, e Baiano. Um quarto companheiro morreu há alguns meses.

O caminhoneiro Isaías Alves, de 53 anos, é apresentado pelos moradores como “um dos amigos”. Ele passa pelo local, cumprimenta a todos e diz que “todos são gente boa”.

Para ele, o grupo não causa transtornos, mas seria melhor para o “movimento da cidade que eles fossem para outro lugar, com condições adequadas de moradia”.

O único tumulto provocado pelo grupo são as brigas entre eles mesmos, contam os moradores. “Às vezes brigam, aí aparece a Polícia por aqui, mas é sempre briga entre eles mesmo”, diz Ivoneide.

Calçada é dividida entre "casa", cachorros e pedestres.
Calçada é dividida entre "casa", cachorros e pedestres.

Segundo os comerciantes, os andarilhos são conhecidos e frequentemente pedem água ou café. Eles também são clientes das lanchonetes ao redor.

“Compram pastel, refrigerante e pagam tudo”, diz a comerciante Neuza Rosileine de Souza, de 55 anos.

Ela faz questão de elogiar o bom comportamento dos vizinhos, principalmente da Lu. “É uma menina honesta, dou dinheiro para ela comprar alguma coisa no mercado e ela volta com tudo certinho, a nota e troco”, frisa.

Os andarilhos dizem que conseguem o dinheiro para o sustento com a ajuda de doações e guardando os carros ao redor. A comerciante Neuza diz que a Lu sempre ajuda com as tarefas e ela paga com salgados ou refrigerantes. “Dinheiro eu não dou para comprar cachaça”, frisa.

Sobre os clientes, a comerciante diz que nunca ouviu reclamação e só comentários de pessoas preocupadas com a situação. “Sempre falam, nossa como que uma menina de bem dessa mora na rua”, diz.

Mas um comerciante, que não quis se identificar, afirma que muitos clientes tem medo de parar em frente a loja por conta dos moradores de rua próximos.

A técnica em enfermagem, Elini da Silva, de 28 anos, diz que sempre passa pelo local e já ajudou o grupo com doações de roupas. Ela conta que já andou pelo trecho a noite e nunca foi incomodada pelos moradores, mas ressalta que o cheiro forte ao redor é o que mais causa transtorno.

Junto com os andarilhos moram um casal de cachorros e vários filhotinhos, com poucos dias de vida. Eles já ganharam casinhas de voluntários de Ongs.

Solução - A Prefeitura Municipal informa por meio da assessoria da imprensa que já foi até o local várias vezes e ofereceu todos os tipos de ajuda, mas os moradores não manifestaram interesse.

Segundo a administração, os andarilhos não apresentam os documentos pessoais para fazer cadastro na EMHA e também não manifestaram interesse em fazer o registro.

A Prefeitura não tem o poder de Polícia para retirar a força os moradores, e os policiais só podem fazer a retirada caso haja indícios de que o grupo oferece algum risco para a população.

Já os moradores afirmam que querem um teto e um emprego, mas não sabem como sair da rua.

“A gente não tem nem documento, como que eu vou procurar emprego?”, diz Lu.

Sobre a ação da Polícia, Baiano diz que ninguém ali apronta e que “a cadeia já está cheia de preso, por isso eu não vou matar e roubar, vou continuar pedindo”.

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