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Capital

Zeolla reforça arrependimento, diz ter engordado 40 kg e fala de Deus ao júri

Marta Ferreira e Aline dos Santos | 21/06/2011 10:54
Zeolla conversa com o defensor, Ricardo Trad, durante julgamento. (Foto: Marcelo Victor)
Zeolla conversa com o defensor, Ricardo Trad, durante julgamento. (Foto: Marcelo Victor)

Por meia hora, o procurador aposentado Carlos Alberto Zeolla, de 46 anos, contou hoje, ao júri que vai decidir se ele é culpado ou inocente, a sua versão sobre porque matou o sobrinho, Cláudio Alexander Zeolla, 23 anos, no dia 3 de março de 2009. A narração dele, que começou um dia antes do crime e foi até os momentos posteriores, emocionou parentes de réu e vítima, que chegaram a chorar no plenário.

“Foi a maior loucura da minha vida”, disse um Zeolla diferente do homem visto em outras audiências do processo. Nas outras sessões e em oportunidades em que foi flagrado quando saía da Clínica onde está internado para fazer exames médicos, Zeolla parecia estar sempre sob efeito de medicamentos.

Ao relatar o crime, argumentou que ele não pode ser dissociado da “destruição da imagem do pai que ele tinha como herói deste criança”.

Nesta manhã, quem falou foi uma pessoa lúcida, calma, controlada, quase com o tom profissional de quem atuou tanto tempo como promotor. Disse estar, hoje, pesando 40 quilos a mais gordo do que quando aconteceu o crime. De lá pra cá, Zeolla converteu-se à Igreja Universal do Reino de Deus e disse que pretende, daqui para frente, “trilhar os caminhos das plavras de Deus”.

Por várias vezes, Zeolla se declarou profundamente arrependido do que fez ao falar ao júri. “Perdi a cabeça”, disse, enquanto narrou o que, segundo ele, aconteceu naquele 3 de março.

Cronologia-O procurador disse que estava, na época, passando por complicações de uma cirurgia para redução de estomâgo e, no dia 2 de março de 2009, fez exames médicos e teve dificuldades para dormir.

Neste dia, ao acordar, segundo relatou, ouviu dois sobrinhos cochichando sobre uma agressão de Cláudio ao avó, Américo Zeolla, falecido no ano passado. Os sobrinhos contaram a ele sobre o aconteceu e ele, então, diz ter saído com eles para procurar Cláudio.

A intenção era dar um corretivo. Conforme Zeolla, os três foram ao supermercado onde Cláudio estava trabalhando e não o encontraram.

Zeolla, então, decidiu voltar para casa, e, depois, ir à casa do pai, onde Cláudio morava. Lá, encontrou o pai com dores nas costas, por causa de um empurrão, e bastante abalado pela agressão. O idoso foi levado para hospital para ser atendido. Américo Zeolla tinha 76 anos então.

A sugestão que o procurador diz ter dado foi de ir à Polícia e até pedir, judicialmente, o afastamento de Cláudio, como prevê o Estatuto do Idoso em casos de violência. Américo Zeolla rejeitou a ideia, para não prejudicar o sobrinho, conforme o depoimento no plenário do procurador.

Após isso, ele foi para casa e, segundo relatou, novamente não dormiu, mesmo tento tomado medicamentos fortes, como Rivotril. No outro dia cedo, voltou à residência do pai.

Contou ter encontrado o idoso chorando e debilitado e que, diante disso, ficou ainda mais impressionado, em ver daquele jeito o pai, de quem lembrou como “herói de guerra”.

“Pedi a cabeça”, resumiu. A sequência, conforme Zeolla, foi de chamar o então adolescente que atuava como uma espécie de faz-tudo, inclusive motorista do procurador, pegar a arma do pai, que sabia onde guardava, caminhar por meia hora com ela presa à cintura, no Horto Florestal, em Campo Grande, e depois ir ao local onde o sobrinho praticava musculação, uma academia na rua Bahia.

Lá, conforme o relato de Zeolla, ele parou o carro, fechou os vidros escuros para não ser visto por Cláudio, e quando o sobrinho saiu, atirou pelas costas. Porquê? “Tive medo do confronto pela frente”, declarou hoje.

Nesse ponto do relato, Zeolla reforçou a tese do arrependimento dizendo que, ao saber que o sobrinho estava em estado grave na Santa Casa, por uma equipe de policiais militares que foi à casa dele, disse ter acionado um médico neurologista para tentar salvar Cláudio Alexander, o que não foi possível.

Inimaginável-O procurador, aposentado só depois do episódio, embora já tivesse apresentado 45 licenças por causa de problemas psiquiátricos, declarou que nunca se imaginou na situação de hoje, no banco dos réus.

Encerrou sua fala novamente falando de religião e afirmou que a “justiça dos homens não é a justiça de Deus”. Por fim, disse confiar na decisão “soberana” do júri.

Zeolla é acusado de homicídio qualificado por recurso que dificultou a defesa da vítima.Seu defensor, o criminalista Ricardo Trad, pede que ele seja considerado ininputável, por causa da doença mental.

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