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Cidades

Com impunidade entalada na garganta, indígenas pedem Justiça

Filipe Prado | 30/05/2014 17:22
Indígenas percorrem o centro da Capital durante o manifesto (Foto: Marcos Ermínio)
Indígenas percorrem o centro da Capital durante o manifesto (Foto: Marcos Ermínio)

“A impunidade está entalada na garganta”, esta era a sensação dos 150 manifestantes que se reuniram na Praça Ary Coelho na tarde de hoje (30) para marcar um ano da morte do terena Oziel Gabriel, 35 anos. No ano passado, durante desocupação feita pela Polícia Federal, o indígena foi baleado e morreu minutos depois de dar entrada no Hospital de Sidrolândia. A bala que matou Oziel e o culpado nunca foram encontrados.

Durante a passeata, que percorreu a Avenida Afonso Pena e as ruas 14 de Julho, Marechal Rondon e 13 de Maio, os indígenas pediram justiça. “Viemos buscar uma resposta. Quem matou o Oziel”, comentou educador popular Anísio Guato, 48 anos, que comandou a passeata.

Várias faixas e cartazes mostraram a indignação dos indígenas de Sidrolândia, a 70 quilômetros de Campo Grande. Em dois ônibus, cerca de 100 familiares e amigos de Oziel saíram das aldeias Buriti, Água Azul e Córrego do Meio para o manifesto.

Além dos indígenas, 15 entidades e vários campo-grandenses se uniram a passeata, como Coletivo Terra Vermelha, CUT (Central Única dos Trabalhadores), CIMI (Conselho Indigenista Missionário), Artistas da Terra, Associação dos docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e a Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação).

A pedagoga Regina Martins, 49, do Coletivo Terra Vermelha, fez questão de participar das manifestações em homenagem ao terena. “O assassinato não chocou somente os indígenas. Eu, como sul-mato-grossense, também me senti atingida”, revelou.

“Quero uma explicação. Até hoje não houve a identificação de quem matou Oziel”, acrescentou a pedagoga.

A investigação da Polícia Federal que apurava a morte de Oziel foi concluída no dia 5 de dezembro do ano passado. Foram colhidos mais de 70 depoimentos, entre indígenas, policiais federais e militares, Tropa de Choque da PM e jornalistas, além de anexados laudos técnicos periciais.

Com 2,1 mil páginas, o inquérito não aponta quem disparou contra Oziel. Tudo porque o projétil que matou o índio não foi encontrado.

Anísio contou que eles vieram procurar respostas para a morte de Oziel (Foto: Marcos Ermínio)
Anísio contou que eles vieram procurar respostas para a morte de Oziel (Foto: Marcos Ermínio)

Os pais de Oziel não puderam participar do protesto, mas os irmão do terena viajaram até Campo Grande para reforçar a manifestação. “Nós queremos sair daqui com algo concreto, que algo apareça, que alguém seja responsabilizado”, afirmou Otoniel Terena, 32.

Os indígenas, após concentração na praça, foram até a Superintendência da PF (Polícia Federal) para pedir uma nova investigação. “Se não conseguirmos uma resposta até o dia 6 de junho, que é nosso prazo máximo, nós faremos justiça com nossas próprias mãos”, destacou Diones Gabriel, 30, irmão de Oziel, que disse que irão reocupar as terras, caso nada seja resolvido.

Os terenas lutam pela ampliação da reserva de 2 mil para 17 mil hectare em Sidrolândia. Os índios querem a demarcação da área e Justiça. A presidente da República, Dilma Rousseff (PT) autorizou o enviou de tropas federais ao Estado e determinou a agilização na solução do conflito na região.

No entanto, o Governo federal pretende pagar R$ 78 milhões pelas terras, mas os produtores exigem, pelo menos, R$ 124 milhões. O impasse deve ser solucionado até 30 de junho deste ano, segundo a última promessa feita pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

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