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Cidades

Crianças e jovens indígenas são os mais atingidos por clima de guerra

Edivaldo Bitencourt | 19/04/2013 11:20
Índios se pintam para lutar pelos seus direitos (Foto:João Carrigó/Arquivo)
Índios se pintam para lutar pelos seus direitos (Foto:João Carrigó/Arquivo)
As mulheres também vão à luta por mais espaço (Foto:João Carrigó/Arquivo)
As mulheres também vão à luta por mais espaço (Foto:João Carrigó/Arquivo)

Ações por décadas na Justiça, miséria, preconceito, violência, medo e uma guerra acirrada pela disputa da terra. Esta é a situação da maior parte dos 65 mil indígenas em Mato Grosso do Sul. Apesar dos esforços das autoridades estaduais e federais, pouco foi feito na prática para pôr fim aos conflitos e o clima é de guerra.

E quem mais sofre neste confronto são as crianças e os jovens, segundo o professor de História da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Neimar Machado. Ele conta que 54% dos indígenas possuem menos de 19 anos de idade no Estado. “As crianças são as que mais sofrem”, contou o pesquisador.

Os problemas vão desde falta de água de qualidade nas aldeias até de veículos para realizar o transporte escolar.

Este não é um problema na aldeia indígena Tey ikeu, em Caarapó, onde ônibus garantem o transporte escolar dos 1.360 alunos matriculados no ensino fundamental e outros 300 do médio, segundo o professor Eliel Benites, de 33 anos, que faz mestrado em Educação na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco). Eles frequentam uma escola pólo e três extensões dentro da reserva indígena de 3.594 hectares.

Na aldeia, um adolescente foi morto a tiros por um produtor rural em fevereiro deste ano. Segundo Benites, o medo da violência e o preconceito estão marcando os dias na comunidade. “Eles acham que índio só quer terra e não fazer nada”, conta o indígena. “Nós temos medo, não andamos tranqüilo, porque as pessoas ficam de olho”, comentou, sobre o aumento da tensão após as mortes no campo. A outra registrada neste mês foi de um policial aposentado em Douradina, a 196 quilômetros da Capital.

Para o professor da UFGD, a violência é reflexo da demora na demarcação das terras indígenas. Ele denuncia que existe ação de milícias armadas que são apresentadas para a sociedade como se fossem seguranças profissionais.

O outro problema é a demora das ações na Justiça para por fim à disputa entre índios e produtores rurais. O caso mais emblemático é o dos índios Kadiwéus, em Porto Murtinho, que aguardam o julgamento de uma ação no Supremo Tribunal Federal desde 1987. Eles reivindicam a saída dos produtores rurais de uma área de 160 mil hectares.

Não são os únicos a ter processos parados na Justiça. Levantamento do MPF (Ministério Público Federal) revela que 87 ações sobre áreas indígenas tramitam apenas no Tribunal Regional Federal da 3ª Região, sem considerar os casos nos fóruns da Capital, Dourados, Naviraí, Ponta Porã e Corumbá.

Para Neimar Machado, o agronegócio também tem prejuízos com o prolongamento da disputa no campo entre índios e produtores. Investidores ficam inseguros em adquirir propriedades nos municípios sedes dos conflitos. Sem interessados, o preço da terra despenca nas regiões.

Além disso, grandes grupos econômicos e alguns países, principalmente da Europa, pressionam contra a compra de produtos, como cana-de-açúcar, soja e boi, produzidos em áreas em litígio. Essa pressão, acaba prejudicando o agronegócio, alerta Neimar. Segundo o IBGE, o Estado conta com 62,4 mil índios vivendo em aldeias e outros 2,7 mil nas cidades.

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