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Cidades

Dono de restaurante não vê racismo e descarta pedir desculpas a gesseiro

Elverson Cardozo | 24/07/2013 15:20
Daniel mostra a mão, negra, e mantém versão de que foi discriminado (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)
Daniel mostra a mão, negra, e mantém versão de que foi discriminado (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)

Renato Marcondes, proprietário do restaurante Indez, em Campo Grande, onde um gesseiro negro alega ter sido discriminado por um garçom neste final de semana, ao tentar comprar água, avalia que o atendimento prestado ao cliente foi satisfatório e, portanto, não vê erro por parte do atendente. Ele também descarta "pedir desculpas" ao trabalhador. Disse, ainda, que a versão que dispõe, depois de uma conversa com o funcionário, já identificado, é diferente da apresentada pelo homem.

A polêmica surgiu no sábado (20), depois que o gesseiro Daniel dos Santos Araújo, 45 anos, procurou a polícia para registrar um boletim de ocorrência pelo crime de racismo. Na data em questão, ele estava trabalhando em uma obra próxima ao restaurante e, com sede, foi ao estabelecimento, por volta das 11h, para comprar água.

Na entrada do restaurante, Daniel conta que, para se certificar, perguntou a um casal que estava na calçada se ali vendia refrigerante e água. Com a resposta positiva, se dirigiu ao garçom.

Na versão dele, o funcionário, sem ao menos ser questionado, disse que o produto custava R$ 3,50, mas o Indez não vendia água e ele poderia encontrar a mercadoria “baratinha", em um posto próximo, no cruzamento da rua Espírito Santo com a Mato Grosso.

Daniel foi ao local, comprou a água e, no caixa, comentou o caso a uma funcionária que o orientou a procurar a delegacia. Ele ligou para o 190 e recebeu a sugestão de pedir que uma pessoa branca tentasse comprar a mesma garrafa.

A missão foi cumprida por um sobrinho dele, branco, que, segundo relatou, comprou o produto por R$ 3,30 e sem problemas. Para o gesseiro, a suspeita de racismo ficou explícita e foi confirmada neste momento.

Outra versão – O dono do restaurante, Renato Marcondes, informou ao Campo Grande News, em entrevista via e-mail (feito a pedido do filho dele, advogado, que se apresenta como Leonardo), que tem uma versão diferente para os fatos.

O garçom já foi identificado e, em conversa o proprietário, contou que o gesseiro, diferente do denunciado à imprensa e à polícia, foi ao estabelecimento e pediu um refrigerante de 600 ml ou uma água de 1,5 litros.

Disse que estava trabalhando e que iria dividir o conteúdo com alguns colegas. O funcionário teria informado, então, que ali não eram vendidos esses produtos, com as quantidades solicitadas.

“O Sr. Daniel teria dito que a coca em lata e a água de 500 ml vendidas no Indez não serviriam para ele. Agradeceu ao garçom e se dirigiu à loja de conveniência próxima”, relatou o proprietário, acrescentando que, no mesmo dia, um colaborador que testemunhou esse atendimento confirmou a versão e ainda disse que achou que o garçom estava ajudando o gesseiro.

Sobre a venda posterior ao sobrinho branco de Daniel, Marcondes declarou que, diferente da suposta vítima de racismo, o rapaz não especificou a quantidade do produto que queria e, por isso, conseguiu comprar. “[Ele] apenas pediu uma garrafa de água, e foi lhe vendida a de 500 ml, justamente aquela que dispomos no restaurante”, argumentou.

Polêmica – Sobre a repercussão do fato, Renato ressaltou que “uma investigação acerca de qualquer hipótese de discriminação é sempre positiva”, tendo em vista que é um delito que, nas palavras dele, jamais deve ser tolerado”.

Disse mais: “Infelizmente, algumas pessoas, no afã de realizar justiça social, cometem julgamentos sumários sem se inteirar das demais versões dos fatos, o que é uma injustiça enorme”, escreveu, ao comentar que “o Indez é um estabelecimento que sempre buscou, e muito, a integração e a harmonia entre todos os seus clientes”.

Abaixo, leia, na íntegra, a entrevista concedida ao Campo Grande News:

- O que o senhor acha da repercussão desse fato? Como avalia isso?

Primeiramente, nos parece que uma investigação acerca de qualquer hipótese de discriminação é sempre positiva, pois este é um delito que jamais deve ser tolerado. Infelizmente, algumas pessoas, no afã de realizar justiça social, cometem julgamentos sumários sem se inteirar das demais versões dos fatos, o que é uma injustiça enorme. O Indez é um estabelecimento que sempre buscou, e muito, a integração e a harmonia entre todos os seus clientes. Aqueles que frequentam a casa e demais pessoas que conhecem os que administram o restaurante sabem muito bem disso.

- Ontem, durante uma ligação comigo, foi mencionada uma “versão diferente”. Que versão é essa? O garçom já foi identificado? Houve alguma conversa?

O garçom foi identificado e houve uma conversa com ele. A versão que nos foi apresentada é a seguinte: o Sr. Daniel pediu um refrigerante de 600 ml ou uma água de 1,5l. Afirmou que estaria trabalhando e que dividiria o conteúdo com alguns colegas. O garçom que realizou o atendimento informou ao Sr. Daniel que estes produtos não eram vendidos no restaurante. Nos disse ainda, que indicou a loja de conveniências de um posto próximo como um local onde ele poderia achar os itens que buscava.O Sr. Daniel teria dito que a coca em lata e a água de 500 ml vendidas no Indez não serviriam para ele. Agradeceu ao garçom e se dirigiu à loja de conveniência próxima. Um outro funcionário que testemunhou este atendimento confirmou esta versão e ainda disse que achou que o garçom estavasimplesmente ajudando o Sr. Daniel, ao indicar um local próximo onde ele poderia achar os itens buscados.

- A pergunta que o gesseiro faz e que, inclusive, gerou questionamentos por parte dos nossos leitores, é a seguinte: Por que o garçom, segundo relatos do denunciante, se negou a vender água para um negro e, momento depois, vendeu o mesmo produto para o sobrinho da suposta vítima, que é branco?

Por que o Sr. Daniel queria adquirir produtos que não são vendidos no estabelecimento, conforme explicado acima. No caso do seu sobrinho, conversando com o garçom que fez seu atendimento, o mesmo nos informou que ele não pediu especificamente uma água de 1,5 litro. Apenas pediu uma garrafa de água, e foi-lhe vendida a de 500ml, justamente aquela que dispomos no restaurante.

- Pretende chamar o gesseiro para uma conversa? Cogita pedir desculpas?

Se o Sr Daniel quiser entrar em contato para esclarecer a situação, nos prontificamos a atendê-lo prontamente, como fazemos com qualquer cliente insatisfeito. Em relação à um pedido de desculpas, de acordo com a versão que nos foi apresentada, entendemos que o atendimento que lhe foi proporcionado foi o dispensado a todos que vêm à casa em busca de um produto que não vendemos. De acordo com a versão que nos foi apresentada até o momento, não entendemos que houve qualquer erro por parte do atendente.

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