ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, SEXTA  29    CAMPO GRANDE 23º

Economia

Baixo salário em função convencional leva as mulheres à construção civil

Aline Queiroz | 25/03/2011 22:25
Mulher-pedreira uma realidade já comum nas construções civis (foto: João Garrigó)
Mulher-pedreira uma realidade já comum nas construções civis (foto: João Garrigó)

Marlene leva um sobrenome que faz jus à história de vida. Cansada da empresa de embutidos que mantinha com pouco lucro ela decidiu mudar de profissão e ganhou um campo “tradicionalmente” masculino. Marlene Valente, hoje com 40 anos, entrou há três anos para a construção civil, setor da indústria em expansão.

Como nunca havia feito trabalho semelhante, procurou o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), que promove cursos para atender à demanda por mão-obra qualificada que o setor exige.

Projeto de capacitação voltado ao segmento, o “Colher na Massa” colocou no mercado só no ano passado mil pessoas, do total, 254 foram mulheres. Em 2009, foram qualificadas 800 trabalhadores, das quais 213 são mulheres.

O primeiro curso que Marlene fez foi para pintor de parede. “Depois que entrei não saio mais. Só a morte para me tirar da obra”, conta Marlene. Depois do primeiro curso vieram os outros, para pedreiro e empreiteira.

Assim como Marlene, Elenir Jesus Leite Barbosa, 31 anos, encontrou na construção civil uma paixão. Ela trabalhava como vendedora de loja e, desempregada, compreendeu que precisava se qualificar para conseguir novo emprego.

Elenir conta que fez curso para costura industrial e não gostou. Como o marido é pedreiro, ela começou a ajudá-lo para construção da casa da família.

No entanto, Elenir sabia que precisava se profissionalizar para entrar neste mercado. “Não dá para sair fazendo parede”, completa.

O primeiro curso que fez foi para pintor, depois veio o de encanador, carpintaria e ferreiro armador. Atualmente, Marlene trabalha na construção de um grande edifício na Avenida Ricardo Brandão.

Com botas, calças largas e camisetas, ela não deixa de lado a vaidade. Elenir trabalha com brinco, batom e unhas esmaltadas.

A operária garante que não sofre preconceito nem com piadinhas dos colegas, a maioria homens.

Mais “valente”, Marlene enfatiza: “Quando eu cheguei no meu primeiro trabalho disse logo que quem me desrespeitasse ia tomar na cara”, lembra.

Já a chefe de segurança do trabalho, Tatiane Benevides, 28 anos, conta que era vendedora de loja e, quando se “cansou” dos clientes, decidiu entrar na construção civil.

“A mulher conquistou o mercado de trabalho e está mostrando cada vez mais que pode fazer o que os homens fazem. Sem desmerecer os homens, mas a diferença é que na obra a mulher tem mais capricho”, completa.

Elenir destaca a importância da qualificação profissional para aqueles que desejam entrar neste mercado. “O aprendizado é mais exato. Você aprende a fazer da forma correta”, destaca.

Mulheres têm conquistado mais espaço no mercado de trabalho (foto: João Garrigó)
Mulheres têm conquistado mais espaço no mercado de trabalho (foto: João Garrigó)

Mulherada - Para o gerente de Educação e Desenvolvimento Tecnológico do Senai, Jesner Escandolhero, zelo, asseio, atenção a detalhes, capacidade de organização e o compromisso com bons resultados garantem são características que têm possibilitado o acesso da mulher neste setor.

Ele pondera que as ocupações da construção civil são estigmatizadas quanto ao gênero, ou seja, são considerados postos de trabalhos adequados aos homens, o que não é verdade.

“Embora, ainda, em algumas ocupações do setor a necessidade do emprego de esforço físico ainda seja uma realidade, a evolução tecnológica tem contribuído no surgimento de técnicas operacionais onde o conhecimento e a habilidade são mais relevantes. Historicamente, a participação feminina nas ocupações da construção civil é muito tímida. Entretanto, percebe-se uma discreta evolução na quantidade de mulheres atuando neste setor”, diz Jesner.

Expansão - A construção civil foi a área que mais abriu postos de trabalho no último levantamento do Radar Industrial da Fiems com base nos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho e Emprego.

O setor industrial de Mato Grosso do Sul, composto pelas indústrias de transformação, extrativismo mineral, construção civil e de serviços de utilidade pública, já registra a maior geração de empregos no ano, com 4.022 vagas abertas de janeiro a fevereiro.

Com 1.966 postos de trabalho, o segmento industrial que mais abriu novas vagas foi o da construção civil. Os salários iniciais vão de R$ 545,00 a R$ 842,00.

Nos siga no Google Notícias