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CCR traz haitianos para obra que vai tirar fama de "rodovia da morte" da BR-163

Caroline Maldonado | 29/04/2014 16:55
Com o salário que recebe, Seviens Finelus sustenta a família no Haiti (Foto: Cleber Gellio)
Com o salário que recebe, Seviens Finelus sustenta a família no Haiti (Foto: Cleber Gellio)

O canteiro de obras de recuperação e duplicação da BR-163, iniciadas nesta semana pela CCR MSVia (Companhia de Participações em Concessões), tem um sotaque diferente em meio aos brasileiros. Há 12 haitianos entre os operários que atuam, contratados pela empresa responsável pelos serviços, em Campo Grande. A concessionária pretende reduzir o índice de acidentes na estrada, que ficou conhecida como "rodovia da morte".

Segundo o coordenador de obra, Fernando Miranda, falta gente interessada no trabalho e os estrangeiros estão suprindo essa necessidade. “Eles trabalham muito bem, por isso queremos trazer pelo menos mais dez haitianos para atuar na obra”, disse. A carga horária é de oito horas diárias e o salário da função de ajudante pode chegar a R$ 1.200,00. Embora o mercado não esteja tão aquecido quanto já esteve e algumas obras de grande porte estejam em fase final em Mato Grosso do Sul, como o Aquário do Pantanal, ainda é tarefa difícil conseguir pessoal, conforme o sindicato dos trabalhadores na área.

De acordo com o presidente do Sintracom (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário), José Abelha, esse cenário tem dois motivos. “Uma questão é que a lucratividade é pouca, por isso as pessoas buscam a informalidade e também a falta de pessoas qualificadas”, afirmou. Além dos haitianos, o setor em Campo Grande já atrai paraguaios e bolivianos.

Savilien Alex, 41 anos, é um dos haitianos que cumprem 8h diárias nas obras da BR (Foto: Cleber Gellio)
Savilien Alex, 41 anos, é um dos haitianos que cumprem 8h diárias nas obras da BR (Foto: Cleber Gellio)

Longe de casa - Entre os haitianos que estão trabalhando nas obras da BR, a saudade da família é a única dificuldade. Sempre sorridentes, eles fazem um esforço para se comunicar em português. A língua original deles é o francês.

O ajudante de obras Savilien Alex, de 41 anos, que já trabalhou também na República Dominicana, como pedreiro, conta que aqui no Brasil está tendo a melhor oportunidade de sua vida, pois o salário é mais alto e tem boa estadia, oferecida pela empresa.

“Eu estou gostando daqui, queria trazer minha esposa, preparei os documentos, mas depois desisti, porque ela ia deixar meus filhos com os vizinhos”, comentou.

Passados quatro anos do terremoto no Haiti, que expulsou muita gente do país, a situação ainda é difícil. Savilien contou que, por mais que as pessoas queiram se ajudar, não têm condições. “Hoje meu vizinho pode até me ajudar, mas amanhã ele já não vai ter condições, porque cada um tem seus problemas. As passagens de avião são muito caras também, então não posso pensar em ficar no Brasil sem a família e nem em voltar logo. Estou pensando apenas no agora”, disse.

De família de agricultores, Seviens Finelus, de 26 anos, e Bernadel Heriase, de 32 anos, também reclamam que não há como fazer muitos planos, porque os custos são muito altos. A única coisa que conseguem é se manter e mandar dinheiro para as esposas, que não trabalham no momento. Embora lamentem as condições do Haiti, os operários não se queixam do país, mas se mostram animados com as oportunidades no Brasil.

Os haitianos, que atuam nas obras da BR-163 são contratados pela EMPA Serviços de Engenharia, terceirizada pela CCR MSVia. Segundo a empresa, a documentação deles está legal. O Ministério das Relações Exteriores informa, em seu site, que para trabalhar no Brasil, eles precisam, primeiro, procurar a Polícia Federal, para registrar-se e solicitar a identidade de estrangeiro. Depois de obter o documento podem, normalmente, fazer a carteira de trabalho. 

Expectativa - A CCR MSVia ganhou o direito de administrar a rodovia pelos próximos 30 anos e além de duplicar, investirá R$ 333,3 milhões na realização de melhorias. Com investimento total de R$ 6 bilhões, serão duplicados 845,4 quilômetros da BR-163, que cruza todo o Mato Grosso do Sul, desde a divisa com o Paraná, ao Sul, a partir da cidade de Mundo Novo até a divisa com o Mato Grosso, ao Norte, na cidade de Sonora. 

A duplicação gera grande expectativa entre os sul-mato-grossenses, pois nos últimos sete anos, 661 pessoas perderam a vida em acidentes no trecho que receberá as obras, segundo a PRF (Polícia Rodoviária Federal). Em função disso, a BR-163, usada para escoamento de produção, ficou conhecida como "rodovia da morte".  

O objetivo da CCR MSVia, é diminuir em 45% o número de acidentes fatais na rodovia. Para tanto, além de atuar com engenharia, a concessionária pretende fazer campanhas educacionais e instalar radares em pontos críticos. 

Serão disponibilizadas 17 bases de equipes especializadas no atendimento pré-hospitalar, desobstrução de pistas, reboque mecânico, apoio e informação. Haverá ainda 35 médicos de plantão 24 horas, 17 ambulâncias de resgate, sendo cinco UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo), 25 guinchos, 19 inspeções de tráfego e 11 caminhões de serviço.

A CCR MSVia fornece, diariamente, informações sobre o tráfego e interdições pelo site www.msvia.com.br. Os condutores também podem obter esclarecimentos a partir de ligação gratuita para 0800 648 0163.

A BR-163 tem 3.467 quilômetros de extensão, sendo quase 1000 km não asfaltados. A rodovia liga os estados Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Pará.

O haitiano Savilien Alex não reclama do trabaho, apenas da saudade da família (Foto: Cleber Gelio)
O haitiano Savilien Alex não reclama do trabaho, apenas da saudade da família (Foto: Cleber Gelio)
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