Ex-agentes são detidos depois de coletiva que virou bate-boca com juiza
Dois agentes penitenciários federais demitidos na sexta-feira passada foram detidos na manhã de hoje depois de entrevista coletiva que virou uma “guerra” na sede da Justiça Federal, no Parque dos Poderes.
Yuri Matos, ex-presidente do Sindicato dos Agentes Federais em Mato Grosso do Sul e o também exonerado Valdemir Albuquerque protagonizaram ao lado da corregedora do TRF (Tribunal Regional Federal), Suzana Camargo, bate-boca com acusações e defesas ao juiz federal Odilon de Oliveira.
O magistrado foi o ponto central da coletiva à imprensa convocada para está quinta-feira, depois de denúncias de que Odilon teria favorecido o traficante Juan Carlos Abadia, para extradição aos Estados Unidos e também seria o responsável por escutas clandestinas no Presídio Federal de Campo Grande.
No entanto, além dos jornalistas, os 4 ex-servidores federais demitidos pelo Ministério da Justiça também compareceram à reunião e não controlaram a indignação diante de elogios rasgados a Odilon.
Ao saírem da sede da Justiça Federal, os dois foram interceptados por policiais federais e levados até a Superintendência da PF.
Horas antes, a corregedora começou a conversa com os jornalistas classificando as denúncias contra Odilon de “levianas e vazias”.
“Esse magistrado é daqueles, não só com vocação, mas que fazem da magistratura a sua vida”, comentou a corregedora e também juíza.
Segundo ela, “além de receber ameaças contra ele e familiares, também está em curso uma tentativa de questionar a conduta, a moral, como acontece na Itália e na Espanha”, citou a corregedora sobre suposto esquema criminoso para abalar a credibilidade de Odilon.
Ao ouvir os elogios, um dos agentes na platéia deu inicio ao primeiro bate-boca da manhã. “Vossa excelência está sendo enganada”, gritou. A reposta foi um “cala-se, porque ninguém pode atacar um juiz dessa forma leviana”.
Passado o primeiro momento de tensão, Suzana começou a detalhar acusação feitas pelos agentes que trabalhavam no Presídio Federal quando Odilon era corregedor, de que o traficante Juan Carlos Abadia pagaria para que o juiz o ajudasse no processo de extradição aos EUA.
Na sequencia, Suzana fez a defesa: “Isso é ilógico, até risível, porque o processo é competência do STF. Só se o juiz tivesse poder sobrenatural, porque a competência é do STF”.
Na avaliação dela, a “denúncia não resiste até a própria fonte”, o assaltante do Banco Central Reinaldo Giroti, preso também em Campo Grande até 2009 e que, na versão dos agentes, contou que Abadia disse ter pago a Odilon para beneficiá-lo.
“Ele foi ouvido duas vezes e negou”.
“Ele é seu amigo” gritou Ivanilton Morais Mota. De pronto a juíza admitiu “sou amiga” e afirmou”, mas sobretudo corregedora”.
A corregedora partiu para o ataque e lembrou que os agentes foram demitidos por retirarem cópias de gravações da unidade penal e também são acusados de doparem Giroti para obrigá-lo a assinar documento contra Odilon.
De pronto os agentes questionaram “como é possível tirar um preso da cela, se há 300 câmeras no presídio”.
Apesar da gravidade do caso, a corregedora disse que “ainda não há conclusão sobre esse fato. Essa declaração está sendo investigada”
O alvo - Sentado na primeira fila, o juiz, figura central da discussão, permaneceu o tempo todo calado. Apenas concordava com a cabeça com a argumentação da juíza e soltava sorrisos irônicos diante das agressões dos ex-agentes.
Quando o clima começou a esquentar novamente, os policiais a paisana que protegem Odilon - o único juiz com esse tipo de escolta no Brasil, cercaram o magistrado temendo a aproximação dos ex-servidores, principalmente de Ivanilton Morais Mota, o mais exaltado dos 4 presentes.
Ivanilton se aproximou da corregedora e pediu uma acareação entre Odilon e os ex-agentes. “Tire todos daqui e só deixe nós e o juiz”, defendeu. A resposta foi o sorriso irônico do magistrado e uma negativa da corregedora.
A corregedora chegou a transferir audiência para outra sala, mas depois a coletiva foi encerrada.