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Cidades

Ex-funcionárias choram e negam a participação em aborto

Redação | 08/04/2010 10:24

Durou 1h17 o interrogatório das quatro mulheres que estão sendo julgadas hoje em Campo Grande pela prática de aborto, por terem trabalhado na clínica da ex-médica Neide Mota, falecida ano passado. Todas choraram antes, durante e depois de serem ouvidas.

A clínica, que funcionou por mais de 20 anos, foi fechada em 2007 sob acusação de prática de abortos ilegais. A proprietária, que também seria julgada e que teve o registro cassado pelo Conselho Regional de Medicina, foi encontrada morta no fim do ano passado, e a polícia concluiu que foi suicídio.

Vídeos exibidos durante o júri mostram a então médica na entrevista que deu início a todo o processo, após uma reportagem exibida na TV Globo em que ela confirmava realizar procedimentos como forma de evitar que mulheres fossem vítimas de procedimentos inseguros.

Das quatro mulheres levadas a júri - a psicóloga Simone Aparecida Cantaguessi de Souza e as enfermeiras Libertina de Jesus Centurion, Maria Nelma de Souza e Rosângela de Almeida - só Simone admitiu que mulheres procuravam o local interessadas em fazer aborto. As outras, todas defendidas pelo mesmo advogado, disseram que a clínica fazia apenas aborto de fetos retidos (mortos) e procedimentos de curetagem e colocação de DIU, um método contraceptivo.

Simone, a última a falar, disse que fazia a primeira entrevista com mulheres interessadas em fazer aborto. Apesar disso, negou que fizesse o trabalho de convencimento das mulheres para realizar o procedimento. Ela disse que conversava apenas uma vez com elas e que não sabia se voltavam para concretizar o desejo.

A psicóloga é acusada de fazer o trabalho de "confortar" as mulheres que procuravam a clínica para abortar sem autorização judicial. Ela disse que não tinha vínculo empregatício com a clínica e que ia ao lugar quando havia pacientes marcadas.

Ela disse desconhecer a tabela de preços cobrada no local, que ia de R$ 1 mil a R$ 3 mil, conforme a apuração. Negou também que fizesse uso das informações de uma tabela revelando os gastos para se criar um filho.

Segundo ela, chegava a dizer às mulheres que se fosse com ela, não optaria pelo abortamento. "Mas cada um sabe o que pode suportar", afirmou. "Se arrependimento matasse, eu já estava morta", disse em uma das duas vezes que declarou estar arrependida de ter atuado na clínica.

Em sua defesa, afirmou que o aconselhamento feito às mulheres no local seria um trabalho típico de psicólogo e poderia realizado no seu próprio consultório, tanto que o Conselho Regional de Psicologia não aplicou punição a ela.

Coluna social - As outras acusadas, todas enfermeiras, negaram a participação em procedimentos de aborto. A primeira delas a falar, Marina Nelma de Souza, disse que fazia fichas de pacientes, aferia pressão e temperatura e as encaminhava ao consultório de Neide Mota Machado.

O juiz perguntou a elas o motivo de haver muitas internações noturnas no local e Maria Nelma afirmou que era razão da necessidade de cuidados por parte das pacientes.

O advogado de defesa delas, Miguel Antunes Mendes de Sá, perguntou se entre as mulheres que frequentavam o local havia rostos conhecidos de colunas sociais e houve a confirmação pelas acusadas. A resposta foi afirmativa também quando o assunto foi sobre a visita de outros médicos ao local.

A essa pergunta, seguiu-se a afirmação do advogado de que considera estranho que só pessoas de classes mais baixas tenham sido trazidas a público por envolvimento com a clínica;

Durante o interrogatório, o promotor Douglas Santos, responsável pela acusação, não fez qualquer pergunta. Ele substitui os outros dois promotores que atuaram desde início no processo, Luciana Jorge e Paulo Cezar Passos, que foram afastados do júri em março, após reclamação do advogado da psicóloga Simone, Renê Siufi. Os promotores haviam conseguido decisão permitindo a presença no julgamento, mas decidiram não participar, alegando que estão trabalhando em outro júri hoje.

Emoção - Os depoimentos foram marcados pelo choro e abatimento das rés. Uma delas, a enfermeira Libertina Centurion, revelou que não consegue mais trabalho e que teve de passar a trabalhar com o marido, em uma sapataria.

Outra acusada, Rosangela de Almeida, chorou muito e seu depoimento teve de esperar mais tempo até que tivesse condições.

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