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Cidades

Excesso de confiança expõe operário informal ao risco de acidentes

Alan Diógenes | 12/11/2015 14:34
Com equipamentos de segurança improvisados, trabalhador se arrisca soldando estrutura metálica. (Foto: Gerson Walber)
Com equipamentos de segurança improvisados, trabalhador se arrisca soldando estrutura metálica. (Foto: Gerson Walber)
Juiz da 3º Vara do Trabalho, Ademar de Souza Freitas, disse que maior índice de acidentes acontece no setor da construção civil. (Foto: Divulgação/ Assessoria)
Juiz da 3º Vara do Trabalho, Ademar de Souza Freitas, disse que maior índice de acidentes acontece no setor da construção civil. (Foto: Divulgação/ Assessoria)

“Nunca vai acontecer comigo”! É com esse pensamento comum e cultural do brasileiro que muitos trabalhadores informais do setor da construção civil colocam em risco suas próprias vidas. Como forma de economia, comodidade e para ter mais agilidade no trabalho, eles estão deixando de usar os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), o que tem aumentado o risco de acidentes de trabalho.

Andando pelas ruas de Campo Grande não é difícil encontrar em pequenas obras, trabalhadores em cima de andaimes ou soldando estruturas metálicas, por exemplo, sem qualquer tipo de proteção. Em grandes obras, essa situação não é tão comum porque a fiscalização é maior. O problema é que com o baixo valor pago pela mão de obra, os trabalhadores do setor estão se tornando autônomos e deixando de lado os equipamentos de segurança exigidos nas grandes construções.

O mestre de obras Vanderlei Rosa Gama, 35 anos, trabalha há 18 de forma informal sem usar os equipamentos de segurança necessários. O descuido teve consequência: Há alguns meses ele caiu de uma escada e quebrou sete costelas. “Tive que ficar afastado por 30 dias, mas voltei porque não tenho como parar. É deste serviço que tiro o sustento da minha família”, comentou.

Mesmo com o acidente, Vanderlei ainda não se conscientizou e comprou o EPI completo. Ele improvisa: utiliza bota com bico de ferro, para não se machucar caso um tijolo ou martelo caia em seus pés, e chapéu na cabeça para se proteger dos raios solares.

Hoje, ele tem a própria equipe com cinco serventes de pedreiro. A dica é a mesma para os funcionários. “Usar EPI só em firma grande, como não tenho condições de comprar os equipamentos, então estou sempre alertando eles a terem cuidado e se proteger da forma que encontrarem”, explicou Vanderlei.

O servente de pedreiro Evaldo Barbosa Souza, 62, desistiu de trabalhar em empresa particular e entrou na informalidade. Apesar de estar ganhando R$ 800 a mais, ele ainda continua improvisando quando o assunto é equipamento de segurança. “Uso boné para me esconder do Sol e protetor solar para evitar o câncer de pele. O EPI completo, além de ser caro, incomoda e o trabalhador perde a agilidade”, destacou.

O serralheiro João Lopes, 45, que trabalha no ramo da construção civil, já viu colegas de trabalho se ferirem após o disco da máquina de serra circular estourar. “Depois dessas experiências comecei a usar óculos, avental, máscara e luvas, não é o ideal, ainda faltam alguns acessórios, mas dá um pouco de segurança”, mencionou.

O valor dos EPIs variam muito de acordo com quais  ou quantos acessórios o trabalhador irá adquirir. São eles: botas de borracha, botinas com ou sem biqueira, capacetes, luvas, óculos, abafadores, máscaras, cones, capas, coletes, fitas de sinalização, fitas de marcação, escadas, cintos de segurança, luvas de alta tensão, luvas vaquetas ou botas calças e blusões de raspa.

Sorriso no rosto de trabalhador mostra a despreocupação com a segurança. (Foto: Gerson Walber)
Sorriso no rosto de trabalhador mostra a despreocupação com a segurança. (Foto: Gerson Walber)
Vanderlei caiu de escada, quebrou sete costelas, mas arrisca em subir em andaime de 3 metros de altura. (Foto: Gerson Walber)
Vanderlei caiu de escada, quebrou sete costelas, mas arrisca em subir em andaime de 3 metros de altura. (Foto: Gerson Walber)
Brasil está no 4º lugar do ranking de países com maior número de acidentes de trabalho. (Foto: Gerson Walber)
Brasil está no 4º lugar do ranking de países com maior número de acidentes de trabalho. (Foto: Gerson Walber)

Segundo o vendedor de uma loja de EPIs, Gerson Luiz Cotte, 30, os trabalhadores da construção civil só procuram o estabelecimento quando a fiscalização aumenta. “Antes disso muitos não compram porque não querem gastar, ou compram o EPI incompleto. O trabalhador tem que entender que todo EPI tem uma numeração ligada ao Ministério do Trabalho, com o prazo de validade, ou seja, é uma segurança maior para ele mesmo”, salientou.

O Brasil está em 4º lugar no ranking dos países com maior número de acidentes de trabalho. Somente em Mato Grosso do Sul, ocorreram 11,4 mil acidentes de trabalho e 48 mortes, em um único ano: 2013. Os dados são do Ministério da Previdência Social, que não divulgou as relações do ano passado e nem deste ano.

Conforme o juiz da 3º Vara do Trabalho de Campo Grande, Ademar de Souza Freitas, 50% destes acidentes foram registrados em canteiros de obras. “O maior índice de acidentes de trabalho em Campo Grande e no Brasil inteiro é na construção civil. As grande empresas tem uma preocupação com a segurança dos funcionários porque a fiscalização está em cima, agora os pequenos empreiteiros deixam a segurança de lado, porque sabem que raramente são fiscalizados”, apontou.

De acordo com o presidente do Sintracom/CG (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil e do Mobiliário de Campo Grande), José Abelha Neto, o número pode ser ainda maior, já que dificilmente os casos de acidente de trabalho são notificados. “O trabalhador informal quase nunca procura o sindicato para relatar o ocorrido, então é difícil ter um número exato”, argumentou.

Para evitar os acidentes de trabalho, o sindicato faz visitas às obras para verificar irregularidades. Caso existam, a entidade informa ao Ministério do Trabalho e ao Ministério Público do Trabalho. “O problema é que o trabalhador acha que nunca vai acontecer com ele. Mas o sindicato está preocupado com a vida do trabalhador e ele deve ser o principal interessado nisso. Não adianta economiza e ter agilidade no emprego e acabar pagando com a própria vida por falta de segurança”, concluiu.

Ações na Justiça – As Delegacias Regionais do Trabalho são as responsáveis pelo cumprimento da legislação trabalhista. Sua atuação acontece após denúncias e por fiscalizações espontâneas.

Um grupo de fiscais efetuam fiscalizações sistematicamente nas empresas, verificando e autuando, quando é o caso, as empresas que descumprem as leis trabalhistas. Elas também dão encaminhando à Justiça do Trabalho, os processos de ações trabalhistas.

Todo EPI tem uma numeração ligada ao Ministério do Trabalho e o objetivo é dar mais segurança ao trabalhador (Foto: Marcos Ermínio)
Todo EPI tem uma numeração ligada ao Ministério do Trabalho e o objetivo é dar mais segurança ao trabalhador (Foto: Marcos Ermínio)
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