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Cidades

Falta interesse e qualificação para atender ao idoso na saúde, diz Associação

Paula Vitorino | 27/04/2011 14:27

Cultura em relação ao idoso é o principal ponto que ainda precisa ser mudado

kApesar de ser chamada como a “época da melhor idade”, o grupo formado pela população maior de 65 anos ainda sofre com a falta de serviços básicos voltados para as suas necessidades, principalmente, na área da saúde.

Em Campo Grande, são mais de 44 mil idosos que moram no município, segundo dados do IBGE de 2077. No entanto, para atender essa população a rede pública de saúde dispõe de apenas um médico geriatra e de quatro CCI (Centro de Convivência do Idoso).

Mas o presidente da Abraz/MS (Associação Brasileira de Alzheimer), o odontogeriatra Marco Polo Siebra, chama a atenção para outro fator mais alarmante na sociedade: a exclusão da população idosa, que é apontada pelo profissional como a causa de diversas doenças na idade.

“O abandono, que causa a depressão e outras doenças, é o que mais atinge o idoso. A situação da sociedade não enxergar o idoso e não ter locais e atividades desenvolvidas para eles é o mais grave”, diz.

O odontogeriatra ainda ressalta que falta interesse, além de qualificação por parte dos profissionais da saúde para atender ao grupo da melhor idade.

“Na faculdade de odontologia não temos nem a disciplina de odontogeriatria, enquanto que temos outras específicas para as crianças, por exemplo. Faltam geriatras e profissionais especializados em atender a geriatria, dentro de sua área. Por isso, o idoso acaba padecendo de médicos capacitados, que entendam suas necessidades”, afirma.

Para o presidente da Abraz, o ideal seria que existisse uma equipe formada por profissionais de diversas áreas para atender especificamente a geriatria, e este quadro estivesse a disposição na rede pública de saúde.

“Na associação recebemos emails e telefones de familiares que não sabem onde procurar ou que não conseguem encontrar médicos neurologistas ou de outras especialidades para atender corretamente o idoso”, diz.

Filho de portadora do Alzheimer diz que teve dificuldade em encontrar médicos qualificados. (Foto: Simão Nogueira)
Filho de portadora do Alzheimer diz que teve dificuldade em encontrar médicos qualificados. (Foto: Simão Nogueira)

Despreparo - No caso de pacientes idosos com Alzheimer, a carência de profissionais qualificados é ainda maior. O empresário João Francisco Lima, de 57 anos, conta que demorou até encontrar médicos que soubessem orientar sobre a doença. Há quase 10 anos ele descobriu que a mãe, Dona Doca, de 83 anos, sofre de Alzheimer.

“No começo nós não tínhamos conhecimento sobre doença e tivemos dificuldade em encontrar médicos que entendessem. Minha mãe já sofria de problemas psicológicos, era bipolar, e até descobrirem que também tinha o Alzheimer demorou, confundiam os sintomas”, diz

A família de João não depende do SUS (Sistema Único de Saúde) e realiza os tratamentos de Dona Doca por meio de convênio particular, mas ainda assim o empresário diz que o atendimento é precário.

“Ainda é bem fraco, sofrido o atendimento. Especificamente no atendimento do Alzheimer, falta muito. Os profissionais tratam qualquer doença do idoso da mesma forma, não tem um acompanhamento, uma equipe de médicos que entenda e atenda determinadas doenças especificamente”, relata.

Desde novembro, após complicações no estado de saúde, a aposentada vive em uma casa de repouso na Capital, que oferece atendimento integral. Mas João ressalta que a falta de consciência de muitas clínicas e profissionais prejudica não só o idoso, mas toda a família.

“Toda a família, os amigos acabam sendo prejudicados por esse mal atendimento, esse despreparo. Passou da hora dos órgãos de governo criarem clínicas de atendimento, capacitarem profissionais onde o idoso posso ser bem atendido”, alerta.

Solução - Atitudes simples, presentes no cotidiano, são apontadas como os primeiros passos para a mudança no modo de enxergar a terceira idade e, principalmente, respeitar o grupo.

“A saúde não está preparada para atender o idoso, nós não estamos preparados para a velhice. Enquanto não tivermos a cultura de respeitar a vaga do idoso no estacionamento, no ônibus, esse pensamento não vai mudar”, alerta o Dr. Marco Pólo.

Já para o empresário João, o principal problema para a falta de estrutura para atender o idoso está ligado a pensamentos ultrapassados.

“As pessoas pensam, é velho mesmo, já viveu muito e não precisa de cuidados. Esse tipo de pensamento arcaico não cabe mais no Brasil”, destaca.

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