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Cidades

Fronteira de MS é "terra de ninguém" e falta de fiscalização preocupa

Aliny Mary Dias, enviada especial a Corumbá | 07/05/2014 16:15
Fronteira tem barreiras em solo brasileiro e boliviano (Foto: Cleber Gellio)
Fronteira tem barreiras em solo brasileiro e boliviano (Foto: Cleber Gellio)

A praticamente um mês do início da Copa do Mundo que vai atrair milhares de turistas ao Brasil, as fronteiras de Mato Grosso do Sul sofrem com a falta de fiscalização nas barreiras. A facilidade de entrar e sair do país sem sequer ser parado, de carro ou a pé, impressiona e o Campo Grande News atravessou a fronteira e adquiriu armas brancas para testar a segurança dos pontos de fiscalização.

Um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) encomendado pelo MTur (Ministério do Turismo) revela que 600 mil turistas estrangeiros virão ao Brasil e pelo menos 3 milhões de brasileiros circularão pelo país durante o mundial que começa no próximo dia 12 de junho.

A pesquisa mostra ainda que não só as cidades-sede receberão turistas, mas que todo o Brasil deve ter aumento na circulação de pessoas. Diante de um país cheio de gente viajando de norte a sul, Mato Grosso do Sul, com o Pantanal e cidades turísticas famosas no mundo todo, certamente será um dos destinos escolhidos pelos visitantes.

Na última semana, o Campo Grande News foi até a fronteira seca entre Corumbá, distante 444 quilômetros da Capital, e a cidade de Puerto Quijarro, na Bolívia, para acompanhar a fiscalização feita no local. E, na prática, o que se vê é o descaso com a segurança na fronteira e a clara possibilidade de adquirir produtos ilícitos no país vizinho e entrar em Mato Grosso do Sul sem nenhum problema.

A situação não é novidade para quem vive em cidades fronteiriças do Estado. Em Corumbá, os moradores acostumados com a falha na fiscalização afirmam que além de comprar mercadorias estrangeiras para revender no país sem pagar nenhum tipo de tributação, adquirir armas brancas, drogas, combustível e até arma de fogo na Bolívia é tarefa simples.

Para entrar na Bolívia, turista não passa por fiscalização (Foto: Cleber Gellio)
Para entrar na Bolívia, turista não passa por fiscalização (Foto: Cleber Gellio)

Para provar a facilidade de entrar e sair do país sem ser barrado, o Campo Grande News seguiu para Puerto Quijarro. Na região bastante visada por turistas em busca de roupas vendidas na famosa feirinha, há um estacionamento improvisado poucos metros antes da primeira fronteira, ainda em solo brasileiro.

Os carros com placas de vários estados do país são deixados pelos turistas porque, em teoria, passar pela fronteira em veículos aumenta a possibilidade de ser parado nas barreiras. E já que muitos não respeitam a cota de compras estipulada em 300 dólares, o medo de perder a mercadoria fala mais alto.

Mas o que foi possível ver tanto na fronteira brasileira quanto na boliviana é que a grande maioria dos veículos cruza os países sem ser parados. Os motoristas apenas diminuem a velocidade e em alguns poucos momentos os fiscais da Receita Federal, no caso do Brasil, ou agentes da Polícia Nacional Boliviana olham para o interior dos carros, que não são impedidos de seguir viagem.

A situação se repete para quem segue a travessia a pé. Também é bastante simples entrar ou sair de Corumbá sem precisar apresentar documentos na Polícia Federal ou ter a bagagem revistada por agentes.

A sensação que já é de insegurança aumenta durante as compras em lojas situadas em Puerto Quijarro. Para constatar a fácil saída da Bolívia com materiais que oferecem risco à sociedade, o Campo Grande News foi em busca de duas armas brancas, facas ou canivetes. E encontrar os produtos em várias lojas e ainda voltar ao Brasil sem preocupação chama a atenção.

Nas ruas de Puerto Quijarro, lojas vendem facas e espingardas (Foto: Cleber Gellio)
Nas ruas de Puerto Quijarro, lojas vendem facas e espingardas (Foto: Cleber Gellio)

Em uma das lojas, o vendedor afirma que levar os produtos em pequena quantidade é uma certeza de não “cair” na fiscalização. “Se falar que é para uso doméstico não tem problema, mas se levar seis para cima pensam que é para outra coisa, né?”, disse um dos vendedores.

Apesar da insistência de temer a fiscalização na fronteira, mesmo em caso de locais que vendem armas como espingardas de chumbinho, a equipe foi assegurada pelos vendedores que a atuação da fiscalização é branda. “Eles não olham nada”, garantiu outro funcionário de uma loja.

E a volta para casa é realmente tranquila. Com duas facas, a equipe passou pela fronteira boliviana e a brasileira sem problemas. O caminho de 10 minutos é completado e a volta para o carro deixa claro que qualquer um pode entrar e sair da Bolívia com qualquer tipo de mercadoria em mãos.

Terra de ninguém – Para o presidente do Sinpef-MS (Sindicato dos Policiais Federais em Mato Grosso do Sul), Jorge Luiz Caldas, a falta de efetivo e de estrutura contribui para a insegurança nas duas principais cidades de fronteira do Estado: Corumbá e Ponta Porã.

Feirinha de Puerto Quijarro atrai turistas em busca de roupas (Foto: Cleber Gellio)
Feirinha de Puerto Quijarro atrai turistas em busca de roupas (Foto: Cleber Gellio)

“Não temos estrutura condizente e condições de trabalho para operar no seguimento de policiamento e repressão ao contrabando, criminalidade e tráfico de drogas. Nós estamos denunciado esses casos ao Ministério Público Federal há bastante tempo, mas ninguém faz nada, não há apoio do Governo Federal”, diz.

Em Corumbá, segundo o sindicato, há 50 servidores da Polícia Federal atuando em toda a cidade. O número mínimo aceitável para os trabalhos na região seria de 200 homens, garante o presidente.

“No posto da fronteira de Corumbá, por exemplo, tem pessoas contratadas e que não são formadas para exercer funções. É um total caso de abandono e com o início da Copa do Mundo nossa preocupação só aumenta”.

O Campo Grande News entrou em contato com a Receita Federal para informações sobre os trabalhos e efetivo de fiscais na fronteira com a Bolívia, mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno.

Confira abaixo imagens feitas pela equipe durante a entrada na Bolívia, a compra das facas, saída do país e volta ao Brasil:

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