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Interior

“Doce inferno”, Pedro Juan chega a 117 anos em meio à guerra do tráfico

Sem ignorar o crime que faz vítimas todos os dias, moradores de cidade festejam aniversário de cidade irmã de Ponta Porã e comerciantes projetam crescimento

De Dourados | 01/12/2016 09:22
Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia ao lado de Ponta Porã (Foto: Divulgação)
Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia ao lado de Ponta Porã (Foto: Divulgação)
Ato nesta manhã ao lado da laguna comemora o aniversário de Pedro Juan (Foto: Ronald Díaz)
Ato nesta manhã ao lado da laguna comemora o aniversário de Pedro Juan (Foto: Ronald Díaz)

Um paraíso para muitos e o caos para alguns. É assim que um morador de Pedro Juan Caballero definiu a realidade de quem vive na cidade paraguaia de 115 mil habitantes, vizinha de Ponta Porã, que comemora 117 anos hoje, 1º de dezembro.

“Doce inferno”, disse o repórter de um jornal local no grupo de Whatsapp que reúne jornalistas paraguaios da fronteira, se referindo à felicidade que muitos encontram morando na cidade e à tragédia de centenas de famílias que perdem seus entes queridos na guerra do crime organizado, que faz vítimas quase diariamente.

Atualmente, Pedro Juan Caballero e Ponta Porã sofrem juntas os efeitos colaterais da disputa armada que grupos criminosos travam pelo controle do tráfico de drogas e de armas.

Narcoguerra – A matança existe há vários anos, mas se intensificou nos últimos seis meses, após a execução do “patrão”, o chefe do crime organizado, Jorge Rafaat, metralhado dentro de seu carro blindado no centro de Pedro Juan, na noite de 15 de junho.

Assim como ocorre frequentemente no Brasil, a polícia paraguaia não esclareceu até hoje o atentado contra Rafaat. Apontou um brasileiro que está preso em Assunção como o autor dos tiros e responsabilizou o narcotraficante Jarvis Gimenez Pavão como mentor da morte, em conluio com o PCC (Primeiro Comando da Capital).

Dezenas de outros pistoleiros participaram da emboscada a Rafaat, mas apenas o brasileiro abandonado ferido em um hospital da cidade foi preso. A polícia prendeu apenas os seguranças do empresário morto. As investigações não chegaram a lugar nenhum.

Capital – Pedro Juan Caballero é a capital do departamento (equivalente a estado) de Amambay. A cidade começou a surgir ao redor da Laguna Punta Porá, parada obrigatória dos viajantes da época, e foi impulsionada pelo cultivo de erva-mate, assim como a irmã Ponta Porã.

Anderson Carpes, brasileiro que tem loja em Pedro Juan e integra a Câmara de Comércio Exterior da cidade, afirma que a vocação comercial surgiu junto com o povoado. “Após a Guerra do Paraguai as pessoas vinham aqui para comprar erva-mate e traziam material para vender”.

Localizada a 467 km da capital, Assunção, Pedro Juan Caballero já foi o “paraíso” do turismo de compra, se equiparando a Ciudad del Este, também no Paraguai, que fica na fronteira com Foz do Iguaçu.

Isso ocorreu, segundo Carpes, após a mudança da lei tributária brasileira, que tornou o Brasil o detentor de uma das maiores cargas de impostos do mundo. “Diante dessa realidade, o Paraguai avançou, trazendo produtos sem impostos diretamente da fábrica”.

Dólar alto – Centenas de lojas de importados com produtos trazidos da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia, chamam a atenção dos visitantes. Quando a cotação do dólar estava baixa, comprar em Pedro Juan era quase um sonho.

A alta da moeda americana no Brasil, no entanto, afastou muitos compradores, centenas de trabalhadores trocaram de ramo, mas o comércio de Pedro Juan sobrevive.

Anderson Carpes afirma que mesmo com o dólar alto, o comércio do Paraguai tem a tendência de avançar cada vez mais. “Os produtos encontrados no Paraguai também são importados no Brasil e neste caso a taxa de câmbio quase não faz diferença a longo prazo. Assusta as pessoas a curto prazo, mas temos grandes expectativas”, disse ele ao Campo Grande News.

Ainda compensa – O comerciante cita como exemplo um aparelho de ar condicionado que no Brasil, em plena Black Friday, foi encontrado por R$ 1.490, é vendido por R$ 890 nas lojas do Paraguai. “Se as pessoas pesquisarem as ofertas aqui, vão perceber que o dólar afeta muito pouco”.

Além do comércio, segundo ele, a cidade ainda tem muito potencial de crescimento. Carpes destaca as faculdades de medicina instaladas em Pedro Juan Caballero, que têm atualmente 6.800 acadêmicos brasileiros. “A longo prazo enxergamos uma projeção muito bacana para nossa Pedro Juan”.

A cidade recebeu o nome de Pedro Juan Caballero, o capitão do Exército paraguaio que viveu de 1786 a 1821 e participou ativamente da independência do Paraguai, em 14 de maio de 1811. Pedro nasceu em Tobatí, na região do Departamento de Cordillera.

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