ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 32º

Interior

Batalha é para ver mandante preso, afirma família de vereador assasinado

Luciana Brazil | 27/09/2012 16:31
O réu Aparecido ficou durante todo julgamento de cabeça baixa, só levantando durante o depoimento. (Foto: Rodrigo Pazinato)
O réu Aparecido ficou durante todo julgamento de cabeça baixa, só levantando durante o depoimento. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Após a absolvição de Aparecido Souza Francisco, 35 anos, da acusação de participação no assassinato do ex-presidente da Câmara Municipal de Alcinópolis, Carlos Antônio da Costa Carneiro, morto em 2010, a família garante que o desejo maior, ainda é ver os outros envolvidos atrás das grades.

O pai da vítima, o atual prefeito da cidade, Alcino Carneiro, 78 anos, afirmou que a prisão do mandante do crime, o prefeito afastado Manoel Nunes, e de outros três vereadores envolvidos, são mais importantes para a família.

Sobre a decisão que libertou Aparecido, Alcino não tem dúvida. "Mesmo que caiba recurso, nós não vamos recorrer da decisão. Quero ver os outros no banco do réu", afirmou na tarde de hoje.

Como presidente da Câmara Municipal de Vereadores na época do crime, a vítima, segundo a família, estava prestes a denunciar o desvio de dinheiro da prefeitura da cidade, segundo os familiares.

Após o crime, o prefeito Manoel Nunes foi afastado do cargo como principal suspeito de ser o mandante. Hoje, ele está sendo processado, mas responde em liberdade. Alcino assumiu a prefeitura, já que era o vice na época. "Até pensei em desistir depois de perder meu filho, mas resolvi enfrentar".

Ontem no julgamento, quatro mulheres e três homens decidiram que o réu era inocente. Aparecido era acusado de conduzir em sua motocicleta Irineu Maciel, autor dos disparos que matou o ex-presidente da Câmara.

A acusação pediu condenação no homicídio qualificado pelo motivo torpe e pelo recurso que dificultou a defesa da vítima, com o reconhecimento da participação de menor importância.

Porém, a defesa sustentou negativa de participação ou participação de menor importância e, ainda, a exclusão das qualificadoras e conseguiu convencer a maioria do júri.

Carlos foi morto em frente ao hotel Vale Verde, na avenida Afonso Pena, em outubro de 2010.

Julgamento: Durante o júri, enquanto ouvia atentamente o advogado de acusação, Ricardo Trad, discursar sobre o que definiu como um crime “bárbaro e nojento”, Alcino não conseguiu conter as lágrimas. Com a cabeça baixa, ele fechou os olhos e chorou.

Irineu, já condenado a 19 anos de prisão, foi o primeiro a depor, sendo interrogado pela defesa e acusação. Na sequência, o réu também foi ouvido e negou qualquer envolvimento no crime. “Peço desculpa para a família da vítima. Eu não queria estar aqui, mas estou”, disse Aparecido.

Apontando por Irineu como alguém que fazia "corrida" de motocicleta para os amigos, Aparecido disse que não é mototáxi, mas só queria ajudar Irineu. "Eu só fui levar porque ele dise que tinha que receber um dinheiro no hotel. Não sabia de nada".

Após pequena pausa, o julgamento foi retomado dando início aos debates. O promotor de Justiça Humberto Lapa Ferri falou durante 53 minutos e logo no início destacou que a justiça deve dar o que cada um merece. “Não estamos aqui para fazer vingança, mas sim para fazer justiça. O próprio nome já diz”.

Em entrevista, o promotor afirmou que a estratégia da acusação é mostrar como funciona o crime de pistolagem.

Durante o debate, Lapa Ferri mostrou ao júri os croquis do local do assassinato e frisou que a ação dos envolvidos foi premeditada. “É um crime de pistolagem, um crime de mando, onde sempre existe alguém para conduzir o autor”, relatou Lapa Ferri.

Trad afirmou que o crime de pistolagem sempre acontece do mesmo "modus operandi". (Foto:Minamar Júnior)
Trad afirmou que o crime de pistolagem sempre acontece do mesmo "modus operandi". (Foto:Minamar Júnior)
Promotor interrogou Irineu Maciel que depôs como declarante. (Foto:Rodrigo Pazinato)
Promotor interrogou Irineu Maciel que depôs como declarante. (Foto:Rodrigo Pazinato)

Lapa Ferri usou depoimentos de testemunhas para evidenciar que o réu, e também Irineu, estava em um bar, horas antes do crime. “Irineu disse que ligou para Aparecido às 10 horas no dia do crime, mas a testemunha viu os dois às 8h30 no bar”.

O promotor esclareceu que mesmo sem a confissão do réu é possível evidenciar que os indícios comprovam a sua participação.

Dando continuidade a acusação, Ricardo Trad fez suas considerações sobre o crime. Apelando para emoção, disse logo no início do discurso que representava ali a dor de uma família. “Represento aquele senhor de cabelos brancos”, se referindo ao “seo” Alcino.

“Um crime cometido em plena luz do dia, no movimento da cidade. Mataram um cidadão indefeso”, disse. A acusação de Trad destacou também o "modus operandi" e afirmou que o assassinato de aluguel é um dos crimes mais repugnantes do código penal.

Na tentativa de convencer o júri sobre a culpa do réu, Trad disse que qualquer um dos indícios pode ser considerado como prova.

“Se não fosse a participação efetiva dele (Aparecido), o crime não teria acontecido. Acredito que há indícios, uma cadeia de indícios e eles servem como prova”. O advogado citou o caso do casal Nardoni, acusados pela morte da menina Isabela e disse em entrevista que “eles negaram o crime, mas foram condenados pela presença de indícios. O goleiro Bruno vai ser levado a júri por causa dos indícios”.

Alcino Carneiro, atual prefeito de Alcinópolis, mostra no celular ameaça que recebeu.(Foto:Rodrigo Pazinato)
Alcino Carneiro, atual prefeito de Alcinópolis, mostra no celular ameaça que recebeu.(Foto:Rodrigo Pazinato)
Viúva diz que acredita na justiça de Mato Grosso do Sul. (Foto:Rodrigo Pazinato)
Viúva diz que acredita na justiça de Mato Grosso do Sul. (Foto:Rodrigo Pazinato)

Com mais de 40 anos de carreira, Trad chamou a atenção dos jurados e finalizou alertando sobre o direito do réu. “Ele tem direito de ficar em silêncio, direito de negar, além de poder mentir, como ele está fazendo aqui”, citou, se referindo ao fato de que Aparecido diz não ter visto Irineu dando os disparos.

O defensor público Ronald Calixto Nunes falou durante 1h30 e antes do fim do julgamento, preferiu não dar entrevistas.

“Se não houver a condenação, é como se estivesse condenando o crime. As pessoas vão acabar se calando diante da corrupção. Fica fácil matar, ou ajudar no crime, e não ser condenado”, disse a irmã da vítima, Rosangela Costa Carneiro, 36 anos, quando ainda torcia pela condenação.

Nos siga no Google Notícias