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Interior

Demissão da mãe causou revolta e ex-líder passou a cobrar mensalão

Helio de Freitas, de Dourados | 17/10/2014 22:59
Marcus Douglas com Léo Mattos (centro) e o vereador afastado Adriano José Silvério, que também está preso (Foto: Divulgação)
Marcus Douglas com Léo Mattos (centro) e o vereador afastado Adriano José Silvério, que também está preso (Foto: Divulgação)

O vereador e advogado Marcus Douglas Miranda (PMN) era aliado do prefeito Léo Mattos (PV) e chegou a ser líder do chefe do Executivo na Câmara de Naviraí, cidade a 366 km de Campo Grande. Mas no ano passado, Marquinhos rompeu com Léo e passou a atacá-lo na Câmara. As investigações da Polícia Federal durante a Operação Atenas revelam que dois motivos foram cruciais para o rompimento: a demissão da mãe e da namorada do vereador de cargos na prefeitura e o fato de ele querer mais dinheiro.

Apesar de criticar o prefeito toda semana durante as sessões da Câmara e de chamá-lo de “Adolf Hitler”, Marcus Douglas admitia voltar para a base de sustentação de Léo Matos. Quem articulava a reconciliação era o presidente da Câmara Cícero dos Santos, o Cicinho do PT, aliado do prefeito e amigo de Marcus Douglas.

Marcus, Cicinho e outras oito pessoas, das quais três vereadores, estão presos desde o dia 8 deste mês. Como Naviraí não tem cela de “estado maior”, direito garantido por lei aos advogados, Marcus Douglas está em “prisão domiciliar” desde a noite de quarta-feira, por decisão do desembargador Manoel Mendes Carli, do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). Os demais permanecem em presídios.

Gravações feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça mostram detalhes dessa reaproximação que Cicinho do PT tentava fazer. O Campo Grande News teve acesso ao relatório com a transcrição das escutas. As investigações revelam que o mensalinho seria pago aos 13 vereadores de Naviraí. “Cícero conversa com Marcus Douglas sobre o recebimento indevido de dinheiro proveniente do prefeito Léo Mattos. Ao que se percebe, há esquema de recebimento de dinheiro para aprovar projetos envolvendo os 13 vereadores, numa espécie de mensalão”, diz o relatório da PF.

No diálogo gravado pela PF no gabinete do presidente da Câmara, Cícero dos Santos tenta convencer Marcus Douglas a voltar para o “esquema”, oferecendo mais que os R$ 10 mil que recebia por mês: “Marcus, aqui você tirava 10 por mês! com aquela proposta do Léo, você ia tirar 25 por mês, vinte e cinco ‘barão’ todo mês”. Marcus aceita conversar, mas quer receber primeiro: “conversar na hora que estiver no meu bolso! Ou nada em conversa!”. Em outro trecho, Marcus Douglas diz que o prefeito lhe devia dinheiro: “quanto ele me deve, dez?” Cícero responde: “mais 12 aqui, 22”.

Segundo a Polícia Federal, Cicinho do PT pediu para o amigo Marcus Douglas retomar a negociação com o prefeito e o orientou como agir para conseguir os R$ 25 mil e para onde levar Léo Mattos para conversar, a exemplo dele, que teria levado o prefeito para o Paraguai: “Eu fui lá, botei o Léo no carro, levei lá no exterior e virou o c... Quer conversar? Leva ele pra Campo Grande”.

Ainda conforme a Polícia Federal, a estratégia de Marcus Douglas para pegar dinheiro é investigar o prefeito e pressioná-lo a qualquer custo, até receber o que ele quer: “ele tá avisado, toda segunda vou acabar com a moral dele! Até me dar o que eu quero! Não tem conversa! É assim e ‘acabô’! Eu fico de boa!”.

Na mesma conversa, Marcus Douglas fala a Cicinho do PT sobre seus planos políticos: “eu quero ser deputado, prefeito! Eu vou ganhar muito mais de 10 conto por mês, moço! O barulho que eu tô fazendo nessa cidade aí, eu vou virar o homem da cidade, rapaz!”. Marcus e Cícero foram candidatos a deputado estadual em 5 de outubro. O primeiro teve 4.034 votos e o segundo 1.955 votos.

Passou dos limites – Informado por Cícero que o prefeito quer incluí-lo no “acerto”, Marcus Douglas fica curioso em saber o que Léo Mattos teria dito: “o que ele falou direitinho com você?”. Cícero responde: “que você passou dos limites, que não toma vergonha na cara, mandou ‘trabaiá’, passou dos limites! Ontem eu levei você pra conversar, você não quis conversar. Ele queria uma prova sua pra vê se você tava mesmo impetrado no trabalho, eu te falei! Não quis que você rebatesse, você rebateu!”.

Quando um dos assessores de Cícero entra na sala, a conversa volta a ser sobre propina supostamente paga pelo prefeito aos vereadores, conforme o relatório da Polícia Federal. “ele mandou eu ‘acertar’ o Marcus, conversar, que quer os 13 e tal. Aí o Marcus não quis... A proposta que tem Marcus não quis. Ninguém vai ter coragem de defender ele por conta”.

Neste momento Marcus Douglas aumenta o tom da voz: “ontem eu comecei, agora na próxima sessão, pedindo o holerite do prefeito, com os empréstimos e tudo mais, o salário líquido dele, desde janeiro de 2013 pra cá... Na hora de justificar, eu vou justificar pra conferir a compatibilidade financeira do salário dele com o veículo com Vera Cruz que ele adquiriu, com a farmácia que tá abrindo, ele e o irmão dele. Vou trazer o contrato social que tem lá no escritório da farmácia de Caarapó! Vou acabar com ele! Eu falei pra você se ele mandasse a Paula embora ele ia se f... Eu avisei!”.

Cícero dos Santos tenta controlar o amigo: “não adianta, ontem ele deu a proposta, botou boa fé! Aí tem que ter uma contraposta sua! Eu ‘se’ tô nessa situação, o cara tem que conversar... Agora, você tem que decidir o quê você quer! E vê se. O que adianta você estar com os seus 20 aqui e no plenário ficar quietinho, ali?”. Marcus responde: “mas por 20 vale a pena! Sério, vale! Vale!”.

Demissões – As gravações da PF mostram que Marcus Douglas estava magoado com o prefeito, entre outras questões, pela demissão de sua mãe e de sua namorada, identificada como Paula, de cargos na prefeitura, e por causa de compromissos que não teriam sido cumpridos por Léo Mattos. “Ele ficou me devendo...agora eu vou te falar meus negócios com o Léo...Qual que era o meu combinado com Léo... meu combinado com o Léo, se desse para nomear minha mãe na Secretaria, beleza, se não desse ele ia dar cinco conto por mês, tava combinado, tudo combinado. As gerência de núcleo eram duas minhas... Não deu nenhuma, as gerências de equipe, era três minha, tendeu...não deu nenhuma... ele deu cinco encarregados de setor... mandou os encarregados de setor tudo embora...”.

Nesta semana, quando procurado pelo Campo Grande News, após as degravações mostrarem citação ao seu nome, o prefeito Léo Mattos disse desconhecer o esquema montado pelos vereadores e negou fazer pagamento em troca da aprovação de projetos de lei. Na ocasião, disse que o Executivo é vítima do esquema.

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