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Interior

Diálogo virtual expõe trapalhada que levou PF a assassinar policial militar

Marta Ferreira | 12/05/2011 12:30

Não fossem as consequências graves – um morto e dois feridos - e o episódio envolvendo um policial federal, uma guarda municipal e uma equipe do serviço de inteligência da Polícia Militar em Dourados poderia ser transformado em filme cujos personagens seriam homens da lei altamente atrapalhados. É o que revela a transcrição da conversa pela internet entre o policial federal Leonardo Pachedo, de 38 anos, e a guarda municipal de Dourados, Zilda Aparecida Ramires, de 44 anos, ocorrida no Dia das Mães.

Ela, que se identificou como Cláudia, achava que ele era traficante. Ele, usando o codinome Léo Preq vuetel, achava que ela era garota de programa. Ela quis prender um criminoso. Ele quis satisfazer sua libido.

Os dois se enganaram e o resultado disso foi a morte do policial militar Sandro Morel, 36 anos, o baleamento do também PM José Pereira e do policial federal, após uma intensa troca de tiros.

O tiroteio aconteceu depois de Zilda acionar os policiais militares para ir até a casa do suposto traficante. Chegando lá, ele abriu o portão do condomínio para ela, os três chegaram à porta do apartamento do agente da PF e tentaram de voz prisao ao até então criminoso, que respondeu com tiros.

O policial Leonardo Pacheco: preso após se envolver em episódio que parece filme sobre policiais trapalhões. (Foto: Reprodução)
O policial Leonardo Pacheco: preso após se envolver em episódio que parece filme sobre policiais trapalhões. (Foto: Reprodução)
Trecho da conversa em que Leonardo, diante das perguntas sobre o que faz, diz ser traficante. (Foto: reprodução)
Trecho da conversa em que Leonardo, diante das perguntas sobre o que faz, diz ser traficante. (Foto: reprodução)

Personagem-A transcrição da conversa revela que Leonardo tentou esconder sua profissão durante a paquera virtual e se classificou como traficante após Zilda condicionar à ida a seu apartamento à obtenção dessa informação.

Os dois se conheceram, segundo ela, 15 dias antes em um site de relacionamentos, não informado. Dali, trocaram seus endereços no comunicador instantâneno MSN, e lá o diálogo seguiu.

Primeiro, Leonardo mostrou fotos suas. “Não sou nenhum Gianequini (sic)”, escreveu. Na sequência, Zilda demonstra já saber que ele era casado.

Ao comentar sobre a mulher e o filho, que vivem fora de Dourados, Zilda se mostrou reticente quanto ao convite dele para se conhecerem pessoalmente. Ele fala claramente em sexo.

Pagamento em droga-Ela diz que, neste caso, em se tratando de alguém comprometido, só iria se fosse mediante pagamento. Diz que não é garota de programa, mas que para se envolver com homem casado tem que ganhar algo. “Você acha que vou sair com homens casados só por prazer”, afirma. Em outro trecho da conversa, ela diz trabalhar no comércio.

Zilda insiste para saber o que o Leonardo faz. Ele para que ela defina um preço do programa.

Diante da insistência, Leonardo afirma “sou traficante” e cita o fato de estarem em uma fronteira, onde isso é comum. Embora diga não acreditar no começo, Zilda pede então que o pagamento do programa seja feito em droga, para que ela possa repassar e ganhar mais.

Demonstrando acreditar que este valor será pago em produto, ela indaga que tipo de droga Leonardo teria em casa. Ele cita maconha. Zilda pergunta se ele não tem óxi, a novidade no mercado de entorpecentes.

O policial afirma que óxi é coisa nova e ela o classifica de “fraquinho”. Ele, usando a experiência profissional, explica que a droga é um subproduto da cocaína, e vale menos que maconha.

Como ela não fixa um preço, ele afirma que não pode ser “mais que 80”. Zilda, novamente dando a entender a crença de que receberá em maconha, diz que, então o “estoque é pequeno”.

Leonardo diz que não “guarda nada em casa”, e prossegue fornecendo seu endereço.

Ela questiona sobre o perigo de ir até a casa dele, que lembra a existência de muitos vizinhos. Zilda fala então, do temor em relação à esposa de Leonardo. “Ela está há mais de 1,5 mil quilômetros daqui”, ele devolve.

Ao final da combinação, Zilda pergunta se ele estará com o que combinou com ela e ele responde que estará com dinheiro.

“Ei, não vou te passar nada. Vou te pagar com dinheiro”, afirma taxativo.

A guarda municipal reclama que este não foi o combinado, reforça a intenção de receber em droga, e Leonardo afirma que ela entendeu dessa forma, mas que ele não disse que pagaria o programa com maconha.

Demonstrando impaciência,Leonardo encerra o diálogo virtual dizendo que informou que traficava maconha, mas não disse que a pagaria com maconha. Depois, conclui. “Bem, você tem meu tel, né. Se quiser mesmo me conhecer, me liga”.

A partir daí, a história já é conhecida. Leonardo foi preso em flagrante e indiciado por homicídio e por tentativa de homicídio. Ferido, ele estava sob custória da PF, até ontem, no Hospital Santa Rita.

Nascido em Belo Horizonte, Minas Gerais, ele está na PF desde 2008. A defesa dele já pediu o relaxamento da prisão, e a Justiça ainda não analisou.

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