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Interior

Em passeata de 10 km, índios protestam contra violência e cobram autoridades

Helio de Freitas, de Dourados | 14/11/2014 11:29
Índios saíram do Cras da aldeia Bororó e marcharam até a rodovia entre Dourados e Itaporã (Foto: Eliel Oliveira)
Índios saíram do Cras da aldeia Bororó e marcharam até a rodovia entre Dourados e Itaporã (Foto: Eliel Oliveira)

Para protestar contra os casos de violência que apavoram uma população de 15 mil pessoas, índios das aldeias Bororó e Jaguapiru fazem manifestação na manhã desta sexta-feira em Dourados, a 233 km de Campo Grande.

Uma passeata iniciada no Cras (Centro de Referência de Assistência Social) da Bororó cortou quase toda a reserva até chegar à rotatória de acesso às aldeias, na rodovia MS-156, que liga Dourados a Itaporã. Foram pelo menos 10 km percorridos a pé.

De janeiro até o final de outubro, ocorreram 23 assassinatos e 107 casos de agressões, que incluem brigas, suicídios, espancamento e estupros. Uma dessas vítimas foi a menina de 9 anos de idade, estuprada por oito índios no dia 5 de outubro. Quatro adolescentes e cinco maiores de idade foram presos.

No dia 1º deste mês, outro caso de violência vitimando indígena teve repercussão nacional, embora tenha ocorrido fora da reserva. A líder kaiowá Marinalva Manoel, 27 anos, foi morta com 35 facadas próximo ao acampamento em que morava, na região sul da cidade. A polícia pediu a prisão do companheiro dela, único suspeito do crime.

O líder religioso Ezau Mamede, 42 anos, morador na aldeia Jaguapiru, disse que o objetivo do movimento é chamar a atenção das autoridades policiais e políticas. “A comunidade indígena de Dourados pede socorro. Não podemos mais conviver com tanta violência. As aldeias precisam de policiamento de verdade, todos os dias”, afirmou ele ao Campo Grande News.

Segundo ele, atualmente existe um jogo de “empurra-empurra” quando o assunto é a violência nas aldeias. “Os moradores procuram as lideranças indígenas, que mandam procurar a PM e a Polícia Civil, que mandam procurar a Polícia Federal e a Funai. Nós índios não suportamos mais esse descaso e falta de segurança”.

Mamede afirmou que a reserva de Dourados é mais populosa que muitos municípios de Mato Grosso do Sul e tem vários acessos, o que facilita a entrada de drogas e álcool. “É fácil entrar aqui a hora que quiser, por isso precisamos da polícia aqui”, afirmou.

O líder religioso criticou também as informações de que o estupro faz parte da cultura indígena. Os índios presos por violentarem a menina de 9 anos afirmaram que queriam apenas fazer a “feira”, uma prática em que vários índios pegam uma mulher à força para fazer sexo.

“Estuprar alguém, principalmente uma criança, não é da cultura indígena. Nossa cultura tem a dança, as pinturas, nossa tradição. Atualmente as aldeias de Dourados têm dezenas de indígenas com curso superior, pessoas informadas, estudadas, que conhecem as leis. Estupro é crime e não cultura”, afirmou Mamede.

Após a passeata, a manifestação se concentrou na rotatória da MS-156, mas Mamede informou que o movimento é pacífico e não haverá bloqueio da estrada.

Mulheres índias engrossam protesto contra a violência em aldeias de Dourados (Foto: Eliel Oliveira)
Mulheres índias engrossam protesto contra a violência em aldeias de Dourados (Foto: Eliel Oliveira)
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