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Interior

Fronteira não é "bicho de sete cabeças", dizem policiais da região

Luciana Brazil | 19/09/2012 11:01
Comissário do Paraguai garante que o bom relacionamento entre os dois países garante sucesso no policiamento fronteiriço. (Fotos:Rodrigo Pazinato)
Comissário do Paraguai garante que o bom relacionamento entre os dois países garante sucesso no policiamento fronteiriço. (Fotos:Rodrigo Pazinato)

A palavra “fronteira” quando pronunciada vem, muitas vezes, contaminada pela lembrança de insegurança e criminalidade. Mas conhecer a realidade dessas cidades fronteiriças pode mudar alguns conceitos em relação a esses sinônimos. Lugares descritos como perigosos podem servir, na verdade, apenas como caminho para que o crime aconteça longe dali.

Em Paranhos, a 469 km de Campo Grande, há quase dois meses não é registrado um roubo, furto ou furto de veículos, como confirma o escrivão Roni Bruno, há sete anos na cidade. “É muito raro esses crimes por aqui", afirma.

Ao lado, na cidade paraguaia Ypejhú, que fica a 350 km de Assunção, a capital do país, o relato também é de que as coisas não são como se enxerga do lado de cá. O chefe da comissaria (polícia paraguaia) Eládio Ibarra, 48 anos, garante que há três meses nenhum boletim de ocorrência de roubos ou furtos foi registrado.

Segundo o comissário, a atuação na fronteira é binacional e o bom relacionamento com a polícia brasileira é o que garante um bom resultado. “A fiscalização é feita durante 24 horas, em vários locais da fronteira, mas o trabalho junto com a polícia brasileira ajuda a resolver vários crimes”.

O escrivão Roni Bruno confirma a boa relação entre os dois países e explica que em casos isolados realiza inspeções que vão ajudar a polícia paraguaia. "O trabalho de polícia é desenvolvido e quando um país precisa do outro para solucionar alguns casos, essa ajuda exista".

Escrivão Roni diz que a cidade é tranquila, diferente do que muitos possam pensar.
Escrivão Roni diz que a cidade é tranquila, diferente do que muitos possam pensar.

Sobre a entrada de drogas, produtos e mercadorias ilegais, além de armas, o comissário salienta: “A fronteira é grande, não tenho como evitar a entrada em alguns pontos. Não dá para assegurar o que se passa em outros locais, mas a fiscalização é feita durante todo tempo”.

Há 25 anos na polícia, Ibarra foi um dos responsáveis pela segurança do papa João Paulo II, em 1988, quando o sumo pontífice visitou o país. O desempenho policial está estampado no porta-retrato que ele faz questão de manter em sua mesa. “Eu sou católico, creio na igreja”, disse, lembrando que não consegue cumprir todos os mandamentos.

Assim como no Brasil, a polícia paraguaia utiliza um sistema de identificação de pessoas, como o Sigo (Sistema Integrado de Gestão Operacional) desenvolvido pelo Brasil.

Diante dos conflitos de terra que acontecem constantemente, comissário e escrivão ressaltam que a polícia só intervem quando são casos mais específicos, como homicídio. "Quando existem situações como briga interna e não tem Boletim de Ocorrência a gente não intervem", destaca Roni Bruno.

Ao todo, são nove aldeias na região, cinco em Paranhos e quatro em Ypejhú.

O comissário afirma que apenas a capacitação de homens deveria ser maior. Ibarra diz que são três viaturas para fiscalizar a cidade de quase 12 mil habitantes, para ele um bom número. Sobre o efetivo, ele não revela por uma questão de segurança.

Fernandez é dono de um posto de gasolina localizado exatamente na divisa internacional.
Fernandez é dono de um posto de gasolina localizado exatamente na divisa internacional.

Do lado brasileiro é fácil descobrir as dificuldades, basta observar a mínima quantidade de homens que trabalha na delegacia. Dois, apenas dois. A situação é comum em várias cidades do Estado, como reclamam os servidores. Ausência de um delegado em Paranhos, como em muitas outras cidades, só pulveriza ainda mais os problemas, prejudicando o desempenho da policia, mesmo com a cidade tranquila.

A delegada Marina Lemos Conceição é lotada em Coronel Sapucaia, a quase 70 km de Paranhos, e só vai até a fronteira quando ocorre algum fato mais grave. Porém, como relatam frequentemente os servidores, esse planejamento atrapalha o desempenho da Polícia Civil.

Morar na fronteira: Exatamente na divisa internacional entre Paraguai e Brasil, Emiliano Fernandez, 64 anos, trabalha há anos. Dono de um posto de gasolina na avenida Ayrton Senna, ele destaca com orgulho a tranquilidade do local. Pai de seis filhos, Fernandez lembra que cuidou da família na cidade de Ypejhú e não se arrepende disso.

"Se você não fizer nada de errado, não tem problema nenhum morar na fronteira. Aqui é muito bom", disse misturando o guarani e o espanhol.

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