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Interior

Por mais dinheiro, vereador ameaçava abrir CPI contra prefeito

Helio de Freitas, de Dourados | 31/10/2014 08:27
Escutas da PF revelam que Marcus Douglas, que está em prisão domiciliar, tentava chantagear Léo Mattos com ameaça de investigação na Câmara (Foto: Divulgação)
Escutas da PF revelam que Marcus Douglas, que está em prisão domiciliar, tentava chantagear Léo Mattos com ameaça de investigação na Câmara (Foto: Divulgação)

O vereador e advogado Marcus Douglas Miranda, que nesta semana voltou para prisão domiciliar em Naviraí, a 366 km de Campo Grande, era aliado do prefeito Léo Mattos (PV), foi líder dele na Câmara no início do ano passado, mas rompeu com o chefe do Executivo e passou a criticar a administração em discursos na tribuna. Os motivos seriam compromissos não cumpridos por Mattos, inclusive envolvendo dinheiro.

Escutas feitas pela Polícia Federal durante a Operação Atenas revelam que Marcus Douglas tramava instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) contra o prefeito. “Vou propor a CPI, acabou a conversa. vou propor aqui a CPI do "Cdzinho", afirma Marcus Douglas.

Relatório das gravações ao qual o Campo Grande News teve acesso mostra vários diálogos do presidente da Câmara Cícero dos Santos, o Cicinho do PT, que também está preso, conversando com Marcus Douglas e com o próprio Léo Mattos sobre o rompimento entre prefeito e vereador.

Em conversa com uma pessoa não identificada, Cícero dos Santos diz que o prefeito tinha mandado obstruir a instalação da CPI: “Então, deixa eu te falar... Falei com Léo na sexta-feira. CPI aqui na casa, duas CPIs. E eu comecei a falar com Léo e o Léo veio para cima de mim, para mim segurar o rojão. Eu disse que ‘Léo, certas coisas você não tem como segurar’, vou apaziguando, jogando água benta, porque senão também me comprometo... Vou conversar com Marcus para a tentativa de não fazer, tentar mais uma vez aproximar o Léo dele, porque ele está passando do limite, ele e o Léo já”.

Pernilongo – Cícero dos Santos compara o prefeito a um pernilongo, que incomoda a noite toda: “O negócio vai ficar muito feio pros dois. Só que o Léo não entende desta forma, vai pra cima do cara. Léo é tipo aquele pernilongo, que você está dormindo e ele fica no seu ouvido ‘zuumm’, você bate e o cara some, e daqui a pouco ele volta, ‘zuumm’. Passa assim a noite inteira, ou seja, você vai perder seu sono, vai desgastar. Vai acontecer assim com o Marcus Douglas. É um cara da situação, financeiramente sossegado, família tradicional da política, você acha que ele vai se intimidar? Primeiro que vereador não cassa vereador aqui na Câmara, ninguém cassa vereador”.

A PF também gravou uma conversa de Cícero dos Santos com Léo Mattos. O assunto era Marcus Douglas. “No diálogo fica evidente um racha entre o vereador Marcus Douglas e o prefeito Leo Mattos. Chama atenção ainda a bondade do prefeito em conseguir emprego para mãe do vereador e o fato do prefeito afirmar que ofereceu pagar o aluguel de Marcus Douglas. Ora, sabe-se que essa autoridade pública ganha como proventos cerca de 12 mil reais mês/bruto, como poderia sobrar dinheiro para custear tais despesas?”, diz trecho do relatório da PF.

“Entre eu e o Marcus Douglas não dá mais. Eu não tenho como confiar em você se você está andando com o cara que quer me f... Se coloca no meu lugar, simplesmente isso que eu te falo”, afirma Léo Mattos. “Se eu me colocasse no seu lugar eu ia resolver o problema do cara”, responde Cicinho.

“Toma juízo” – O prefeito demonstra ter ficado irritado, se despede de Cícero e pede para o vereador “passar lá depois”. Cícero continua tentando convencer Léo Mattos a “acertar” com Marcus Douglas: “Léo, Léo, toma juízo bicho. Refresca a cabeça, toma juízo, senta com o cara, não dá palanque Léo, você é maior que o cara”. Léo Mattos afirma: “ele é um idiota, ele quer dinheiro, eu não vou dar, pronto. Hoje eu tenho um grupo que me defende, eu não posso sacanear os caras”.

Em outro trecho, o prefeito fala dos favores que fez para Marcus Douglas, entre os quais o emprego para a mãe do vereador. “Ele fala que só teve prejuízo com você”, diz Cícero dos Santos. “Mentira dele, o emprego da mãe dele eu arrumei. Todo lugar, ninguém quis saber. O imóvel dele eu ia alugar, ele que não quis”. Cícero retruca: “[Você] mandou a Paulinha embora também”. Léo Mattos: “eu tive um acordo de colocar ela numa gerência de núcleo, e eu botei. O acordo era para dar um carguinho de mil e duzentos”.

Para tentar convencer o prefeito a fazes as pazes com o antigo aliado e atual desafeto, Cícero dos Santos sugere abrir mão de algum benefício financeiro que recebe do prefeito, para repassar a Marcus Douglas: “Me escuta uma vez só na vida, se você seguir bem. Deixa de dar o meu três meses. Três meses acabou o Marcus Douglas, que tal? Você na sua continua, tem noventa dias para acalmar esse cara”.

Léo se mostra irredutível: “Vamos ver do outro lado. Imagina se ele continuar batendo, eu não acerto nada com ele, e ele continua batendo. Imagina se daqui três meses não deu nada, o que vai acontecer com esse moleque?”. Cícero dos Santos: “mas ele não vai parar, o problema não é que daqui três meses não deu nada, o problema que hoje, deu aqui, amanhã é um negocinho ali”.

Cicinho pede para o prefeito “não mexer” com Marcus Douglas e os dois deixam claro que o esquema de pagamento de diárias fraudulentas já era usado para negociar apoio. Cícero: “mas para que você vai mexer com os vereadores?”. Léo: “não, vai mexer com ele e com que tiver contra”. Cícero: “mas se você mexer com ele, mexe, se você pedir a diária de um, o promotor pede de todos”.

Procurado pelo Campo Grande News no dia 13 de outubro, o prefeito Léo Mattos disse desconhecer o esquema montado pelos vereadores e negou fazer pagamento em troca da aprovação de projetos de lei. "Desconheço isso. Vocês leram errado, estão equivocados. Nesse suposto esquema o Executivo figura como vítima”. Em trecho da representação em que pediu a prisão dos acusados, a Polícia Federal também trata o prefeito como “vítima” do esquema de corrupção.

Marcus Douglas com Léo Mattos (centro) antes do rompimento e com o vereador Adriano José Silvério, também preso (Foto: Divulgação)
Marcus Douglas com Léo Mattos (centro) antes do rompimento e com o vereador Adriano José Silvério, também preso (Foto: Divulgação)
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