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Cidades

Após internação na Unei, meninas dizem ter uma oportunidade para vida nova

Paula Vitorino | 03/05/2011 17:00

Maioria das internas foi influenciada por amigos ou namorados

Meninas afirmam ter aprendido com erro e querem vida. (Foto: João Garrigó)
Meninas afirmam ter aprendido com erro e querem vida. (Foto: João Garrigó)

“Acredito que essa seja uma oportunidade de mudar, de começar uma vida nova. Quem sabe se eu não tivesse vindo para cá, teria continuado fazendo coisa errada e nunca ia perceber que não estava no caminho certo”, diz a adolescente de 14 anos, que é uma das internas da Unei (Unidade Educacional de Internação) feminina Estrela do Amanhã, sobre a experiência de ser privada da liberdade já nos primeiros anos da vida.

A garota foi apreendida há pouco mais de um mês, em flagrante, quando praticava um assalto a mão armada. Ela e um grupo de quatro meninos roubaram um motorista, próximo ao terminal Guaicurus, em Campo Grande. Segundo ela, esse foi o seu primeiro e último crime.

“A gente queria dinheiro. Todos usavam drogas, aí íamos comprar mais e também outras coisas. Os meninos já tinham feito vários assaltos antes, mas dessa pegaram eles e eu também”, conta.

Mas a garota diz que o “susto” veio para o bem. “Às vezes Deus escreve certo por linhas tortas, não é assim que falam?!”, reflete.

Internada na Unei desde o flagrante, a adolescente deseja uma vida nova.

Junto com uma colega de alojamento, que é dividido entre três meninas, a adolescente conversou com o Campo Grande News. A dupla mostrou que um erro pode ser o começo para uma vida de acertos. Toda a conversa foi acompanhada pela diretoria da Unei.

A história da companheira de cela, de 16 anos, não é muito diferente. A garota também está na Unei há um mês – as duas meninas foram internadas no mesmo dia.

“Agora percebo como faz falta a liberdade. Achava que isso nunca ia acontecer, que era jovem e tinha toda a liberdade, mas agora vejo como faz falta isso”, afirma

Más influências - A menina foi detida, também em flagrante, quando acompanhava o namorado que estava transportando drogas. Ela mora no interior de Goiás, mas veio até Ponta Porã para pegar a droga e acabou detida em Jardim.

A menina diz que sabia sobre o tráfico, mas aceitou acompanhá-lo por medo de ser “deixada”. História muito comum entre mulheres que hoje cumprem pena no Presídio Feminino de Campo Grande por tráfico.

“Eu sei que foi bobeira de adolescência, de namorada apaixonada. Sabe como é, ele disse que se eu não fosse ia levar outra junto, aí concordei em ir acompanhando. Fiquei com medo de ser pega pela polícia, mas não imaginava que ia acontecer”, conta.

O namorado dela está preso, é maior de idade. A jovem admite que ainda gosta do rapaz, mas garante que não quer voltar para a mesma vida.

“A mesma chance que eu estou tendo de mudar, ele também está tendo. Então se ele quiser, se eu puder me aproximar dele, quero ajudar a levar ele pra uma vida diferente”, diz.

Assim como a jovem, a maior parte das meninas internadas na Unei entrou no crime por influência de namorados ou amigos, segundo a diretora da unidade, Carmem Ligia Loureiro.

A Unei atualmente tem 10 meninas, a maioria cumpre medida disciplinar por tráfico de drogas.

“Minha mãe sempre falava: cuidado com as más influências, mas eu achei que era besteira. Agora vejo que é verdade, influencia e muito”, afirma a garota de 16 anos.

As duas meninas têm familiares com passagem pela Polícia. A avó da menina mais velha foi presa por tentativa de homicídio, acertou um machado na cabeça do marido, e o tio foi preso por assalto.

Meninas foram apreendidas no mesmo dia, mas dizem que a vida vai melhorar.
Meninas foram apreendidas no mesmo dia, mas dizem que a vida vai melhorar.

Recomeço - Todo sábado é o “Dia da Beleza” na Unidade. As meninas contam que uma faz a maquiagem da outra, o cabelo e escolhem as roupas mais bonitas. A garota de 16 anos é a especialista nas produções e diz que quer trabalhar como cabeleireira quando sair da Unei.

As duas garotas ainda não sabem quanto tempo irão permanecer na Unidade. A diretora Carmem explica que o período é indeterminado e depende de relatórios que são emitidos mensalmente.

Em liberdade, as meninas planejam aproveitar a família, principalmente. “Aprendi a dar mais importância a família. Amigo nenhum vai te dar um conselho melhor que o da sua mãe. Quantas vezes não dei valor as coisas que ela fazia por mim”, relata a jovem de 14 anos.

Já a outra menina afirma que a primeira coisa que quer fazer quando conseguir a liberdade é “abraçar a minha mãe”.

“Sinto falta das pessoas que realmente me amam”, diz.

Oportunidade - Nesta manhã, a nova cozinha da Unei Estrela do Amanhã foi inaugurada durante almoço com autoridades da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

O serviço de alimentação foi todo terceirizado, assim como já acontece nas outras três Uneis de Campo Grande. A iniciativa é mais uma ação com o objetivo de melhorar o atendimento aos adolescentes, oferecendo alimentação adequada e de qualidade.

Para a diretora da Unidade há quatro anos, está havendo uma mudança no pensamento de como deve ser feito reeducação do adolescente infrator.

“Estamos tendo acesso a uma estrutura maior e com isso podemos desenvolver melhor os serviços. No dia a dia oferecemos amor a essas meninas, mas principalmente, disciplina. Elas precisam de uma nova oportunidade e de atividades para isso”, diz Carmem.

As adolescentes da Estrela do Amanhã participam de aulas de artesanato, dança e cursos profissionalizantes. Mas os jogos de vôlei são a atividade preferida pelas internas.

O trabalho de reeducação também é feito junto às famílias, que recebem acompanhamento psicossocial.

“São famílias humildes, onde o pai e a mãe precisa sair o dia inteiro para trabalhar e o adolescente acaba sendo influenciado por amigos, que os encaminham no crime. A maioria das famílias não tem nem estrutura e conhecimento para resgatar esses adolescentes do crime”, afirma.

A capacidade da Unei Estrela do Amanhã é para 16 meninas, mas a média de internadas é de 15.

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