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Cidades

Mulher descobre fio de metal esquecido por médicos

Redação | 19/12/2009 07:07

Nove meses depois de ter sido submetida a um procedimento para colocação de intracath, um tipo de acesso ao sistema venoso para injetar soro e medicamentos colocado no pescoço, a doméstica Celina Antônio Malheiro, de 44 anos, descobriu que um instrumento metálico, espécie de guia, foi deixado no corpo dela.

Ela procurou a Associação das Vítimas de Erro Médico de Mato Grosso do Sul, que reuniu laudos e já encaminhou a denúncia à Justiça. Segundo o presidente da entidade, Valdemar Moraes de Souza, o Ministério Público também acompanha o caso.

Celina conta que só descobriu a guia, que parece um fio comprido, após meses passando mal, com febre constante e ânsia de vômito. Os sintomas a fizeram voltar à Santa Casa várias vezes, mas como a situação não era resolvida, decidiu procurar um hospital particular, onde fez o raio-x que detectou o objeto metálico dentro da veia.

Nesse tempo, conta Celina, médicos da Santa Casa chegaram a fazer outra intervenção cirúrgica nela, mas sem explicar em detalhes de que se tratava. "Não queriam reconhecer que esqueceram isso nela", diz indignado o marido, Hélio Viana da Silva, de 52 anos.

A paciente conta que durante o procedimento, feito apenas com anestesia local, os médicos conversavam e diziam "isso aí não vai sair". Ela lembra também que na primeira cirurgia, realizada em abril deste ano, duas residentes ficaram responsáveis por inserir a guia em sua veia, enquanto o médico saía da sala para atender ao telefone celular.

"Escutei a menina falando que arrebentou, mas dois dias depois recebi alta", garante Celina. Foi quando os problemas de saúde começaram, permanecendo até que o erro fosse descoberto.

Ela conta que os médicos afirmam não ser possível retirar o material metálico, sob o risco de romper uma veia que bombeia sangue direto para o coração. Contudo, eles já adiantaram que a paciente deverá viver pelos próximos dois ou três anos, mas depois apresentar uma série de complicações, como trombose, por conta do material alojado em seu corpo.

Os nomes dos profissionais ainda são preservados, aguardando resposta deles à Justiça.

A Santa Casa de Campo Grande foi procurada pelo Campo Grande News para esclarecer o caso, mas informou, por meio da assessoria de imprensa, que informações sobre o histórico de pacientes são confidenciais.

Contudo, o hospital confirmou que recebeu intimação acerca do caso de Celina, e que o departamento jurídico está levantando informações para responder a Justiça até o final do prazo oferecido (sexta-feira).

Procedimento - Procurado pelo Campo Grande News, um cardiologista que prefere não ser identificado explica que o material usado para o procedimento é plástico e introduzido por uma guia metálica. O que fica no paciente durante o tratamento é apenas o plástico.

O especialista afirma que não tem conhecimento de nenhum caso em que um desses materiais tenha sido esquecido no paciente. Contudo, ao olhar fotos do raio-x de Celina, ele afirma que parece tratar-se mesmo da guia metálica usada para passar o intracath, que quebrou e ficou dentro dela.

Segundo ele, se fosse realmente um cateter o que há no corpo de Celina, como ela acredita, a imagem do raio-x seria tênue. Mas o que aparece no exame da doméstica é um fio nítido, com aparência de metal.

O especialista não descarta a hipótese de o material ter sido deixado no corpo da paciente, pois acidentes também acontecem na medicina, segundo ele. Contudo, o médico avalia que a questão teria que ter sido resolvido logo na sequência do problema.

O cardiologista lembra do caso do menino Enzo, de sete meses, que no início deste mês foi submetido a uma cirurgia para retirada de um cateter deixado em seu coração. Para ele, talvez o médico que retirou o cateter da criança consiga remover o que foi esquecido em Celina. Se isso não ocorrer, alerta o profissional, ela terá de ser submetida a intervenção feita por um cirurgião vascular.

Assim como no caso de Enzo, o problema para Celina é a possibilidade de uma infecção provocada pela presença de um corpo estranho. Além disso, existe o risco de a guia metálica descer para o coração ou o pulmão, o que pode provocar sua morte.

O cardiologista confirma que o remédio receitado a ela, Marevan, é anticoagulante. A medicação pode estar sendo usada para que o sangue não coagule na veia em torno do corpo estranho.

De acordo com o profissional, o melhor procedimento a ser adotado pela paciente é procurar o médico que fez a cirurgia, para que ele avalie o melhor tratamento.

Tragédia -Celina lembra que seus problemas de saúde tiveram início há um ano, após acidente ocorrido com ela e o marido, quando retornavam de motocicleta para casa, pela BR-262, próximo do Jardim Noroeste, onde vivem, e um caminhoneiro dormiu ao volante.

Com a colisão, o marido sofreu uma lesão na coluna e ficou em uma cadeira de rodas. Celina teve o braço esfacelado, ficou meses no hospital e teve que fazer vários enxertos de pele.

Durante esse período, como apenas um braço podia receber soro porque o outro estava muito machucado, ela acabou tendo as veias estouradas.

A solução encontrada pelos médicos foi o uso do intracath, que dá acesso a veias mais grossas.

Celina conta que não teve acompanhamento de cardiologistas durante a cirurgia, que foi realizada por residentes, e que dois médicos acompanhavam seu caso, porém, nenhum forneceu informações sobre o que se passava com ela.

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