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Cidades

Por curiosidade, status e defesa, adolescentes apelam às armas

Nadyenka Castro e Viviane Oliveira | 08/09/2011 18:39

Adolescentes fazem questão de esquecer das leis para o bom convívio em sociedade e, com “ajuda” de pais que não se lembram dos seus deveres, terminam no mundo do crime.

Adolescente que matou amiga de 12 anos está apreendido. (Foto: Simão Nogueira)
Adolescente que matou amiga de 12 anos está apreendido. (Foto: Simão Nogueira)

Pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), menores de idade não podem ser punidos severamente: nem dentro de casa nem em locais destinados aos infratores.

Com pleno conhecimento dos seus direitos, muitos adolescentes fazem questão de esquecer das leis para o bom convívio em sociedade e, com “ajuda” de pais que não se lembram dos seus deveres, terminam no mundo do crime.

Crimes estes que em alguns casos acabam com vidas: seja de quem morre, de quem mata ou de quem fica para conviver com a ausência de quem se foi.

E para comete-los, adolescentes têm usado cada vez mais armas de fogo. De acordo com a delegada Maria de Lourdes Souza Cano, da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e à Juventude), em agosto, foram 34 ocorrências envolvendo menores de 18 anos com este tipo de arma. “É assalto, tentativa de homicídio, homicídio e porte irregular”, diz.

A delegada lida diariamente com infratores e, assim como o promotor de Justiça da Infância e da Juventude, Sérgio Harfouche, que também trabalha com esta ‘categoria’, afirma que os adolescentes manuseiam revólveres e afins por curiosidade, status e defesa pessoal.

Estes fatores aliados ao comportamento familiar resultam em ‘acidentes’, como os adolescentes justificam suas ações. O último terminou com a morte de Ana Carolina Alvicio dos Santos, 12 anos, na noite de terça-feira (6), no bairro Zé Pereira, em Campo Grande.

Acidental? - ”Quando o adolescente pega um revólver carregado ele sabe que pode matar”, afirma o promotor Sérgio Harfouche, referindo-se ao fato de que acidente seria se a pessoa não soubesse o que poderia resultar a ação.

O promotor afirma ainda que em muitos casos falta educação mais rigorosa dentro de casa. “Os pais não fiscalizam mais os seus filhos”. A delegada Maria de Lourdes também cita os pais como ferramenta fundamental para evitar que mais adolescentes virem notícia nas páginas policiais.

Arma de fogo de onde saiu o tiro que deixou em estado grave Paulo Henrique. Menina de 15 anos ficou com o revólver em casa por vários dias. (Foto: Simão Nogueira)
Arma de fogo de onde saiu o tiro que deixou em estado grave Paulo Henrique. Menina de 15 anos ficou com o revólver em casa por vários dias. (Foto: Simão Nogueira)

Os pais estão omissos. (...) Os pais têm que conscientizar os filhos [que arma de fogo] não é brincadeira; mata”, fala a delegada.

E foi o que quase aconteceu com Paulo Henrique Fernandes Guimarães, 19 anos, na noite do dia 23 de agosto. Uma amiga dele, de 15 anos, atirou acidentalmente nele. Agora, ele está no CTI (Centro de Tratamento Intensivo) da Santa Casa.

Sobre a arma, ela disse à Polícia que a encontrou na rua, a levou para casa e alguns dias depois foi brincar com os amigos e então houve o disparo. A mãe, que não havia percebido o objeto em casa, convenceu a filha a se entregar, contou a menina.

Curiosidade, status e defesa - Salvo algumas exceções, os menores de idade portam armas de fogo por estes três motivos. “Eles estão brincando com o apoderamento. E para eles a arma é poder. Antes era o cigarro, agora é a arma”, declara o promotor de Justiça sobre o status. A delegada complementa. “Quer mostrar para o colega que tem uma arma”.

Sobre a curiosidade, Maria de Lourdes explica que o jovem quer conhecer o que para ele é totalmente desconhecido. Então, explicar, conversar e ter cautela são ações essenciais, principalmente às pessoas que trabalham com armas. “Se você tem uma arma de fogo, para qualquer fim, tem que ter cautela, desmuniciar, porque a tendência do adolescente é exibir”, alerta.

No caso do adolescente de 15 anos que matou a amiga, a suspeita da Polícia é que o revólver de onde saiu o disparo seja do pai. Ele e o filho negam. A arma estava no guarda-roupa do vigia.

A arma de fogo também é usada como instrumento de defesa. Sejam menores de idade ou maiores, o que se ouve é que muitos alegam estarem armados para se defenderem de rivais.

O promotor de Justiça Sérgio Harfouche associa ainda a grande quantidade de menores de 18 anos envolvidos com o crime com a falta de plantões policiais em delegacias especializadas e à legislação. “Esta geração de 16 anos pra cá é produto do protecionismo do ECA”, conclui.

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