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Cidades

Siufi confirma supersalários dos filhos e “doação” de aparelho à Neorad

Edivaldo Bitencourt | 29/08/2013 17:36
Adalberto Siufi apresentou a sua "versão" para denúncias sobre máfia do câncer (Foto: Bruno Chaves)
Adalberto Siufi apresentou a sua "versão" para denúncias sobre máfia do câncer (Foto: Bruno Chaves)

O médico Adalberto Siufi, ex-administrador do Hospital do Câncer, confirmou, em depoimento na tarde de hoje (29) na CPI da Saúde da Assembleia, o pagamento de “super salários” aos filhos, nora e genro e a “doação”, por falta de uma sala específica, de um aparelho avaliado em R$ 500 mil para a Neorad.

Apesar de ser pressionado pelos deputados estaduais, ele conseguiu se esquivar de perguntas polêmicas. Contudo, não escapou dos protestos de sindicalistas e familiares de pacientes mortos durante o tratamento no estabelecimento que comandou de 1996 a 20 de março deste ano.

Entre os manifestantes estava o cirurgião dentista Rafael Ayub, 61 anos, que perdeu a esposa na instituição. Ela morreu, segundo ele, por causa de “erro médico” após ser internada em outubro do ano passado.

Sobre os salários pagos aos filhos Betina, João e Rafaela, a nora Daniela e ao genro Fabrício, ele disse que eles “tinham dedicação constante” ao Hospital do Câncer. Enquanto os demais médicos recebiam por produtividade, os parentes de Siufi ganhavam um salário fixo de R$ 12 mil por mês. Ele ainda disse que usava o valor pago pelo PSF (Programa de Saúde Família) como referência para remunerar filhos, nora e genro.

Cirurgião dentista perdeu a esposa no Hospital do Câncer por "erro médico" (Foto: Bruno Chaves)
Cirurgião dentista perdeu a esposa no Hospital do Câncer por "erro médico" (Foto: Bruno Chaves)

Siufi afirmou que não “recebia nenhum centavo” como membro da direção do Conselho Curador. No entanto, o presidente da CPI, deputado Amarildo Cruz (PT), rebateu a “benemerência” do médico, ao mostrar documento da atual direção de que Adalberto Siufi era “remunerado” por ser presidente da instituição. O parlamentar não revelou o salário pago ao ex-dirigente, que caiu após ser denunciado na Operação Sangue Frio, da Polícia Federal.

Equipamento – Adalberto ainda contou uma longa história para justificar a doação de um aparelho de branquioterapia para a Neorad. Começou contando que o equipamento foi discutido com o senador Delcídio do Amaral (PT), durante uma visita ao hospital em 2008.

Na época, o parlamentar se comprometeu a destinar R$ 200 mil para a construção de uma sala para instalar o equipamento. O hospital empenhou R$ 150 mil e fez um empréstimo de R$ 350 mil para comprar o aparelho.

No entanto, após concretizar a compra, o hospital não recebeu o recurso federal e ficou sem sala para a instalação do equipamento. A medida levou o Hospital do Câncer, segundo Siufi, a encaminhar o equipamento para a Neorad, que, por coincidência, é sua empresa. No final, ele disse que o equipamento foi devolvido ao Hospital do Câncer, onde atende 10 pacientes por dia.

Empréstimo – Siufi ainda não justificou porque o hospital recusou a doação de R$ 23 milhões pelo empresário e pecuarista Antônio Moraes dos Santos. Como o empresário desistiu da doação (ele acabou construindo a unidade do Hospital de Barretos no Conjunto Aero Rancho, que deve atender 500 pessoas por dia), o Hospital do Câncer foi obrigado a recorrer a dois empréstimos para dar prosseguimento a obra de ampliação.

Segundo o médico contou à CPI da Saúde, o primeiro financiamento foi de R$ 9,3 milhões. No entanto, após uma vistoria do Crea (Conselho Regional de Engenharia), que apontou risco do teto cirúrgico desabar, ele recorreu a novo financiamento, de R$ 11,7 milhões. O último foi realizado pela administradora do hospital e filha de Siufi, Betina.

Protesto marcou depoimento: Siufi achou que público "foi deselegante" (Foto: Bruno Chaves)
Protesto marcou depoimento: Siufi achou que público "foi deselegante" (Foto: Bruno Chaves)

Glamour – Adalberto Siufi fez um discurso de “salvador” na tarde de hoje na CPI do Câncer. “Minha função era curar”, comentou, ao ser indagado sobre o trabalho como médico e administrador do hospital.

O discurso contraria as denúncias feitas pela Polícia Federal, como a utilização de remédios mais baratos para evitar gasto no tratamento de pacientes com câncer. Também aplicava apenas soro em outros para economizar com a quimioterapia. Ele disse que esta medida só era adotada quando a quimioterapia não era prescrita ao paciente.

Após aparecer na televisão dizendo que os pacientes com câncer poderiam “sofrer mais um pouco” e “espera-lo”, ele disse que os doentes não são prioridade na Capital.

E ainda enalteceu seu papel a frente do Hospital do Câncer. “O hospital perdeu o glamour com a minha saída”, gabou-se, já que foi afastado após ser acusado de fraudar recursos, pagar super salários a familiares, elevar o valor pago a sua clínica em até 70% acima do previsto pelo SUS e de contemplar empresas ligadas aos membros do Conselho Curador.

“Não quero mais voltar”, afirmou, sobre eventual retornoa o hospital. Ele foi afastado pela atual direção do comando e do cargo de médico. Tentou retornar ao corpo clínico por meio de liminar da Justiça, mas o pedido foi negado por um juiz.

Siufi negou manter vínculo com outros envolvidos na máfia do câncer, como o ex-diretor-geral do Hospital Universitário, José Carlos Dorsa, e a reitora da UFMS, Célia Maria de Oliveira. Ele disse que só foi professor de Dorsa, mas que não “mantinha convívio pessoal e social” com o médico.

E ainda justificou a luta para obter um segundo acelerador nuclear para o Hospital do Câncer. O equipamento anterior, de 16 anos, na avaliação de Adalberto, cumpriu o seu papel.

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