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Cidades

Vizinhos não suspeitavam de agressão a criança morta

Redação | 03/03/2010 17:33

Vizinhos da residência onde vivia a menina Rafaela, de três anos, morta no último domingo (28) com sinais de espancamento, garantem nunca ter desconfiado de que a criança sofresse agressões.

A casa da família, na rua Bodoquena, bairro Amambaí, em Campo Grande, está fechada desde a prisão de Renata Dutra de Oliveira, de 22 anos, e de Handerson Cândido Ferreira, de 25 anos, padrasto da criança.

Do lado de fora é possível ver as condições precárias do imóvel, que tem grades nas janelas. Os moradores das proximidades prestaram depoimento nesta manhã na DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente).

Eles afirmam nunca ter visto nada que indicasse que Rafaela sofresse maus-tratos, apenas ouvido a mãe dar "tapas" corretivos na menina. Ao todo, incluindo a noite do flagrante, dez pessoas já foram ouvidas.

Moradora da casa que fica ao lado da que morava Rafaela, a aposentada Jaci Kalif, de 71 anos, diz nunca ter visto nada suspeito. "Eu só escutava ela (Renata) gritar chamando a Rafaela", diz.

Ela conta que a residência onde a mãe da menina morava pertencia aos pais dela, que morreram há alguns anos em um acidente de trânsito. "Ela foi criada sem pai e sem mãe", conta.

Depois disso, ela "sumiu" do bairro, os vizinhos contavam que havia ido para São Paulo. Há seis anos Renata retornou para o local. Desde então passou a ter uma vida considerada normal pelos vizinhos até o último final de semana, quando foi presa após a filha ser morta com sinais de espancamento.

A vizinha se lembra apenas de um episódio considerado "estranho" na casa dos dois. Em fevereiro, a Polícia esteve no local após uma confusão. "Disseram que foi uma briga muito feia e que era para eu avisar se visse alguma coisa", lembra.

Entretanto, nenhuma alteração foi percebida no local antes nem depois desse dia. "A gente não ouvia nem o choro da criança", completa a aposentada.

A vizinha do outro lado da casa da família preferiu não comentar o caso, apenas diz que nunca notou nada suspeito no casal.

Emprego - Na mesma quadra da residência fica a padaria onde Renata passava por experiência há cerca de 30 dias. O proprietário do estabelecimento, de 36 anos, que prefere não ser identificado, e sua esposa prestaram depoimento hoje de manhã.

Ele conta que não conhecia a mulher, que ela se aproximou como cliente e ele a chamou para fazer experiência como atendente na padaria. O horário de trabalho era das 14h às 21h ou das 13h às 20h.

O comerciante afirma que ela desempenhava bem suas funções e tinha ótimo relacionamento com as colegas. A única coisa que chamava atenção é que sempre que pedia para levar algo da padaria dizia que era para o marido, nunca para a menina. "Ela tinha certa adoração por ele. No nome da filha ela nunca tocava", revela.

A versão é confirmada por uma colega de trabalho cujo nome também é preservado. A atendente diz que Renata "endeusava" o marido, mas falava sobre Rafaela apenas quando alguém perguntava e se limitava a dizer que ela estava bem.

De acordo com o proprietário, nos três dias que antecederam a morte da menina, a mãe vinha demonstrando "frieza". Como isso estava se refletindo do atendimento, ela seria demitida na segunda-feira, diz o empregador.

Investigação - A versão dada pelo patrão à Polícia confere com algumas das informações prestadas por Renata quando ela foi presa em flagrante. A mãe contou que estava na padaria às 6h, quando a menina foi levada para a Santa Casa, onde chegou morta.

Entretanto, outros pontos de seu depoimento diferem das informações prestadas pelo patrão à Polícia Civil, explica a delegada responsável pelo caso, Regina Mota.

A acusada informou que não acompanhou o marido e a filha ao hospital porque o patrão não permitiu. Ele diz que isso não ocorreu de jeito nenhum, que ela não foi porque não quis.

Outra informação dada por Renata que difere das testemunhas é a de que a esposa do patrão, que é médica, havia atendido a criança e por isso ela não procurou o hospital. A mulher disse à Polícia que sequer viu Rafaela.

Exame necroscópico deverá indicar o horário em que a criança morreu. A partir daí será possível saber se a versão da mãe é verdadeira.

Além disso, serão ouvidas testemunhas da noite do espancamento, que ainda estão sendo identificadas e localizadas pela Polícia.

Testemunhas informaram, durante depoimento, que Renata trabalhava em uma casa noturna antes de começar a experiência na padaria, e que o padrasto era quem cuidava da criança durante a noite.

Crime - Rafaela morreu na tarde do último domingo (28), com hematomas e sinais de espancamento. A mãe e o padrasto dela permanecem presos.

Duas denúncias de que a menina era espancada foram recebidas pelo Conselho Tutelar apenas no mês passado. Apesar dos hematomas, ela não foi retirada da mãe sob a alegação de que não havia elementos suficientes para isso.

Boletim de ocorrência sobre o caso foi registrado no dia 10 de fevereiro, mas Renata Dutra negou as agressões.

Após a morte de Rafaela, familiares de Handerson contaram à Polícia que já desconfiavam de maus-tratos contra ela. Policiais foram à casa da família e encontraram o local em péssimas condições.

Foram apreendidos objetos que são usados no uso de entorpecentes. Sobre a cama da criança havia um lençol com vômito, e várias faixas sujas de fezes e urina espalhadas pela casa. No local não havia nenhum tipo de alimento.

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