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Em Pauta

As prisões são um negócio e o lucro é das facções criminosas

Mário Sérgio Lorenzetto | 20/10/2016 07:05
As prisões são um negócio e o lucro é das facções criminosas

Um presídio guarda muitas facetas. Guarda a justiça e a vingança. Também guarda os pequenos interesses dos funcionários públicos, dos fornecedores e empreiteiros que as mantém e constroem. Tudo isso é insignificante perto do grande lucro obtido pelas facções criminosas.

Os governos constroem os presídios. Uma vez prontos, há necessidade de alimentar seus residentes -trabalhadores, de custear despesas de suas saúde, de gastar com o bom "salário" que percebem. Sim, ainda que pouco conhecido, inventaram um "Bolsa - Bandido". Um salário que varia de R$1.200 a R$2.000 para cada um "trabalhador-presidiário".

Insisto no uso do termo "trabalhador-presidiário", pois todos trabalham para alguma facção criminosa. O país está dividido em duas grandes "empresas": o PCC, cuja sede está localizada em São Paulo e o CV, com central localizada no Rio de Janeiro. Há uma miríade de outras médias e pequenas "empresas", a terceira maior é a ADA, do Rio de Janeiro que trava guerra (guerra mesmo com tiros e mortes) com o CV. São empresas altamente "saudáveis" do ponto de vista financeiro. Os governos pagam tudo e elas ficam com o lucro.

Há muito criou-se a convicção popular de que os melhores "negócios" do Brasil são os tráficos de drogas e de armas. Ledo engano. O mais lucrativo negócio brasileiro são os presídios. O ódio e a vingança garantem sua perpetuação. Quanto maior o número de presos, maior o número de "trabalhadores- presidiários", e, muito maior, o lucro dos PCC e CV.

Uma nova tese começa a ganhar terreno: mandar os pequenos bandidos para suas casas com tornozeleiras. Parte expressiva da sociedade prefere inverter o raciocínio: matar os grandes criminosos e deixar na cadeia os pequenos. A decisão final (ou válida por pouco tempo) só pensará no sistema da justiça e da vingança. Não pensarão que todos sustentamos essas malditas empresas.

As prisões são um negócio e o lucro é das facções criminosas

Guerra sem fronteira entre facções de criminosos. Veja entrevista de ex-líder do CV ao jornal El País

O jornal espanhol El País acaba de entrevistar o pastor Aldidudima Salles, mais conhecido como "Ligeirinho", quando participou da rumorosa fuga de Escadinha de um presídio carioca usando um helicóptero. Segue trecho da entrevista:

El País - você acha possível que o Comando Vermelho e o PCC retomem seu pacto de aliança?
Resposta - É difícil um acordo a essa altura, a não ser que os chefões tentem controlar isso. Mas é difícil haver um acordo depois das mortes que ocorreram nos presídios de Roraima e Rondônia. Ainda mais naquelas circunstâncias (dia de visita, considerado o mais importante para os presos).

El País - O que pode ter causado o rompimento (entre o PCC e o CV)?
Resposta - Quando aconteceu a morte do rei da fronteira, o Rafaat (Jorge Rafaat Toumani em Pedro Juan Caballero), eu comentei que aquilo não ia dar boa coisa. Ele foi morto pelo PCC e pelo CV. É experiência de ter vivido dentro de uma facção. Eu acho que romperam por luta de poder: o CV não aceita receber ordem. O PCC idem. Então deve ter havido essa separação por um querer mandar mais do que o outro. E, no final de contas, o dinheiro sempre fala mais alto.

El País - O que deve acontecer agora?
Resposta - eu acredito que não vai ficar barato, que vai ter uma guerra. Se o governo federal não colocar o Exército na rua, não vai ter jeito. Só as polícias, civil e militar, não dão conta de lidar com duas facções desse porte, com esse tipo de armamento que eles têm. E muita gente vai morrer.

A entrevista completa pode ser lida no seguinte endereço eletrônico: brasil.elpais.com

As prisões são um negócio e o lucro é das facções criminosas

Ruptura entre PCC e CV pode dinamitar presídios e a batalha chegar às ruas

É provável que tudo não passe de exageros. Mas não se pode duvidar das autoridades de Rondônia e Roraima que atribuíram 18 mortes nos últimos dias ao rompimento de uma aliança de muitos anos entre as duas grandes facções que comandam o crime.

As informações, como sempre,são escassas e tendenciosas (para conquistar manchetes). Mas está claro que houve uma ruptura entre o PCC e o CV. Pelo menos nos dois Estados nortistas.

Também não se pode menosprezar o tipo de organização do PCC e do CV. O primeiro, tem organização centralizada em São Paulo. Uma ordem de seu chefões paulistas é imediatamente cumprida em qualquer Estado. Já o CV funciona em franquia. Concede poderes para médias e pequenas organizações de criminosos em muitos Estados. O PCC, indubitavelmente, até há pouco tempo, dominava os presídios do Mato Grosso do Sul. Mas o assassinato de Rafaat colocou essa disputa dentro e nas imediações de nossas fronteiras. Bagunçou a empresa criminosa.

Desde julho há notícias de acirramento dessa disputa por dinheiro e poder. Mas o aumento de tensões não havia resultado em mortes. As autoridades acreditavam que PCC e CV estavam trabalhando pela paz. O crédito era lhes dado pela costura que as duas organizações de criminosos fizeram no Rio Grande do Norte e no Ceará. Foram responsáveis diretas pela paz. A morte de Rafaat pôs tudo a perder.

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